Saiba qual foi a principal causa de afastamento do trabalho em 2023

Publicado em 10/01/2024, às 15h53
Marcelo Camargo / Agência Brasil
Marcelo Camargo / Agência Brasil

Por Folhapress

Mais de 2,5 milhões de brasileiros foram afastados do trabalho por razões de saúde em 2023, segundo o Ministério da Previdência Social. A hérnia de disco foi a principal causa, seguida de dor na lombar.

Sedentarismo e má postura são os dois fatores mais importantes associados às lesões na coluna, afirmam os médicos entrevistados pela reportagem.

A lista com as dez doenças mais recorrentes tem predominância das osteoarticulares, que são os distúrbios articulares, ósseos e musculares, como lesões no ombro, tendinite e lesão no punho, além de dores na lombar e diferentes hérnias.

Comuns no Brasil, essas disfunções são multifatoriais e influenciadas por predisposição genética, diz o médico Fernando Oto, presidente da Sociedade Brasileira de Clínica Médica em Santa Catarina (SBCM/SC).

Entretanto, afirma Oto, também podem ser causadas por adoção de posições inadequadas no desempenho do trabalho, falta de ergonomia e exposição a cargas laborais exageradas.

Segundo Francisco Cortes Fernandes, presidente da Associação Nacional de Medicina do Trabalho, muitas vezes os postos de trabalho estão inadequados para os funcionários e falta fiscalização. "Patologias ortopédicas são as mais frequentes", diz.

Além delas, dezenas de milhares de pessoas foram afastadas dos trabalhos devido a cálculo vesicular ou transtorno de ansiedade e depressão -que ficou em nono lugar entre os motivos mais frequentes para afastamento.

Quando uma doença ou lesão impede o retorno ao trabalho por mais de 15 dias, o segurado tem direito ao afastamento pelo INSS. A duração do afastamento varia de acordo com a situação médica do trabalhador. Durante esse período, ele recebe benefícios por incapacidade temporária -o antigo auxílio-doença.

HÉRNIA DE DISCO - A hérnia de disco é uma doença que acomete uma região específica da coluna, chamado disco intervertebral. Ela acontece principalmente devido ao desgaste precoce dessa estrutura, processo que leva à formação da hérnia e com isso a compressão do nervo ciático.

O sintoma mais prevalente é a dor ciática. Ou seja, a dor irradiada para a perna, e está associada a perda de sensibilidade, de força muscular, sensações de choques e formigamentos na perna.

Renato Ueta, ortopedista e membro do Grupo da Coluna do Departamento de Ortopedia e Traumatologia da Escola Paulista de Medicina - Unifesp, afirma que a melhor forma de prevenir a hérnia é ter muita atenção à postura durante as atividades diárias, seja sentado em um escritório ou na realização de atividade física.

"A hérnia de disco, diferentemente do que muitos acreditam, acomete a população mais jovem, principalmente dos 20 aos 40 anos. Uma faixa etária bastante produtiva da população. Os sintomas são bastante limitantes e restritivos, impedindo, de fato, a realização das atividades diárias."

O seu diagnóstico se faz por um exame físico bem realizado e exames de imagem condizentes com a lesão. "Muitas vezes as pessoas leem o laudo de um exame que aponta uma 'hérnia' e, mesmo sem ter uma história clínica e um exame físico condizente com o diagnóstico, julgam ter a doença. Um diagnóstico equivocado, levará invariavelmente a um tratamento errado", explica Renato Ueta.

É importante lembrar que o tratamento de hérnia de disco envolve múltiplos profissionais, e nem sempre se trata de um caso cirúrgico. Por vezes o tratamento evolui bem com medicamentos, reabilitação física (fisioterapeutas, educadores físicos) e métodos analgésicos, como acupuntura.

Segundo Renato Ueta, a cirurgia é indicada nos casos em que o tratamento clínico não funciona ou quando há uma perda neurológica em evolução. "O tratamento de hérnia de disco tem um bom prognóstico, seja o clínico ou o cirúrgico."

O ortopedista destaca que é preciso diferenciar a dor lombar crônica, sem irradiação, prevalente na população adulta, da hérnia de disco.

"A dor lombar está bastante associada aos nossos hábitos de vida, e teve um grande aumento após a pandemia da Covid. Pelo aumento do tempo sentado, muitas vezes agravado pela falta de ergonomia no home office, pelo sedentarismo imposto pelo confinamento, e a postura ruim com o maior uso de celulares e notebooks", diz o médico.

Evitar altos níveis de estresse com uma rotina saudável, tanto do ponto de vista mental como físico, mantendo uma postura adequada no ambiente de trabalho, nas atividades domésticas (que sobrecarregam muito a coluna), a boa ergonomia no escritório e principalmente a atividade física regular também servem como prevenção e tratamento da dor lombar crônica.

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