SAF, folha salarial e aporte financeiro: presidente do CRB revela bastidores e futuro do clube
Publicado em 28/07/2023, às 11h01
Por Gabriel Amorim*
Em pouco mais de dois anos, o CRB de Mário Marroquim parece ter aprendido com os erros do passado e buscado melhorar dentro e fora de campo. Em entrevista ao Pajuçara Futebol Clube, da Rádio Pajuçara FM, o presidente do Galo revelou que atualmente o clube ostenta a maior folha salarial de sua história, como também possui um setor de análise de desempenho para o fortalecimento de dados fornecidos à comissão técnica. Diante da evolução no "extracampo", o gestor também comentou sobre os bastidores e até mesmo externou que o clube já recebeu uma proposta para virar Sociedade Anônima do Futebol (SAF). Confira a entrevista completa no fim desta matéria.
Durante a gestão de Marroquim, foram dois títulos estaduais - o último, inclusive, de forma invicta. Mas o sonho do torcedor regatiano é poder visualizar o clube chegar até a Série A do Campeonato Brasileiro. Para subir este degrau, segundo o presidente, não faltam esforços.
No entanto, assim como na temporada passada, o Galo teve um péssimo início de Série B e agora corre contra o tempo para recuperar os pontos perdidos. Com a volta de Daniel Paulista ao comando do CRB, após a demissão de Umberto Louzer, o Galo fechou o 1º turno na 12ª colocação com 24 pontos, 11 pontos a menos que o Sport e o Vila Nova, que abrem o G4 da competição.
Vale lembrar que o alvirrubro tem um jogo a menos, já que a partida contra o Avaí, válida pela 17ª rodada, foi adiada após a delegação do time catarinense não conseguir embarcar para Maceió devido a uma danificação na pista do Aeroporto Hercílio Luz, em Florianópolis.
(Crédito: Francisco Cedrim/CRB)
Planejamento e análise de desempenho - Apesar do mau início na segunda divisão, o CRB começou a temporada, pelo segundo ano consecutivo, com bons resultados. De acordo com Marroquim, o clube passou a entender que é preciso montar um elenco competitivo para evitar mudanças drásticas ao longo do ano. Inclusive, durante o programa, ele anunciou a contratação do atacante Léo Pereira, que estava no Atlético Goianiense, para a sequência da Série B.
“Esse ano, montamos um elenco competitivo desde o início do ano. A gente passeou no Alagoano - com todo respeito aos adversários. Mas quando você monta um time para a Série B, você já está num passo acima do alagoano, de fato. E isso fez com que a gente fosse campeão invicto depois de 37 anos”.
Atualmente, o clube conta com o trabalho de três funcionários de análise de desempenho, que atendem a todas as divisões do futebol nacional e fazem uma busca pelos melhores nomes para o clube. Segundo o presidente, o time não tinha nenhum funcionário destinado para o setor.
“Quando cheguei no CRB, não tinha nenhum (profissional de análise de desempenho). Hoje, a gente tem o Felipe, o Vitor e o Gabriel. São três bons profissionais que atendem a todas as categorias no mercado. Todos os atletas, inclusive aqueles que são mandados como indicações, nós passamos para esse departamento. Eles fazem um mapeamento de todos os jogos - onde jogou, tendência de lesão, característica e tudo mais. Daí, eles trazem para dentro da equipe técnica do treinador. Com a validação, a gente senta e discute para encontrar a viabilidade financeira e descobrir se o atleta quer vir ao CRB”.
(Crédito: Zimel Press/Folhapress)
Decisão da troca de treinador - Marroquim também comentou sobre a saída do técnico Umberto Louzer, que tinha respaldo dentro do clube, pela gestão visualizar no treinador a chance do acesso para a Série A, principalmente pela conquista dele na Série B em 2020, quando esteve à frente da Chapecoense. O presidente do CRB revelou qual foi o momento da virada de chave que o fez tomar a decisão de trocar o comando da equipe.
“Foi a derrota para o Athletico Paranaense (no jogo de volta da Copa do Brasil), nos pênaltis, no Paraná. Eu estava lá e eu acho que houve um abalo psicológico muito grande no grupo. Inclusive, quando terminou o jogo, tive que descer no vestiário e vi a cara de enterro de todos jogadores. Realmente, uma tristeza profunda. E não é por questão financeira, e sim por questão desportiva: iria passar uma fase da Copa do Brasil, iria desbancar o tão poderoso Athletico lá dentro, e todo jogador gosta disso. Foi um momento muito triste para o grupo e eles demoraram muito para absorver isso aí. Neste momento, o Umberto Louzer não conseguiu mais extrair a confiança deles. Tínhamos um treinador competente e muito bom, mas, de fato, ele perdeu a sequência do time naquele jogo”, disse Marroquim, que enalteceu o treinador e lembrou que agora ele faz um bom trabalho no Guarani.
Confira, abaixo, trechos da entrevista:
Você se arrepende de ter dado o aval das contratações de, por exemplo, Tatá Baiano e Everson?
