O vídeo gravado por um pai de uma criança com Transtorno do Espectro Autismo (TEA), publicado no domingo, 21, mostra a reação do menino que, aos gritos, se desesperou com o barulho provocado pelas explosões de fogos de artifício, durante um comício. A filmagem rapidamente ganhou as redes sociais e levantou o debate sobre o uso dos artefatos durante as comemorações, e principalmente em meio ao período eleitoral. O menino estava em casa com a família, no bairro de Jatiúca, em Maceió.
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Nas imagens, Cristiano Calheiros Barbosa mostra o áudio do filho, o pequeno Lucas de apenas 7 anos de idade, no momento em que dispararam os fogos durante a passagem de um candidato nas eleições de 2022, junto com os apoiadores, na capital alagoana. Em seguida, o pai fez um questionamento sobre a necessidade do foguetório, que segundo ele, prejudica as pessoas com maior sensibilidade, além de animais de estimação.
"Isso aí é resultado de uma crise que meu filho autista, de 7 anos de idade, teve a partir de fogos de artifício de uma campanha eleitoral. Você, político, acha que uma criança autista merece estar sofrendo desta forma? Para passar por essa situação? Você acha que a família encara você uma pessoa que luta pela sociedade?", indagou.
Veja o vídeo:
Em entrevista ao TNH1, na tarde desta segunda-feira, Cristiano contou que episódios como esse aconteceram mais de uma vez durante a semana passada e que, em todos eles, precisou passar horas com a criança para tentar acalmá-la. Em uma das situações, o pai usou o celular para gravar a reação de Lucas, o caçula da família.
"Cheguei em casa, tinha pego meus filhos na escola, e quando estava me preparando para comer com eles, começou o foguetório. A minha reação foi tentar acalmar meu filho, nesse tempo usei 20 segundos para gravar o Lucas. Isso porque depois desci e mostrei o áudio ao comitê do candidato que fazia a campanha para que eles parassem. Isso foi na quarta-feira, e eles atenderam. Mas aí aconteceram mais três episódios semelhantes até o domingo, com candidatos diferentes, porque minha intenção nem é acusar A ou B. Foi aí que, dias depois, resolvi gravar o vídeo com o áudio dele e publicar".
"Meu filho se bate, grita, agride os outros. É a reação natural dele. Ele fica desnorteado, o coração quase sai pela boca. E para pará-lo... Para parar uma criança autista não é tão simples. É muito difícil trazer ela de volta, isso demora, leva mais de uma hora, duas ou até três. É muito triste", acrescentou Cristiano.
O pai comentou que a intenção da publicação do vídeo foi chamar a atenção da população e de órgãos responsáveis para coibir o uso do artefato com efeitos sonoros. "Fiquei revoltado com a situação. Todos os dias o mesmo barulho. Foi uma maneira de tentar chamar a atenção da população, das instituições, dos candidatos, para que isso acabe. Alguma medida tem que ser tomada. Após a divulgação, recebi informações de que projetos de lei correm na Assembleia Legislativa e na Câmara de Maceió, para acabar com o som dos fogos", destacou.
Cristiano também explicou que recebeu muitas mensagens na internet e agradeceu a solidariedade do público. "Recebi um retorno muito bom. Muitas pessoas vieram falar comigo e disseram que passam a mesma situação, seja com crianças autistas, ou com bebês, ou com idosos, com animais também. Isso incomoda a gente, imagina quem tem maior sensibilidade auditiva. Conheço donos de pet que perderam seus animais após o barulho dos fogos de artifício".
Lucas tem duas irmãs e é o caçula da família. O menino divide o mesmo gosto do pai por futebol e ambos são torcedores do Flamengo. Nas redes sociais, Cristiano costuma compartilhar vídeos em momentos de descontração com o pequeno, como o uso de filtros do Instagram e brincadeiras como coreografias de dancinhas do TikTok.
Projeto de Lei na Câmara Municipal - De autoria da vereadora Teca Nelma, um Projeto de Lei (PL) segue em apreciação na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) e, em caso de aprovação, deve entrar em pauta na Câmara Municipal de Maceió.
No artigo 1º do PL, há o pedido de proibição da fabricação, do comércio, do transporte, do manuseio e do uso de fogos de artifício de estampido e de outro qualquer artefato pirotécnico que produza estampidos. A proibição se aplicaria a recintos fechados e ambientes abertos, em áreas públicas ou locais privados. Não está inserido no pedido de proibição, no entanto, os fogos de artifício ou artefatos pirotécnicos que produzem efeitos visuais sem estampido.
O que diz o TRE-AL - Por lei, não há proibição do uso de fogos de artifício durante o período eleitoral. O Tribunal Regional Eleitoral de Alagoas (TRE-AL), no entanto, informou que uma reunião com desembargadores eleitorais e representantes da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional Alagoas (OAB-AL) foi realizada nesta segunda-feira, para tratar sobre o assunto.
As entidades e a OAB-AL devem encaminhar um ofício à presidência do TRE-AL e Corregedoria para a recomendação de fogos de artifício sem estampido. Após formalização, o Tribunal deve enviar as orientações aos partidos e aos candidatos ainda nestas eleições.
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