Os casos de coqueluche dispararam em 2024, com um aumento superior a 1.000%, ou seja, 10 vezes, em todo o Brasil. Segundo o Ministério da Saúde (MS), foram registrados 5.987 casos no país, sendo 1.034 em recém-nascidos. Em São Paulo, o crescimento foi ainda mais alarmante: um salto de 3.436%, com 831 casos confirmados. O estado ficou atrás apenas do Paraná (1.229 casos).
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A coqueluche é uma infecção respiratória grave causada pela bactéria Bordetella pertussis. Altamente contagiosa, ela se transmite por gotículas de saliva e é especialmente perigosa para bebês de até um ano. “Em recém-nascidos, a resistência aos sintomas é menor. Além da tosse intensa, a doença pode causar parada respiratória, convulsões, vômitos e desidratação”, explica Fabíola La Torre, coordenadora do pronto-socorro infantil do Hospital e Maternidade São Luiz Osasco, da Rede D’Or.
A principal causa do atual surto é a baixa cobertura vacinal. “A vacinação durante a gravidez protege os recém-nascidos, reduzindo os riscos de contágio. Além disso, a falta de acesso a exames laboratoriais de biologia molecular dificulta o diagnóstico e o controle da doença”, acrescenta Fabíola La Torre.
Outro problema é a ausência de doses de reforço para adolescentes, algo comum em países da União Europeia e nos Estados Unidos. “No Brasil, o Programa Nacional e Imunização prevê a aplicação da vacina apenas em crianças de 0 a 4 anos. Sem reforços, adolescentes ficam mais vulneráveis, aumentando o risco de transmissão, principalmente se tiverem condições como imunidade baixa, asma ou bronquite”, explica a médica.
No Sistema Único de Saúde (SUS), além das crianças, a vacina da coqueluche também é aplicada em gestantes, profissionais da saúde e trabalhadores com contato direto com recém-nascidos.
O período de incubação do vírus da coqueluche varia entre cinco e dez dias. Os primeiros sintomas incluem febre baixa, mal-estar, coriza e tosse seca, que se intensifica com o tempo. A fase mais grave envolve episódios de tosse intensa, chamados de crises paroxísticas, que podem durar semanas e acontecem principalmente à noite.
“Nos bebês, as crises podem levar à apneia, vômitos e até risco de morte. Durante os acessos de tosse, a pessoa tem dificuldade para respirar, podendo apresentar congestão, lacrimejamento e secreção abundante”, explica Flaubert Serra de Farias, infectologista pediátrico do São Luiz Osasco.
A frequência e intensidade das crises crescem nas duas primeiras semanas e tendem a diminuir gradativamente se for realizado o tratamento adequado, levando o paciente à fase convalescente, ou de recuperação, que pode durar meses. “Nesse estágio, as crises diminuem, mas é preciso ter atenção a outras complicações, sendo imperativo o acompanhamento médico”, alerta o infectologista.
O diagnóstico da coqueluche é feito com exames clínicos e laboratoriais. O tratamento mais comum é à base de antibióticos. Além disso, pessoas próximas ao paciente (contactantes) devem receber profilaxia, que inclui vacinas, medicação, uso de máscaras e cuidados de higiene.
“As vacinas contra a coqueluche estão disponíveis tanto na rede pública quanto na privada. Manter a vacinação em dia é a melhor forma de prevenir a doença. Além disso, ao identificar sintomas, como a tosse, é importante buscar atendimento e orientação médica”, reforça Flaubert Serra de Farias.
Por Samara Meni
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