O Botafogo é um dos três - Vasco e Cruzeiro completam a lista - clubes que aderiram à Libra, mas não assinaram com o Mubadala, fundo árabe que pretende investir na nova liga de clubes. Proprietário da SAF alvinegra, John Textor decidiu dar um passo a mais: em entrevista ao ge, anunciou que tomou a decisão de deixar a organização.
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O Botafogo não vai entrar para o Liga Forte Futebol, outro grupo que negocia direitos, mas assumir uma função de "centro". Sem entendimento entre os clubes que compõem a Libra, o norte-americano decidiu negociar de forma independente.
- Prometi à organização social (do Botafogo) que investiríamos R$ 450 milhões em um período de três anos. Perdemos dinheiro todos os anos. Nossas despesas estão em cima e nossas receitas estão aqui embaixo. Perco quase US$ 50 milhões por ano construindo não apenas a equipe, mas a organização - disse Textor, que chegou ao Rio de Janeiro na quinta-feira e estará no Nilton Santos neste sábado para ver o jogo contra o Fortaleza.
Para o empresário, os clubes que compõe a Libra não conseguem chegar a uma conclusão porque sempre estão colocando alguma nova discussão em pauta, o que dificulta o diálogo. O Botafogo aderiu ao grupo em maio do ano passado, mas, desde então, não houve avanço efetivo no sentido financeiro.
- Estou pronto para fazer negócio. Mas uma liga unificada não pode ter os desentendimentos que estão acontecendo entre os clubes. E a maioria deles se relaciona com uma história de que eu não fazia parte. Velhas discussões com as quais eu não tinha nada a ver, eu nem estava no Brasil.
- Eu me preocupo. Prometi trazer este clube de volta à estabilidade ao longo de um período de três anos. Já estou na metade desse tempo e não estou nem perto da sustentabilidade econômica. Quando vejo prazos pelo pessoal de Libra, não posso ignorar isso. E por qual razão? Por esses argumentos e velhas discussões de cinco anos atrás. Não tenho paciência para isso. Eu respeito a história do Brasil, mas cansei de esperar - completou.
Textor pretende comunicar na próxima semana que está oficialmente fora da Libra, mas sem se juntar ao Forte Futebol. O proprietário prefere chamar a sua nova posição de "estar no meio".
- Há uma coisa que estou esperando e que não devo esperar, que são minhas receitas de mídia, televisão. Não vou perder dinheiro para sempre esperando. Então eu vou para o meio. Posso dizer que a Libra não tem uma governança adequada para a liga. A Libra foi criada com uma diretoria e uma liderança que nem incluía todos os clubes. Acredito no modelo da Premier League, no qual todos os clubes estão representados no Conselho de Administração.
Projeto para o Botafogo - Eu não estou apenas me movendo para o meio. Vou fazer acordos comerciais com os direitos de mídia do Botafogo que são benéficos para o Botafogo. Esse é um bom exemplo do que acredito que todos os clubes deveriam fazer, os negócios individuais. Posso me juntar a outros clubes no futuro, mas não estou entrando na liga pelo futebol. Não estou esperando pela Libra. Estou cansado de esperar.
O movimento de Textor também se explica pela dificuldade do Botafogo de criar novas receitas que não sejam os aportes do empresário. Uma das prioridades do norte-americano é buscar novas maneiras de fazer dinheiro.
- Não ganhamos dinheiro em matchday e não podemos aumentar demais os preços dos ingressos por causa da situação financeira do Brasil. Estamos fazendo um ótimo trabalho em patrocínios. Hoje, nossas melhores fontes de receitas são os shows de Coldplay e Taylor Swift. Em qualquer clube do mundo, o negócio é a televisão. Estou sentado aqui um ano e meio depois, fui jogado direto na Libra e nada aconteceu.
Então, como ganhar dinheiro? A ideia de John Textor é desenvolver e vender os direitos de mídia do Botafogo de forma individual e independente. Para isso, ele conta com a FuboTV, serviço de streaming focado em transmissão em esportes, do qual ele já foi um dos sócios majoritários.
A companhia, com força nos Estados Unidos e Canadá, transmite, por exemplo, os jogos da Premier League no território canadense.
Com menos de 20 meses restantes para cumprir o "prazo" de três anos junto ao Botafogo, Textor deseja acelerar processos. Ele garante que tem a capacidade - e o know-how - para tal.
- Eu venho do mundo da distribuição de conteúdo impulsionada pela tecnologia. Você sabe que a razão pela qual consegui comprar este clube é por causa da FuboTV, e a tecnologia de parceiros que tenho à minha disposição. Tenho a melhor tecnologia disponível para a promoção do conteúdo ao redor do mundo. Gostaria de poder fazer isso, mas não posso esperar para sempre, porque fiz promessas, ao Botafogo e a mim mesmo.
