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Veja como Polícia Civil descobriu o esquema do 'ticket alimentação milionário'

TNH1 com TV Pajuçara | 26/06/24 - 16h43
Operação 'Oplatek' mirou servidora da própria corporação e familiares dela | Polícia Civil

A servidora pública, agente da Polícia Civil de Alagoas (PC-AL), presa nessa terça-feira, 25, na 'Operação Oplatek', era a responsável direta pelo lançamento final dos benefícios de ticket alimentação dos colegas de trabalho na corporação. Segundo os delegados, desde 2014 cerca de R$ 7,5 milhões foram desviados do Estado de Alagoas no pagamento do ticket para a agente e os familiares dela, dos quais dois são sargentos da Polícia Militar. 

Em entrevista coletiva nesta quarta-feira, 26, os delegados Sidney Tenório, João Marcello e Igor Diego, que coordenam a Diretoria de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado (DRACCO), detalharam como o esquema foi descoberto. 

"Os delegados mandavam a lista de alimentação, a Delegacia-Geral da Polícia Civil (onde a agente era lotada) fazia a análise e, no momento final, ela era a única pessoa que tinha o poder de inserir os nomes. Então, após o controle interno por parte dos gestores, ela no momento final lançava os nomes. Por isso que passou tanto tempo. Somente com o cruzamento de dados e a modernização dos nossos sistemas da Polícia Civil e da Secretaria da Fazenda do Estado foi possível identificar a fraude", informou Tenório. 

A investigação aponta que a agente é suspeita de desviar os valores referentes ao ticket alimentação há dez anos, desde 2014. 

"Ela confessou. Assumiu que desde 2014 verificou que existia essa possibilidade de cadastrar os parentes dela. Ela os cadastrou e, inicialmente, eles recebiam os valores normais de qualquer servidor da PC. No entanto, ela foi ganhando confiança com o passar dos anos sem que essa prática tenha sido descoberta. E a partir de 2019/2020, ela passou a aumentar esses valores a tal ponto de que, em 2024, cada parente estava recebendo cerca de R$ 40 mil", afirmou Igor Diego. 

As autoridades confirmaram que a servidora está afastada das funções na Delegacia-Geral após a prisão. 

"Nesses 10 anos, ela era a única responsável final por fazer o lançamento desse pagamento. E ela era a pessoa de total confiança, não existe nenhum servidor da PC ou qualquer outro servidor que estivesse recebendo, salvo os próprios parentes dela. Ela agiu sozinha e vai ser responsabilizada no rigor que manda a lei. Infelizmente, uma pessoa de dentro da PC fez essa conduta. Não nos resta outro caminho a não ser investigar com total imparcialidade para divulgarmos para a sociedade o que de fato aconteceu. Mas não identificamos nenhum outro servidor da PC que tenha participado de qualquer conduta dessa natureza", ressaltou Diego. 

R$ 1 milhão em poucos meses - Somente em cinco meses de 2024, esses valores desviados chegavam a aproximadamente R$ 1 milhão, disseram os delegados. 

"Os valores de verba de alimentação de cada servidor da PC (delegado, escrivão e agente) é abaixo de mil reais. No entanto, ela não colocava esses valores. Cada parente dela estava recebendo mensalmente mais de R$ 40 mil. Por isso que nos cinco meses tivemos desfalques de cerca de R$ 1 milhão", confirmou Igor Diego.

Esquema de policiais - A família suspeita de comandar o esquema reside em Maceió (AL) e Colônia de Leopoldina (AL). Os suspeitos irão responder pelos crimes de organização criminosa, peculato, desvio de recursos públicos, lavagem de dinheiro e inserção de dados falsos em sistema de informação. Juntas, as penas podem ultrapassar 44 anos de prisão.

"As outras pessoas são familiares dela. Além do marido, que é PM, o irmão é PM também, estão presos. A irmã também recebia esses valores e é estagiária do Ministério Público da comarca de Marechal Deodoro. Tão logo fizemos a operação, o MPAL deu total apoio para que acontecesse essa operação também. Essas pessoas infelizmente receberam esses valores, importante dizer que a PC sofreu um desfalque de R$ 7,5 milhões de 2014 para cá. Nosso trabalho é resgatar todo esse patrimônio para que o erário público seja ressarcido. A PC não coaduna com qualquer tipo de irregularidade", reforçou Igor Diego.  

Padrão "altíssimo" de vida - Nesta manhã, agentes da PC apreenderam quatros veículos Jeeps, totalizando cerca de um milhão de reais só em automóveis, além de joias. Com o avançar da investigação, a Polícia Civil vai pedir o bloqueio total dos bens dos envolvidos.

"Houve uma evolução patrimonial muito grande por parte dos familiares. Alguns deles andavam com carros de luxo avaliados em R$ 200 mil. Apartamentos na área nobre de Maceió. Inclusive, ela mora em um apartamento de alto padrão entre os bairros de Jatiúca e Ponta Verde. Entramos no apartamento e o padrão dos móveis é altíssimo. Várias jóias foram apreendidas, é bom deixar claro. Quando levantamos o bicama, havia várias caixas de uma joalheria bastante famosa no Brasil inteiro. Terrenos na Barra de São Miguel e São Miguel dos Milagres. A família inteira vinha vivendo um padrão altíssimo às custas, infelizmente, do erário", contou Sidney Tenório.

A Polícia Civil intitulou a operação de 'Oplatek'. “Em referência a tradição milenar polonesa de dividir o pão (alimento sagrado) entre os integrantes da mesma família, como forma de fortalecer os laços familiares, o que de certa forma vinha sendo feito pelos integrantes da organização criminosa”, falou a PC. Os mandados foram expedidos pela 17ª Vara Criminal da Capital.