Satélite rastreia origem de óleo que atingiu 114 praias do Nordeste; multa prevista é de até R$ 50 milhões

Publicado em 02/10/2019, às 08h54
Agora RN
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Por G1 PE

Um satélite começou a ser utilizado para analisar a origem das manchas de petróleo que atingem praias de oito dos nove estados da região Nordeste, desde setembro. Segundo o secretário de Meio Ambiente e Sustentabilidade de Pernambuco, José Bertotti, os responsáveis pelo problema podem pagar uma multa que vai de R$ 5 milhões a R$ 50 milhões pelo crime ambiental, que é considerado gravíssimo (veja vídeo acima).

Nesta terça-feira (1º), o Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (Ibama) informou que aumentou para 114 o número de localidades afetadas (veja vídeo abaixo). Uma reunião foi realizada no Recife, durante a tarde, e contou com representantes de seis dos nove estados nordestinos, para discutir estratégias para diminuir os impactos. A Bahia foi o único estado da região que não foi afetado.

Na reunião, os estados decidiram protocolar, em conjunto, uma denúncia sobre o caso, a ser enviada à Polícia Federal e ao Ministério Público Federal.

"Desde o primeiro caso, acionamos as universidades Federal (UFPE) e Rural de Pernambuco (UFRPE) para fazermos monitoramentos com imagens retroativas de satélite, para identificarmos a mancha inicial, que indique o início do vazamento. Também estamos analisando a dinâmica das correntes marítimas para encontrar o responsável", afirma Bertotti.

Segundo José Bertotti, esse caso é "um dos maiores crimes ambientais já registrados na costa nordestina", por causa da extensão atingida e do tempo decorrido desde os primeiros casos registrados, que ocorreram no dia 2 de setembro, em Olinda e Ipojuca, no Grande Recife. O governo do estado se preocupa com a repercussão no turismo.

Uma investigação inicial aponta que o material que está poluindo as praias tem a mesma origem, mas ainda não é possível afirmar de onde ele viria. A Petrobras confirmou que se trata de petróleo cru, que não é produzido no Brasil.

Participaram da reunião desta terça representantes dos estados de Alagoas, Sergipe, Rio Grande do Norte, Ceará e Paraíba, além da Marinha, Capitania dos Portos, Ibama, da Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE) e Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).

Segundo o professor Marcos Silva, do departamento de Oceanografia da UFPE, imagens registradas por um satélite devem ajudar na identificação dos responsáveis pelo problema.

"A partir de mapas e imagens retroativas, estamos levantando o padrão de circulação das correntes oceânicas e do vento, para cruzar com informações coletadas entre 25 de agosto e 30 de setembro. Com o cruzamento das informações coletadas e simulações, poderemos encontrar o ponto inicial do derramamento", explica o professor.

Segundo o secretário José Bertotti, a principal suspeita é que o derramamento tenha sido feito por um navio em alto mar. Entretanto, segundo ele, ainda não se sabe se a substância vazou ou se foi deliberadamente jogada na água.

"Pode ter sido uma lavagem de lastro de navio, mas teria que ter sido jogado muito petróleo para atingir a situação a que chegou. De todo modo, é um crime, porque, mesmo se não foi intencional, não houve a notificação das autoridades", diz Bertotti. 

Limpeza e análises

A Marinha informou que trabalha com a análise das substâncias encontradas na costa nordestina para saber o tipo de material encontrado e, assim, descobrir de qual bacia sedimentar o material foi coletado.

Segundo o capitão dos portos de Pernambuco, Maurício Bravo, há a confirmação de que o petróleo encontrado em quatro estados tem a mesma origem. O material achado nos outros quatro seguem sob investigação.

"Foram colhidas 44 amostras e 20 foram analisadas, mas um relatório vai ser emitido para tentar esclarecer o que está acontecendo. A Marinha orienta a população que, caso encontre as manchas no litoral, entre em contato com as capitanias dos portos, para que o petróleo seja colhido e analisado", declara o capitão. 

Impactos

A coordenadora do Ibama em Pernambuco, Lisania Pedrosa, afirma que equipes trabalham nos estados atingidos para a limpeza do material. Ao todo, segundo o órgão, 12 animais sujos com o petróleo foram achados, sendo 11 tartarugas e uma ave. Quatro tartarugas foram achadas vivas, mas duas delas morreram em seguida.

"O Ibama está trabalhando com 100 técnicos fazendo a limpeza. Pernambuco e Paraíba, por exemplo, já não têm o material, porque a quantidade foi menor e já foi feita a limpeza. O trabalho principal, agora, é em colchões rochosos, porque o petróleo entra nos furos das rochas e sai mais dificilmente. Na areia é mais fácil retirar o material. Não se trata de óleo, porque esse é refinado, enquanto o petróleo é cru", afirma Lisania.

O cálculo das penalidades a serem aplicadas aos responsáveis pelo derramamento leva em conta o impacto causado pelo incidente.

"O Ibama tem alguns parâmetros para identificar esse tipo de desastre, como a duração do incidente, que já vem em um mês; o produto envolvido, a toxicidade desse produto, a sensibilidade das áreas atingidas, porque foram atingidos praias de areia e os lençóis maranhenses, por exemplo, além do impacto econômico, já que o Nordeste tem muito como atrativo as praias", declara Lisania.

A Marinha informou, ainda, que está fazendo o levantamento de todos os navios que transitaram pela possível região do derramamento de petróleo. "Estamos fazendo uma análise comparativa entre o material achado nas praias e o que se encontra nos tanques dos navios", declara o capitão.

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