Nesta semana estreou “Vale Tudo”, na TV Globo, e a novela resgata uma pergunta que atravessa gerações no Brasil: até onde você iria para vencer na vida? O dilema vivido pelas personagens Raquel e Maria de Fátima, mãe e filha com visões opostas sobre sucesso e honestidade, não é apenas ficção. Ele acontece, em silêncio ou em altos gritos, dentro de muitas casas por aí.
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Raquel acredita na força do trabalho, na dignidade, na ética. É a típica mãe brasileira que acorda cedo, enfrenta a vida de cabeça erguida e sonha com um futuro melhor para os filhos, mas sem abrir mão dos valores. Já Maria de Fátima é o retrato de uma juventude marcada pela pressa, pela pressão de vencer a qualquer custo, pelo desejo de romper com a simplicidade da origem, mesmo que para isso precise “dar um jeitinho”.
Como psicóloga clínica, vejo esse embate com frequência no consultório. Por trás dessas diferenças está uma questão muito maior: a formação do nosso caráter. A forma como lidamos com frustrações, como enfrentamos as dores da vida e como escolhemos reagir às injustiças que vivemos é o que molda quem somos.
A Terapia Cognitivo-Comportamental nos ensina que nossas crenças centrais, muitas vezes construídas na infância, determinam nossos pensamentos, emoções e comportamentos. Uma mãe que transmite valores de ética e honestidade pode ter uma filha que, ainda assim, internaliza crenças como: “se eu não me aproveitar das oportunidades, serei passada para trás”. E isso não é sinal de falha materna, é sinal de que o mundo lá fora também educa e, às vezes, de forma distorcida.
Com o Dia das Mães se aproximando, essa história toca fundo. Quantas mães já se perguntaram se estão fazendo o suficiente? Se os filhos vão valorizar o que aprenderam em casa? E quantas filhas se veem pressionadas a corresponder a um ideal, esquecendo de olhar para dentro e refletir: de onde vem essa urgência? O que eu realmente quero conquistar? E a que custo?
Vale tudo? Não. Porque, no fim, o verdadeiro sucesso é aquele que a gente consegue sustentar com a cabeça tranquila no travesseiro; e isso mãe nenhuma pode conquistar pela filha, mas pode, sim, ensinar pelo exemplo.
Por Tatiane Paula Souza, psicóloga clínica (TCC)
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