Sem desfiles na Sapucaí, a Cidade do Samba vira Avenida para escolas

Publicado em 28/02/2022, às 09h32
Divulgação/Prefeitura do Rio
Divulgação/Prefeitura do Rio

Por Extra Online

Havia um quê de volta aos primórdios: o fuzuê de estreia do evento “Rio Carnaval” neste fim de semana, na Cidade do Samba, aconteceu no entorno de uma praça, tal qual nas primeiras disputas entre as escolas de samba, nove décadas atrás, na lendária Praça Onze. Mas os minidesfiles das 12 agremiações do Grupo Especial disseram muito sobre um desejo para o futuro: o de voltar a requebrar na Sapucaí, após dois reinados de Momo com a Avenida em silêncio devido à pandemia. As apresentações foram um aperitivo do que deve ocorrer em abril, para quando o espetáculo foi adiado. Teve a emoção de reunir novamente as comunidades, uma prévia de que sambas e paradinhas da bateria podem levantar as arquibancadas e o reencontro com ícones da festa, da porta-bandeira Selminha Sorriso a famosas rainhas de bateria, como Viviane Araújo, grávida, Sabrina Sato e Iza.

Só não foram revelados os segredos que os carnavalescos guardam para a briga pelo título. Mas também ninguém parecia muito preocupado com isso. Componentes e público só queriam cantar e dançar, num clima de confraternização e diversidade que muita gente já aspira que se torne uma atração fixa na programação da cidade.

— Estou tão feliz de estar aqui, de presenciar esse reencontro! A Liesa (Liga Independente das Escolas de Samba) precisa incluir esse evento no calendário do Rio, talvez no meio do ano, fora de época — sugeria no sábado a vendedora Camila Mendes.

A professora Marina Santos resumia o clima da noite:

— Ver a galera da Imperatriz aplaudir a São Clemente, a da São Clemente cantar o samba da Vila, a turma da Beija-Flor saudar a da Portela... Isso é lindo e merece ser valorizado.

Antes de cruzarem a pista montada para os minidesfiles, as agremiações subiram ao palco para cantar sambas-enredo históricos. Na primeira noite, que teve seis agremiações, houve clássicos como “Liberdade, Liberdade”, da Imperatriz, ou “Peguei um Ita no Norte”, do Salgueiro. Mas também os que não são tão óbvios nas folias por aí, como o de Angola, da Vila Isabel, o “Ratos e Urubus”, da Beija-Flor, ou o “Todo Mundo Pelado”, da São Clemente. Era o que o sambista precisava para suar de tanto dizer no pé, se emocionar e soltar da garganta aquela vontade de gritar um refrão memorável.

— Foi uma emoção diferente estar a neste modelo inédito de desfile. Eu chorei de de alegria e de agradecimento por estarmos vivos — contou Selminha Sorriso.

Apostas lançadas

Com o astral elevado e até fogos no céu, torcedor com camisa do Salgueiro pulava abraçado com outro da Imperatriz. Nas voltas pela praça, rolava paquera e bate-papo. Passistas quebravam tudo dentro e fora da pista, e carnavalescos se juntavam ao povão para comemorar. Quando os puxadores ecoavam seus gritos de guerra para começar os desfiles, era hora de cariocas e turistas (inclusive muitos estrangeiros) se ajeitarem perto da grade para ver as estrelas da festa. E aí, os palpites para abril já começaram.

— Acho que a Vila vem para ganhar. A escola está motivada com o enredo sobre Martinho. Deu para sentir uma garra diferente aqui. Imagine quando for para valer! — disse o funcionário público Luciano Valente, torcedor da Mangueira.

O samba da Vila, de fato, foi um dos mais cantados. O da Beija-Flor também. Enquanto a bateria do Salgueiro agitou a galera. Nos intervalos, a muito custo, deu até para tirar dos carnavalescos alguma dica sobre o que esperar na Sapucaí no feriado de Tiradentes. Márcia Lage, da Portela, deixou no ar como virá um dos símbolos do carnaval:

— A águia da Portela vem dentro da proposta afro do tema que estamos desenvolvendo. Vem bonita, vocês podem aguardar!

O evento cumpriu normas de combate à Covid-19, como a exigência dos passaportes de vacinação para o público de cinco mil pessoas. A abertura da festa teve o bloco Cacique de Ramos. Já eram quase 4h quando a Beija-Flor, com sua constelação negra de Pinah, Soninha Capeta e companhia, encerrou a primeira noite, com a animação ainda em alta. O apresentador da festa, Milton Cunha, subiu no carro de som. E o povo repetiu ali uma tradição da Sapucaí: saiu em “arrastão” atrás da última escola, desta vez para celebrar não só a cultura popular, mas também a vida.

Na noite e na madrugada de domingo haveria mais, com Tuiuti, Tijuca, Mangueira, Mocidade, Grande Rio e Viradouro. Evoé Momo!

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