Urano é um planeta bem triste e solitário. Apesar de ter sido descoberto em 1781, ele não foi visitado até 1986, quando a sonda Voyager 2 realizou o único sobrevoo sobre o planeta. É uma pena que não tenhamos voltado lá, porque Urano é verdadeiramente fascinante. Além de ser um dos planetas mais gelados no nosso Sistema Solar, com temperaturas chegando a -224 ºC, ele é compreendido por duas séries de anéis negros e cercado por 27 luas, todas com nomes inspirados em personagens de Shakespeare. Para um planeta tão grande, Urano permanece esquecido, e é por isso que agora é a hora perfeita de fazer uma viagem para lá.
LEIA TAMBÉM
Algumas pessoas já estão planejando isso. Na semana passada, na 48ª Conferência de Ciência Lunar e Planetária em Woodlands, no Texas, uma equipe de pesquisadores apresentaram um pôster detalhando um conceito de uma missão que orbitaria Urano, batizada de “OCEANUS”. A equipe, liderada por Ali M. Branson da Universidade do Arizona, propõe que a NASA lance uma sonda espacial em 2030 que chegaria ao planeta em 2041, depois de duas assistências gravitacionais de Vênus e outra da Terra. A sonda estudaria o núcleo rochoso de Urano, bem como sua magnetosfera incomum e desequilibrada. Apenas Netuno tem um campo magnético tão desequilibrado.
“A necessidade de explorar os gigantes de gelo é imperativa – é a classe de planetas menos explorada”, escreveu a equipe em seu pôster. “A estrutura e composição desses planetas diferem significativamente de gigantes de gás [como Júpiter e Saturno]. Modelos interiores atuais discordam com os modelos da formação do sistema solar sobre o tamanho esperado do núcleo. Os campos magnéticos únicos e a geração de dínamo não foram bem caracterizadas”.
Resumindo, nós não sabemos praticamente nada sobre os gigantes de gelo – planetas compostos principalmente por oxigênio, carbono, nitrogênio e enxofre – apesar de termos dois em nosso Sistema Solar, Urano e Netuno.
Uma missão para Urano não iria apenas respondem algumas grandes questões sobre os gigantes de gelo, iria ajudar a aumentar o perfil público desses planetas ignorados por muito tempo, segundo Amara Graps, cientistas sênior no Planetary Science Institute.
“Na minha opinião, a resposta mais simples sobre o porquê Urano é ignorado [na mídia] é o fato de não tem havido missões espaciais desde o Voyager 2. Eu estive na JPL durante os meses em que esse encontro aconteceu: 24 de janeiro de 1986. No entanto, o encontro especial com Urano foi eclipsado mesmo naquele tempo”, disse ela ao Gizmodo.
Isso porque quatro dias depois, aconteceu o acidente do ônibus espacial Challenger, em que o ônibus explodiu 73 segundos depois do lançamento, matando os sete tripulantes. A tragédia chamou a atenção do público, ofuscando algumas das conquistas da Voyager 2.
“Todos cientistas experimentaram essa montanha russa emocional também. Naquele dia, nós estamos animados sobre os últimos resultados da Voyager, e depois ao assistir o lançamento e explosão da Challenger na NASA TV, ficamos entorpecidos pela dor. A imprensa registrou os dois eventos, mas o Urano acabou não tendo um dia inteiro nos olhos do público”.
Neste momento, é Marte quem está em voga: todo mundo, de Buzz Aldrin a Elon Musk, está pensando em realizar missões tripuladas para lá nas próximas décadas. Musk quer, inclusive, construir uma colônia no Planeta Vermelho. Mas não é porque não podemos viver em planetas como Urano que não devemos tentar entendê-lo melhor.
LEIA MAIS
+Lidas