- Ganhei muito dinheiro com tecnologia, televisão nos Estados Unidos e streaming de conteúdo acessível em todo o mundo. Falei sobre promover o produto do futebol brasileiro para o mundo. Quero divulgar a marca do Botafogo para o mundo, não consigo fazer isso apenas pelo Instagram. Tenho que ter total controle, comprometimento e investimento em minhas propriedades de mídia e acredito que deveria fazer isso com a Liga Brasileira. Queria o fim dessas briguinhas.
O projeto de divulgação parte de três princípios: qualidade, programação lotada e vasta integração nas plataformas digitais. O objetivo não é atingir apenas os torcedores do Alvinegro, mas causar impacto no futebol brasileiro como um todo.
- Quero que a FuboTV seja vista em todos os lugares. Quero que todo torcedor possa acessar o conteúdo onde quer que esteja no mundo. Quero cada brasileiro que torça para outro time que está morando em algum lugar do mundo passe a torcer para o Botafogo porque somos as únicas pessoas que eles podem ver na TV. Quero exportar o lindo futebol brasileiro para o mundo.
"Da mesma forma que a Premier League trabalha e vende os jogos para fora do mundo, eu também vou fazer. Sim, eu vou. Eu sei como ganhar mais dinheiro do que o pessoal da Libra."
O empresário não se impressionou com o dinheiro oferecido pelo Mubadala aos clubes da Libra. Como sacudir alguém que é bilionário? A missão não parece ser fácil.
- Adquiri a FuboTV no meio da pandemia da Covid, em 2020. Era uma empresa muito boa, mas estava com dificuldades financeiras porque os esportes haviam sido cancelados em todo o mundo. Na época em que saí da Fubo, apenas nove meses depois de comprar, era uma empresa de US$ 8,5 bilhões. Por isso não fico impressionado quando alguém aparece e diz que vai passar um cheque de R$ 1 bilhão para a Libra - contou.
Relação com o Flamengo - Nos últimos meses, houve manifestações públicas de alguns clubes da Libra, especialmente o Palmeiras, com críticas à postura do Flamengo nas negociações. No entanto, John Textor tem uma visão diferente. O proprietário da SAF do Botafogo elogia a postura do presidente rubro-negro, Rodolfo Landim.
- Lembro que nós escolhíamos as datas e dizíamos “Ok, vamos tentar essa solução com todos os 40 clubes”. As datas passavam, havia mais desculpas e pouco progresso. Às vezes, era um passo à frente e dois para trás, e adiávamos. Me lembro de uma brincadeira, quando falei ao telefone com Rodolfo Landim e escolhemos o aniversário dele, em 24 de março e não cumpriram - detalhou.
- Nenhum clube grande vai simplesmente dar dinheiro para todos os clubes pequenos e subsidiar a liga. E ainda assim, o Flamengo tem sido muito flexível reduzindo, mesmo sabendo a porcentagem que eles deveriam ganhar com base no tamanho deles - completou.
Textor enxerga Landim como um membro importante para o sucesso da Libra e vê o dirigente rubro-negro injustiçado pelas críticas que recebe nas negociações.
- Eles (Flamengo) ajustaram a garantia mínima que receberiam, isso poderia impactar negativamente seus números em comparação com o que tradicionalmente obtêm com a Globo. Sei que são muito difíceis de lidar porque são grandes, bem-sucedidos e têm 40 milhões de torcedores, mas Rodolfo tem sido incrivelmente razoável como parceiro do processo e, ainda assim, perdemos todos esses prazos.
- Eu não gosto do Flamengo em campo, mas tenho muito respeito por Rodolfo e sua liderança. Acho que ele tem feito tudo o que pode para unir esta liga e vejo as pessoas ficando com raiva dele e falando sobre problemas de cinco anos atrás. Isso tudo é um absurdo para mim.
Projeto de mídia do Botafogo
- No momento, o futebol brasileiro parece horrível se você assistir dos EUA. Um áudio muito ruim na multidão, o cara que está fazendo o comentário fala sobre o que ele comeu no almoço. O produto precisa ser melhor em todo o mundo. Eu venho de Hollywood, da realidade virtual, dos efeitos visuais, da animação, produção, da tecnologia e não pretendo ter todas as respostas... Mas acho que sei o suficiente para ajudar o Botafogo e sei o suficiente para servir de exemplo para os outros clubes.
Forte Futebol
- Nunca negociei com o Forte Futebol pessoalmente. Thairo teve boas conversas com eles. Eu realmente gosto dos relacionamentos que construí na Libra, mas também tenho boas relações com Atlético-MG e Internacional... Chegou a hora de o Botafogo traçar seu próprio caminho.
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