Um em cada cinco jovens rejeita gays e trans nas salas de aula

Publicado em 29/02/2016, às 08h13

Por Redação

Apesar dos avanços na luta pelo fim do preconceito contra homossexuais e transgêneros, um em cada cinco jovens brasileiros não quer conviver com pessoas desses grupos na sala de aula. O dado foi apontado na pesquisa Juventudes na escola, sentidos e busca: por que frequentam?, realizada com apoio do MEC (Ministério da Educação). O levantamento mostra, ainda, que a tolerância com relação às questões de gênero é maior entre as mulheres do que entre os homens.

Os alunos foram solicitados a escolher, diante de uma tabela fechada, com quais grupos não gostariam de conviver no ambiente escolar. As respostas foram, em porcentagem: travestis (7,1%), homossexuais (5,3%), transexuais (4,4%) e transgêneros (2,5%), totalizando rejeição de 19,3% a membros da comunidade LGBT.

Os outros grupos que entraram no questionário foram: bagunceiros (41,4%); puxa-saco dos professores (27,8%); egressos de unidades prisionais (5,5%); nerds (3,5%); pessoas de outros Estados ou regiões (0,9%); pobres (0,7%); pessoas com deficiência (0,6%) e negros (0,3%).  

Questionada sobre o motivo de ter empregado os termos “travestis” e “transexuais” de maneira separada ao termo “transgêneros” — os dois primeiros estão contidos dentro do terceiro — a coordenadora da pesquisa, Miriam Abramovay, disse que atendeu a um pedido do MEC. Procurada, a pasta não explicou o motivo da solicitação.

Miriam lamenta o resultado da pesquisa e explica que a escola é um reflexo do conservadorismo que a sociedade brasileira carrega.

— [A escola] deveria ser um lugar de livre pensamento, de abertura, não só de aprendizado e de socialização. Mas é conservadora, é uma instituição que ensina as pessoas a aceitarem o status quo.

A pesquisa já havia sido realizada em 2004, quando as mesmas perguntas foram feitas a estudantes e o índice de rejeição era igual, cerca de 20%. Na ocasião, os resultados foram divulgados de acordo com a localidade dos alunos. O Estado que mais rejeitava gays e transgêneros, na época, era o Ceará — com reprovação de 30,6% em Fortaleza. O Estado com o menor índice era o Pará, com 22,6% em Belém.

Mulheres mais tolerantes

Ainda de acordo com a pesquisa, as mulheres aceitam melhor os colegas de classe gays e trans do que os homens, sendo 8,1% contra 31,3%, respectivamente. Miriam disse não ter se surpreendido com o resultado.

— As mulheres aceitam tudo melhor do que os homens. Os homens são muito mais preconceituosos do que as mulheres.

Prevenção

Em nota, o MEC disse que promove ações para enfrentar “todas as formas de discriminação de acordo com os marcos legais que estabelecem como finalidade educacional o pleno desenvolvimento do indivíduo e o preparo para o exercício da cidadania.”

“[As medidas] se dão no âmbito da Polícia de Formação Continuada para profissionais da Educação Básica no Programa Nacional de Formação de Gestores, Formadores e Educadores do Projovem Urbano, na disponibilização de materiais didáticos-pedagógicos no fomento à pesquisa e à extensão como prevenção à descriminação de gênero, no Programa Mulher e Ciência e no Prêmio Construindo Igualdade de Gênero e ainda na articulação de ações para o cumprimento do Plano Nacional de Prevenção à Violência contra a Juventude”, diz o texto. 

Tabus

A pesquisa revela, ainda, outras posições dos jovens brasileiros com relação a temas considerados tabus: 70% gostariam que a pena de morte fosse aplicada em casos de crimes graves, 70% apoiam a diminuição da idade penal, 15% aprovam a legalização de drogas e aborto e metade é a favor do casamento de pessoas do mesmo sexo. Miriam tem críticas a esses posicionamentos:

— Os jovens não estão tendo oportunidade de acessar um discurso crítico do que acontece realmente na sociedade. Eles vão pelo senso comum — por exemplo, que tem que matar bandido. E isso dá mais trabalho para as políticas públicas, infelizmente.

O levantamento foi realizado entre jovens de 15 a 29 anos do Pará, Bahia, Paraná, Rio de Janeiro e Mato Grosso e também contou com o apoio da OEI (Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura) e da Flacso (Faculdade Latino-americana de Ciências Sociais).

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