O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Sergio Moro prestou depoimento de mais de oito horas neste sábado (2) na Superintendência da Polícia Federal (PF), em Curitiba.
Ele foi questionado sobre as acusações de que o presidente Jair Bolsonaro tentou interferir no trabalho da PF e em inquéritos relacionados a familiares. As acusações foram feitas pelo ex-ministro quando ele anunciou sua saída do governo, em 24 de abril.
No depoimento, Moro disse que:
- o presidente Jair Bolsonaro pediu em fevereiro, por mensagem de celular, para indicar um novo superintendente para a Polícia Federal no Rio de Janeiro. A mensagem, segundo o relatório do depoimento, "tinha ou menos o seguinte teor": "Moro você tem 27 Superintendências, eu quero apenas uma, a do Rio de Janeiro'".
- a mensagem de celular na qual Bolsonaro teria pedido para ele próprio indicar o superintendente da PF no Rio foi enviada pelo presidente no começo de março, quando o então ministro e o então diretor-geral da PF, Maurício Valeixo, estavam em missão oficial nos Estados Unidos.
- não assinou a exoneração de Valeixo e nem recebeu qualquer pedido escrito ou formal de exoneração do então diretor da PF; o "Diário Oficial da União" com o documento foi publicado na madrugada de 24 de abril originalmente com assinatura assinado por Bolsonaro e Moro, mas depois o governo publicou uma edição corrigida.
- não acusou o presidente de crime e que isso cabe aos investigadores (o ex-ministro disse isso diversas vezes durante depoimento) e que quem falou em crime foi a Procuradoria-Geral da República ao pedir a abertura do inquérito.
- a PF de Minas Gerais "fez um amplo trabalho de investigação" com relação à facada que Bolsonaro levou durante a campanha eleitoral, em setembro de 2018, em Juiz de Fora e que "isso foi mostrado ao Presidente ainda no primeiro semestre do ano de 2019, numa reunião ocorrida no Palácio do Planalto". Na reunião, segundo Moro, Bolsonaro "não apresentou qualquer contrariedade em relação ao que lhe foi apresentado".
- não houve interferência do Ministério da Justiça Moro na investigação do caso Adélio. Neste ponto, Moro rebateu algumas das afirmações feitas por Bolsonaro após o ministro anunciar que deixaria o cargo, quando o presidente citou que pediu a troca do superintendente da PF no Rio em razão da "questão do porteiro, do caso Adélio" e de citações a Jair Renan Bolsonaro, filho do presidente, em uma investigação.
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O depoimento do ex-ministro foi motivado por inquérito aberto pelo ministro Celso de Mello, do Supremo Tribunal Federal (STF), a pedido da Procuradoria Geral da República, a fim de apurar se Bolsonaro tentou interferir politicamente na Polícia Federal.
Essa suposta interferência foi a razão apontada por Moro em pronunciamento para ter deixado governo. O ex-ministro fez esse anúncio quando o "Diário Oficial da União" publicou a exoneração do diretor-geral da Polícia Federal, delegado Mauricio Valeixo. Segundo o ex-ministro, ele não tomou conhecimento prévio da demissão do diretor.
O depoimento deste sábado foi colhido presencialmente por delegados da PF e acompanhado pelos procuradores que tiveram autorização do ministro do STF. São eles: João Paulo Lordelo Guimarães Tavares, Antonio Morimoto e Hebert Reis Mesquita.