Se fosse um 4 de fevereiro de outro ano qualquer, Zeca Pagodinho estaria comemorando seu aniversário como gosta: em festa nas rodas de samba, bebendo, cantando e se divertindo com a casa cheia de amigos de todos os cantos. A pandemia, porém, fez com que o sambista mais festeiro do Rio se resguardasse neste momento. Há nove meses em quarentena com a família no seu sítio em Xerém, na Baixada, ele celebra seus 62 anos com mais calma, dividindo a data com o filho Louisinho, que faz 32 nesta quinta-feira também.
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— Não vou receber ninguém. Não dá. Fico aqui com os netos, com os filhos e as filhas. Mas quem fez uma festa de 60 anos como eu fiz pode ficar dez anos sem fazer — destaca Zeca.
Sem os palcos, a gravadora Universal Music resolveu disponibilizar hoje uma série de vídeos como presente para o cantor — e para o público! São gravações de um show de 1999 que originou o disco e DVD “Zeca Pagodinho - Ao vivo” e serão lançadas semanalmente em aplicativos de streaming como YouTube Music e Amazon Music, entre outros. O espetáculo foi gravado no palco do Canecão, antológica casa de shows de Botafogo, na Zona Sul, que fechou em 2010, depois de uma longa disputa judicial.
— O Canecão era tão bacana. Fiquei com tanto medo de ir para lá, achando que não ia dar público, que meu público era só do subúrbio. Mas teve dia com fila na porta! E eu não queria fazer o show, dizia: “Rapaz, ninguém me conhece lá” — conta Zeca, que não esconde a saudade em tom de cobrança: — Cadê o Canecão? Fechou e não cuidaram de nada. Até a localização dele é legal, com aqueles bares... Quando acabava, a gente ia beber por ali.
Saudade, aliás, é a palavra que define o momento de Zeca, que não vê a hora de voltar à sua rotina habitual: ir à gravadora, passar no salão de beleza para cortar o cabelo ou fazer as unhas e passear pelo shopping.
— Tô doido para tudo isso acabar. Vou acompanhando a vacinação. Só se fala nisso, né? Mas para a minha idade nem se falou em data ainda — lamenta o sambista, que, mesmo cumprindo rigorosamente a quarentena, entende que a situação não é tão simples para todo mundo como é para ele: — Essa doença não deveria ter chegado ao Brasil. Tem casa em que moram oito pessoas, com um banheiro. Como é que vai distanciar? Como é que ficam as favelas? Não tem como distanciar no BRT ou no trem.
A reclusão não tem sido produtiva para o cantor. Sem viver sua vida normal, ele diz ser impossível encontrar inspiração.
— Não vejo nada. O que eu vou ter para falar nas músicas? Preciso do contato — explica.
Os fãs, no entanto, podem esperar novidades vindas diretamente do passado. Nos primeiros meses da pandemia, Zeca descobriu três cadernos antigos por iniciativa da cantora Teresa Cristina, que andava pesquisando sua carreira. Neles, foram encontradas letras antigas dele que nunca tinham sido musicadas. Agora, a ideia de Zeca é dar um futuro a todo esse material:
— Quando eu for vacinado, vou ver parceiros para musicar. Tô na intenção do meu compadre Arlindo Cruz voltar para a gente fazer isso juntos. Mas também quero levar para o Jorge Aragão e um bocado de gente. Outros que nem trabalharam comigo ainda vão querer mexer também.
Os cadernos, inclusive, são guardados em um cofre cheio dos seus “tesouros”. Lá, ele tem discos de artistas variados, como Odair José, Velha Guarda da Portela e Martinho da Vila.
— Quando eu quero escutar, eu tiro do cofre, escuto e boto de volta. Tem até DVD dos Trapalhões lá — orgulha-se.
Enquanto isso tudo não acaba, como ele (e tanta gente) deseja, Zeca passa os dias vendo reprises das novelas no canal Viva.
— Sou fã das novelas antigas. Das novas, eu não gosto. Quero ver os artistas antigos que a gente não vê mais. Gosto de ver a “Escolinha do Professor Raimundo” também — conta ele, que aproveita para fazer um pedido como aniversariante do dia: — Quero “O Bem-Amado” de volta à TV. Aquilo é que era curtição. Ou então “Amor com o amor se paga”, que tinha o Nonô Correia, personagem do Ary Fontoura.
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