Os desencontros do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP/AL), ganharam um efeito prático com a exoneração, pelo presidente Lula (PT), de César Lira, primo do parlamentar, do cargo de Superintendente Regional do Incra em Alagoas.
LEIA TAMBÉM
O ato foi publicado na edição desta terça-feira do Diário Oficial da União.
César Lira dirigia o Incra aqui no Estado por nomeação do ex-presidente Michel Temer.
O impasse Lula-Lira é assunto abordado pelo jornalista Carlos Graieb:
“Arthur Lira está fulo da vida com o Palácio do Planalto. Eu tenho uma sugestão para fazer ao presidente da Câmara. Uma ideia de vingança contra o governo Lula.
Mas vamos primeiro traçar o cenário.
Lira quer emplacar o deputado Elmar Nascimento (União-BA) como seu sucessor no comando da Câmara. Nesta semana, a campanha passava por uma aproximação com os bolsonaristas.
Lira e Elmar prometeram apoio no seguinte enredo: livrar da prisão provisória Chiquinho Brazão (União-RJ), acusado de ordenar o assassinato da vereadora Marielle Franco, para mandar ao STF um recado sobre a necessidade de conter-se diante das prerrogativas dos parlamentares; em seguida, encaminhar a cassação do deputado fluminense, para mostrar que o propósito não era simplesmente deixá-lo impune.
Na quarta-feira, Brazão foi mantido na cadeia com o voto de 277 deputados, 20 a mais que o necessário.
Lira atribuiu a derrota à movimentação do petista Alexandre Padilha, ministro das Relações Institucionais. Os dois já não se bicavam. Depois do episódio, Lira disse em público que o ministro é ‘incompetente’ e seu ‘desafeto pessoal’. Também deixou subentendido que o governo pode enfrentar dificuldades na Câmara nos próximos tempos.
Há várias possibilidades na mesa. Por exemplo, derrubar um veto imposto por Lula ao pagamento de emendas parlamentares. A matéria deve ser apreciada brevemente pelos deputados.
Faço a seguinte ponderação ao presidente da Câmara: isso equivale a empunhar a garrucha num filme de cangaceiro. É o poder local guerreando com o poder federal para gastar um dinheiro que o Brasil não tem.
Chego à minha sugestão.
Lula anunciou a abertura de 6.640 novas vagas no funcionalismo. Ele também promete abrir 100 novos institutos federais de ensino até o fim do mandato.
Depois das restrições a contratações e aumentos nos governos de Michel Temer e Jair Bolsonaro, o petista quer voltar a expandir a máquina federal. E faz isso sem acenar com nenhuma espécie de reforma da administração pública, como uma racionalização das carreiras ou a criação de avaliações por desempenho, que está prevista na Constituição, mas jamais foi regulamentada.
Lula age para agradar sua base sindical, gastando um dinheiro – sejamos redundantes – que o país não tem. O Brasil não pode se dar a esse luxo.
Ora, no ano passado, Arthur Lira estava todo empolgado com a ideia de fazer avançar na Câmara a PEC 32, um projeto de reforma administrativa. Fazia discursos de estadista, dizendo que ‘melhorar a eficiência do Estado seria uma importante sinalização para o mundo de que o Brasil está entrando na modernidade’. Em entrevista a Crusoé em agosto de 2023, o presidente da Câmara declarou: ‘O momento da reforma administrativa é agora’. Desde então, o assunto sumiu das conversas.
Se tirasse da gaveta a PEC 32, Arthur Lira teria a vingança perfeita contra o governo. Obrigaria Lula a gastar muita energia e muito capital político para tratar do assunto. Teria oportunidades de sobra para pôr em evidência as alianças corporativistas entre o PT e o sindicalismo. E poderia deixar um legado verdadeiramente significativo ao país em sua passagem pela presidência da Câmara.
Infelizmente, este é um ano de eleições. Do ponto de vista dos parlamentares federais, praticamente já está acabando. Além do mais, políticos não gostam de mexer em assuntos delicados às vésperas de eleições. São pequenas as chances de que Lira se arrisque em um plano tão ambicioso.
Em vez de fazer a coisa certa para o país, ele provavelmente vai puxar a garrucha.”
LEIA MAIS
+Lidas