Mário Marroquim: Na realidade, eu não posso me arrepender do que a gente faz. Eu posso me arrepender, às vezes, do que eu deixo de fazer. Por vezes, você tem a oportunidade de trazer algum atleta e não traz, e aquele jogador explode no mercado e você vai dizer: ‘rapaz, eu deveria ter trazido o cara’. Então, quando se dá a oportunidade de algum atleta chegar, eu não posso me arrepender porque a oportunidade foi dada. Se eu tivesse medo disso, eu não teria trazido, por exemplo, o Caetano (que está no Corinthians) ou o lateral Guilherme (atualmente no RB Bragantino). Se eu tivesse receio disso, a gente não teria trazido jogadores sem expressão e que depois estão no mercado se destacando. Alguns pensam que é burrice, mas eu digo que é ousadia. Alguns vão dar certo, outros não. É o risco calculado. A gente tem sempre possibilidade de ter, dentro do elenco, quatro ou cinco apostas, e vamos fazê-las sempre, porque uma delas vai vingar e no dia que uma delas vingar, onde ele seja atleta do clube e não empréstimo, teremos uma venda maravilhosa - como o caso do Negueba, que a gente trouxe um menino da roça, que plantava tomates. Acreditamos no menino e demos oportunidade. Será que a gente foi chamado de burro nesse momento? Quem faz a gestão, sabe o que tem que ser feito.
Liga Forte Futebol: quanto o CRB irá receber de recurso financeiro?
Mário Marroquim: R$ 44 milhões, bruto. A gente deve perder 10% de imposto; então, imagino que deve cair nos cofres cerca R$ 40 milhões - sendo R$ 20 milhões esse ano. A partir do dia 15 de setembro do ano que vem, mais R$ 10 milhões e o resto depois de seis meses. Totalizando os R$40 milhões
Liga Forte Futebol: o que, de fato, vai mudar no CRB daqui para frente com a chegada desse aporte financeiro?
Mário Marroquim: A gente precisa entender que não é somente o CRB que receberá recursos. Todo o futebol brasileiro receberá. Todos terão dinheiro. A diferença é que alguns vão torrar no desespero, na agonia, e alguns para pagar dívidas. Nós iremos estruturar o clube. E isso não é o Mário Marroquim que está dizendo. Eu passei a decisão para o Conselho e ele corrobora com a minha ideia e quem vai validar são eles (os conselheiros). Vamos fazer uma estruturação.
Liga Forte Futebol: parte do recurso pode ser investido em elenco?
Mário Marroquim: Pontualmente falando, sim. E dentro de um limite muito pré-estabelecido para gente não ser leviano. Se, esse ano, a gente conseguir mais algum reforço, vamos investir. Tem dinheiro para um reforço maior ou então para ter um elenco mais robusto ano que vem? Sim. Mas praticamente 80% a 90% desse recurso será usado de forma estruturante.
Liga Forte Futebol: onde, precisamente, o aporte será investido?
Mário Marroquim: A gente tem, dentro do planejamento, a ideia de investir de R$ 4 a 5 milhões na reestruturação do nosso centro de treinamento. Com mais campos sintéticos, vestiário visitante e de arbitragem, subir uma mini arquibancada para começar a receber alguns jogos amistosos e fazer alguns torneios que a gente queira fazer, além de melhorar a parte de hotelaria, sistema de energia solar, sistema de segurança, parte de cozinha, departamento médico, departamento de academia, fisiologia, drenagem e melhorar o nível do gramado. Além disso, vamos investir em um ônibus e também dentro da nossa sede. Vamos construir nosso museu, fazer um campinho para receber uma escolinha e boa parte do recurso será estruturante para base do CRB, que será instalada na parte alta da cidade. Eu sempre defendi que a gente sempre tinha que estar nesse bolsão da população mais populosa, em um espaço que a gente possa ter 3, 4 a 5 campos, e um departamento de base do CRB. O da Barra de São Miguel impede isso (o fácil deslocamento) e praticamente matou a base da meninada. A gente pensa em comprar uma área e fazer uma estrutura. O patrimônio do clube fica e é a responsabilidade que nos cabe.
Hoje, dentro do negócio do futebol todo mundo fala em SAF. O CRB está distante e não passa nem perto dessa possibilidade?
Mário Marroquim: O CRB projeta e está trabalhando no nosso departamento jurídico. Estamos estruturando a nossa SAF. E isso não quer dizer que você tenha que vender para alguém. Você pode montar a SAF e ela estar pronta dentro do clube para ser gerida pelos próprios gestores sendo SAF. E transformar um clube numa SAF não é sinônimo de que vai subir e nem de que vai descer. É apenas uma gestão profissional e eu acho que a gente tem uma gestão extremamente profissional dentro do clube. A diferença é que, na SAF, todos da cadeia são remunerados. Hoje, somente eu e meus VPs não somos remunerados. Estamos organizando a SAF do CRB, mas não para vendê-la, e sim para deixá-la estruturada em nossa prateleira, para caso amanhã apareça qualquer tipo de oportunidade maravilhosa, e a gente não tenha que correr para montar contrato e formalizar. Uma coisa é se ter uma SAF estando na Série C e D ou estar mergulhado em dívidas, você vai para o desespero. No caso do CRB, não estamos assim. Estamos indo com calma, mas está sim no radar. A gente pensa e discute isso dentro do nosso conselho. Nós já recebemos uma proposta para uma SAF. Recebemos de um grupo europeu. Eu mandei Eduardo Marinho e Thomas Ferrari para Portugal e eles foram lá e visitaram, mas nós declinamos por entender que a proposta não era justa com o tamanho do clube.
Qual a pretensão do clube para o segundo turno da Série B?
Mário Marroquim: Subir ainda este ano. Lógico que não depende só da gente. A gente fez uma bela retomada com o Daniel Paulista. Nos últimos dez jogos, nós conseguimos 19 pontos. Mas também conversamos com ele e com os jogadores para falar que, com essa média, iria nadar e morrer na praia, não se classifica. E eu disse ao grupo: a missão de vocês é fazer os próximos vinte jogos melhor do que esses primeiros dez. A gente tem que brigar lá em cima e subir. Para isso, eu inclusive dobrei o bicho em todas as vitórias para que a gente tenha um incentivo a mais.
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