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Tratamento famoso para Parkinson pode provocar perda de identidade? Entenda

Olhar Digital | 29/06/24 - 12h47
Pexels

Imagine você se submeter a um tratamento para ajudar nos sintomas de Parkinson e, de repente, começar a notar alterações na sua personalidade. Foi isso que percebeu a paciente Natasha Clark, de 51 anos, que convive com a doença há 17 anos.

Após receber o implante de estimulação cerebral, em 2016, a australiana observou uma melhora inicial nos sintomas da doença. Porém, apesar dos benefícios, Natasha começou a sentir uma perda de identidade e mudanças de personalidade, sintomas que acompanham outros pacientes submetidos ao mesmo procedimento, segundo a Folha de S. Paulo.

Se você tem pressa

  • O implante de estimulação cerebral profunda dá pequenas descargas elétricas para regular a atividade do cérebro com o foco de diminuir ou cessar sintomas de doenças.
  • Entre os benefícios do tratamento está uma melhora imediata nos sintomas e o aumento da expectativa de vida.
  • Apesar de aliviar os sintomas do Parkinson, o implante de estimulação cerebral pode provocar alterações de personalidade.
  • Muitos pacientes enfrentam dificuldades em adaptar-se à “normalidade”, com alterações comportamentais que podem persistir.

Efeitos colaterais são relatados há pelo menos 10 anos

Frederic Gilbert, professor associado da Escola de Humanidades da Universidade da Tasmânia, na Austrália, é um dos especialistas que estuda relatos de mudança de personalidade e despersonalização em pacientes que passaram por implantes de estimulação cerebral profunda.

Gilbert publicou seu primeiro artigo sobre o tema em 2012. Cinco anos depois, documentou 17 casos de pacientes que tiveram esse efeito colateral preocupante. Segundo o cientista, entre os benefícios do tratamento está uma melhora imediata nos sintomas e o aumento da expectativa de vida.

Paralelamente, em 2023, outro grupo de pesquisadores relatou que muitos especialistas estão cientes dessa consequência, apesar de reconhecerem a eficácia do tratamento em controlar doenças neurológicas.

Implante pode não ser o problema

Gilbert e sua equipe também estão investigando a origem desses efeitos adversos. Uma hipótese é que os próprios transtornos neurodegenerativos, como o Parkinson, podem estar por trás das mudanças de personalidade – que ficam mascaradas pelos sintomas físicos da doença, como tremores constantes.

Outra possibilidade considerada é o “fardo da normalidade”. Após conviverem anos com a doença, os pacientes que se submetem à estimulação cerebral profunda melhoram. No entanto, enfrentam dificuldades ao retornar à “normalidade”.

No entanto, essas são apenas hipóteses para explicar por que isso acontece após a colocação do implante. Por enquanto, o ponto principal é entender se a estimulação cerebral realmente causa essas desordens comportamentais ou se são uma manifestação da progressão da doença.