Ciência

Tempestade que 'mancha' Júpiter se move como gelatina e poderia engolir Terra por 150 anos

Revista Galileu | 14/10/24 - 14h15
Foto: Reprodução/Nasa

Pesquisadores da Nasa analisaram a Grande Mancha Vermelha (GRS) de Júpiter e identificaram que o anticiclone pode não ser tão estável quanto parece: ele se move pela superfície do planeta de forma meio molenga, como uma gelatina. Para chegar à conclusão, os cientistas acompanharam o fenômeno climático diariamente entre dezembro de 2023 e março de 2024, por meio do Telescópio Hubble.

Os achados recentes foram apresentados na última semana, durante a 56ª reunião anual da Divisão de Ciências Planetárias da Sociedade Astronômica Americana, em Idaho, nos Estados Unidos. Um artigo que detalha os estudos também foi publicado na quarta-feira (9), no jornal The Planetary Science Journal.

Além disso, as imagens capturadas pelo Hubble ao longo dos 90 dias de experimento foram colocadas em sequência para criar um time lapse. O vídeo demonstra as mudanças de GRS ao longo do tempo. 

Como a Grande Mancha Vermelha se move

A Grande Mancha Vermelha é um sistema de vento que gira no sentido anti-horário em torno de um centro de alta pressão no hemisfério sul do gigante gasoso. Como quem lê a GALILEU talvez se lembre, o fenômeno parece ter se formado há 190 anos, e possuir cerca de 16 mil km de largura. Se ocorresse na Terra, a Nasa estima que ele poderia recobrir toda a nossa superfície com tempestades por quase 150 anos.

“Embora soubéssemos que a GRS migrava ligeiramente em sua longitude, não esperávamos ver o tamanho oscilar também”, aponta Amy Simon, autora principal da pesquisa, em comunicado. “É a primeira vez que temos uma cadência de imagem adequada de GRS e, com a alta resolução do Hubble, podemos dizer que o fenômeno está definitivamente se espremendo para dentro e para fora, ao mesmo tempo em que se move mais rápido e mais devagar”.

Geralmente, o Hubble monitora de maneira genérica o Sistema Solar por meio do programa Outer Planet Atmospheres Legacy (OPAL). Mas, para entender especificamente os mecanismos da GRS, a equipe liderada por Simon optou por dar um zoom no Telescópio para ter uma visão detalhada de seu tamanho, forma e mudanças de cor.

Dia após dia, a observação detalhada indicou que o núcleo distinto da tempestade fica mais brilhante quando GRS está em seu maior tamanho em seu ciclo de oscilação. Isso indica menos absorção de neblina na atmosfera superior.

Por que as oscilações acontecem

“À medida que acelera e desacelera, o anticiclone está empurrando contra as correntes de jato ventosas ao norte e ao sul dele”, explica Mike Wong, coautor do estudo. “É semelhante a um sanduíche onde as fatias de pão são forçadas a estufar quando há muito recheio no meio”.

Trata-se de um fenômeno diferente do que acontece com as manchas escuras de Netuno. Neste outro planeta gasoso, as tempestades podem flutuar descontroladamente na latitude sem fortes correntes de jato para mantê-las no lugar. A Grande Mancha Vermelha de Júpiter, por sua vez, mantém-se na latitude sul, presa entre correntes de jato.

O grupo de cientistas prevê que a mancha continuará encolhendo antes de assumir uma forma estável e menos alongada. “Agora mesmo a GRS está preenchendo demais sua faixa de latitude em relação ao campo de vento. Uma vez que encolhe dentro dessa faixa, os ventos realmente a manterão no lugar", disse Simon.

Apesar de os pesquisadores ainda não terem encontrado explicações hidrodinâmicas para as manchas, eles esperam que, no futuro, outras imagens de alta resolução do Hubble possam identificar outros parâmetros que indiquem a causa da oscilação. A tendência é que a tempestade se estabilize com o passar do tempo.