Trabalhadores da vacinação em Maceió reclamam de atraso de salário e jornadas extenuantes; MPT vai investigar

Publicado em 21/05/2021, às 13h12
Corujão da vacinação em Maceió | Foto: Secom Maceió
Corujão da vacinação em Maceió | Foto: Secom Maceió

Por Ana Carla Vieira

"Eles se gabam de dizer que Maceió é a capital que mais vacina. Realmente, a vacinação está correndo muito bem, mas boa parte é graças aos esforços do profissional que está na ponta, enfermeiros, técnicos, pessoal do administrativo e da limpeza. Não adianta só chamar de heróis e heroínas e não dar um tratamento digno". A fala é de uma profissional que está atuando na vacinação contra a Covid em Maceió.

Essa e outras denúncias recebidas pelo TNH1 indicam que a propaganda que alardeia a agilidade na vacinação na capital pode estar escondendo um tratamento não tão digno com os profissionais de saúde, que têm enfrentado jornadas extenuantes de trabalho e até falta d'água para tomar. Assim como o TNH1, o Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem no Estado de Alagoas (Sateal) recebeu as denúncias, que já chegaram ao Ministério Público do Trabalho (MPT). O órgão confirmou que vai apurar e adotar as medidas cabíveis. 

Os trabalhadores se dizem sobrecarregados, desmotivados e insatisfeitos. "A maioria dos profissionais está insatisfeita com pagamento e falta de valorização, no âmbito salarial e não salarial. Na vacina, trabalham pessoas que participaram do processo seletivo e trabalham também indicações dos gestores municipais. No edital do processo seletivo havia a informação de que o pagamento seria todo dia 10. Mas sempre estão pagando atrasado. Este mês, pagaram primeiro o pessoal que foi indicação deles, e depois os do processo seletivo. Chega dia 10 e não sai salário. Ninguém diz nada, o pessoal da coordenação não fala nada, não dá uma satisfação. Quando alguém vai perguntar, a resposta é que são 15 dias úteis para pagar, mas não é", relata uma outra trabalhadora que conversou com o TNH1

Corujão sacrifica trabalhadores e até água

Por causa dos atrasos, de acordo com as denúncias, muitos têm ficado sem dinheiro até para transporte e refeições durante o trabalho. Além disso, segundo a profissional, falta planejamento na hora de estender a vacina para mais públicos. O "Corujão da Vacina", extensão do horário de atendimento, na prática, acaba sacrificando ainda mais os trabalhadores. 

"No último sábado a vacinação estava prevista até as 16h. Os profissionais deveriam trabalhar até as 17h, mas acabaram saindo de lá mais de 22h. Profissionais que chegaram às 8h da manhã, saindo às 22h... Às 18h acabou água e acabou vacina. Foi avisado e repuseram as vacinas mas não mandaram água. Os profissionais ficaram das 18h às 22h sem água para beber e sem poder nem sair para comprar por conta do fluxo" relata. 

"Em dias de corujão, a vacina é até as 21h e o horário dos profissionais é até as 22h. Mas no último corujão a fila acabou às 2h da manhã. A pessoa não vai programada para jantar, e eles não pensam no profissional", continua.

Ameaças 

De acordo com uma das profissionais ouvidas pelo TNH1, quando alguém vai relatar uma dessas situações, acaba sofrendo "ameaças indiretas". "O pessoal estava falando para não liberar tantos grupos de uma vez só, porque está gerando aglomerações. E o ponto de vacinação acaba se tornando um risco para contaminação. Isso não é bom para o profissional e não é bom para a população, porque fica aglomerada e num estresse de passar 4 ou 5 horas numa fila. Mas a resposta do Mourinha [Claydson Moura - coordenador do Gabinete de Gestão Integrada de Combate à Covid-19] foi que tem mais de 5 mil currículos cadastrados, quem não tiver satisfeito, pode entregar o cargo", relata.

Ministério Público do Trabalho vai apurar denúncias

Na última quinta-feira (19), o Sindicato dos Auxiliares e Técnicos de Enfermagem no Estado de Alagoas (Sateal) confirmou que recebeu as reclamações dos profissionais que estão atuando na vacinação na capital alagoana. O Sindicato procurou o MPT e encaminhou as denúncias. 

"Os profissionais reclamam da falta de intervalo intrajornada, sobrecarga de trabalho, atrasos no pagamento, falta de incentivo por estarem se arriscando na linha de frente... Encaminhei as denúncias ao MPT para que investigue a situação e notifique os gestores, para que se pronunciem", afirmou ao TNH1, o presidente do Sateal, Mário Jorge Filho. 

De acordo com a assessoria de comunicação do MPT, a denúncia foi recebida e acolhida nesta quinta-feira (20). Já nesta sexta-feira (21) deve ser distribuída para um dos procuradores do trabalho. Um procedimento preparatório deve ser aberto para apurar as informações da denúncia para, na sequência, as medidas cabíveis serem adotadas.

Prefeitura diz que falhas são pontuais e pede compreensão

Em nota encaminhada ao TNH1, o Gabinete de Gestão Integrada para o Enfrentamento à Covid-19 alega que falta d'água e atraso de salários foram episódios pontuais.  O coordenador Claydson Moura. diz ainda que o GGI e a Secretaria Municipal de Saúde "estão à disposição do MPT para dar os esclarecimentos necessários. Reforçamos que estamos em meio a uma pandemia". Leia a nota na íntegra:

Em relação às demandas dos profissionais lotados nos pontos de vacinação contra a covid-19 levadas ao Ministério Público do Trabalho, a Prefeitura de Maceió informa que o pagamento dos salários não ultrapassou a data limite definida em contrato, que é até o 15º dia útil do mês.
Em alguns casos isolados, servidores que informaram dados incorretos de suas contas estão sendo chamados para fazer a correção e garantir o recebimento do salário.
Sobre a falta de água para beber nos locais de vacinação, a Prefeitura afirma que o problema ocorreu de forma pontual, por questões de logística, mas foi rapidamente solucionado, não tendo, portanto, recebido novas reclamações dos servidores.
E quanto aos intervalos entre jornadas, a redução desse tempo aconteceu também de forma pontual e extraordinária durante esta semana, por conta da alta demanda da população por atendimento nos pontos de vacina.
O Município já planeja a contratação de mais servidores e a ampliação dos locais de atendimento para distribuir a procura da população e retomar o ritmo normal de trabalho. Além disso, reafirma que são garantidos a todos os profissionais a folga semanal e o descanso após expediente.
“O Gabinete de Gestão Integrada para o Enfrentamento à Covid-19 e a Secretaria Municipal de Saúde estão à disposição do MPT para dar os esclarecimentos necessários. Reforçamos que estamos em meio a uma pandemia, enfrentando um fluxo muito grande de pessoas em busca da vacina, por isso pedimos a compreensão dos profissionais, das instituições públicas e dos maceioenses”, declarou o coordenador do GGI Covid-19, Claydson Moura.

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