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Veja quais foram as últimas palavras da tripulação do submersível Titan antes da implosão

BBC News | 17/09/24 - 14h51
Foto: Reprodução/US Coast Guard

As últimas palavras ouvidas da tripulação de cinco pessoas do submersível Titan foram "tudo bem aqui" antes que a embarcação implodisse nas profundezas do oceano e matasse a todos a bordo, revelou uma audiência sobre o acidente.

Investigadores da Guarda Costeira dos Estados Unidos disseram que a mensagem estava entre as comunicações finais entre o Titan e o navio que acompanhava a expedição antes de o contato entre as embarcações ser perdido.

O submersível de águas profundas estava a caminho do naufrágio do Titanic em junho de 2023 quando implodiu menos de duas horas após começar a descida.

Autoridades da Guarda Costeira iniciaram um inquérito de quinze dias na segunda-feira (16/9) que "visa descobrir os fatos em torno do incidente e desenvolver recomendações para evitar tragédias semelhantes no futuro".

É a primeira fase pública de uma investigação que começou há 15 meses em um acidente que desencadeou esforços internacionais de busca e resgate.

Perguntas sem resposta sobre o mergulho malfadado do Titan alimentaram um debate persistente sobre segurança e regulamentação no mundo da exploração submarina privada.

A OceanGate, fabricante americana por trás da embarcação, enfrentou questionamentos sobre suas escolhas de design, seu histórico de segurança e sua adesão aos regulamentos.

Cerca de dez ex-funcionários da OceanGate, incluindo o cofundador Guillermo Sohnlein, e especialistas em segurança marítima e exploração submarina, devem prestar testemunho nas próximas duas semanas perante o Conselho Marítimo de Investigações (MBI, na sigla em inglês) da Guarda Costeira.

O MBI é a mais alta instância de investigação sobre acidentes marítimos com vítimas dos Estados Unidos e convoca aproximadamente uma audiência por ano, disse seu presidente a repórteres no domingo (15/9).

"De milhares de investigações conduzidas, poucas chegam a esse nível", disse Jason Neubauer, da Guarda Costeira.

"Não há palavras capazes de aliviar a perda sofrida pelas famílias impactadas por este trágico incidente", acrescentou Neubauer.

"Mas esperamos que esta audiência ajude a esclarecer a causa da tragédia e a evitar que algo assim aconteça novamente."

O conselho, que é composto por altos funcionários da Guarda Costeira e do Conselho Nacional de Segurança nos Transportes (NTSB, na sigla em inglês), tem autoridade para recomendar penalidades civis ou fazer os encaminhamentos necessários para um processo criminal pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos.

Uma extensa missão de busca e resgate envolvendo quatro governos se desenrolou depois que o submersível perdeu contato com o navio Polar Prince na manhã de 18 de junho de 2023 e nunca mais emergiu.

A bordo estavam o fundador e presidente da OceanGate, Stockton Rush, o explorador britânico Hamish Harding, o veterano mergulhador francês Paul Henri Nargeolet, o empresário britânico-paquistanês Shahzada Dawood e seu filho Suleman, de 19 anos.

'Implosão catastrófica'

Os destroços contendo "supostos restos mortais humanos" foram recuperados nos dias seguintes, quando as autoridades concluíram que o Titan havia sofrido uma "implosão catastrófica", entrando em colapso sob imensa pressão.

A audiência de segunda-feira começou com um minuto de silêncio pelas vítimas antes que os investigadores apresentassem uma recriação visual de sua jornada final.

A animação detalhou as mensagens de texto trocadas entre o Titan e o Polar Prince.

O submersível começou seu mergulho às 9h17 no horário local, e a equipe de apoio a bordo do navio mãe perguntou sobre a profundidade e o peso do submersível, bem como se ainda conseguia ver o navio em seu visor de bordo.

As comunicações eram irregulares, mas, cerca de uma hora após o início do mergulho, o Titan enviou uma mensagem que dizia "tudo bem aqui".

Sua última mensagem foi enviada às 10h47 no horário local — a uma profundidade de 3.346 metros — para dizer que havia lançado dois pesos. Depois disso, a comunicação foi perdida.

Também foi mostrada na segunda-feira pela primeira vez uma imagem, feita por um veículo operado remotamente, do cone da cauda do Titan no fundo do mar após sua implosão.

As autoridades apresentaram uma visão geral histórica do Titan, observando que seu casco nunca foi submetido a testes de terceiros e foi deixado exposto ao clima e outros elementos enquanto estava armazenado.

Além disso, eles expuseram sérios problemas enfrentados pelo submersível em expedições realizadas antes do desastre.

Em 2021 e 2022, ao longo de 13 mergulhos no Titanic, ele teve 118 problemas de envolvendo equipamentos.

Isso incluiu a cúpula frontal do submarino que caiu quando ele foi retirado do mar, a falha de seus propulsores a 3.500 metros de profundidade e, em um mergulho, a interrupção do funcionamento de suas baterias, o que deixou passageiros presos em seu interior por 27 horas.

Tony Nissen, ex-diretor de engenharia da empresa, disse que as evidências que viu foram "perturbadoras" para ele "profissionalmente e pessoalmente".

Nissen afirmou que Rush, o falecido presidente da OceanGate, era pessoa que considerava alguém com quem era difícil de trabalhar.

"Stockton lutava pelo que queria e, mesmo que mudasse de ideia um dia para o outro, ele não cedia um centímetro", disse ele.

"A maioria das pessoas acabava cedendo ao que Stockton queria."

A OceanGate suspendeu todas as operações comerciais e de exploração após o incidente.

A empresa atualmente não tem funcionários em tempo integral, mas está cooperando com os investigadores e será representada por um advogado nas audiências do MBI.

Uma série de inquéritos públicos em North Charleston, na Carolina do Sul, investigará "todos os aspectos do acidente envolvendo o Titan", incluindo "eventos prévios ao acidente, conformidade regulatória, deveres e qualificações dos tripulantes, sistemas mecânicos e estruturais, resposta a emergências e a indústria de submersíveis".

Audiências adicionais ainda podem ser agendadas em uma investigação que foi inicialmente programada para durar cerca de um ano.

Assim que a investigação for concluída, tanto a Guarda Costeira quanto o NTSB produzirão relatórios com análises independentes.