Rodrigo Santoro é brasileiro de raiz e coração, mas, a partir desta quinta-feira, 4, ele estará em cartaz nos cinemas como um homem autenticamente cubano. Um professor de literatura russa, fluente na língua de Tolstói e Gogol, que vai trabalhar contra sua vontade como tradutor para crianças atingidas pelo desastre de Chernobyl, em tratamento num hospital em Havana. Essa é a premissa do longa O Tradutor, baseado, surpreendentemente, numa história real.
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O protagonista se chama Malin (Santoro) e é inspirado no pai dos diretores Rodrigo e Sebastián Barriuso que, na vida real, é Manoel. Os dois recuperaram a história da família e acrescentaram elementos ficcionais para levá-la às telas em seu primeiro longa-metragem, trazendo consigo uma Cuba pouco estereotipada e visualmente deslumbrante, abalada por uma crise econômica que vem no encalço do fim da Guerra Fria e da queda do muro de Berlim. Em meio a tudo isso, ela oferece ajuda a um povo do outro lado do mundo, cuja língua nem compreende.
Letras alienígenas
Santoro não é fluente em russo e, apesar de ter intimidade com a língua espanhola, tampouco é um nativo no idioma. O que ele é, contudo, é estudioso – muito, obsessivamente, cuidadosamente estudioso. De forma que, quando o espectador for conferir essa dramática narrativa, ele não terá dúvidas de que seu personagem é quem diz ser, tamanha a segurança com que o ator entrega suas falas.
O artista não chegou a aprender a língua russa, não totalmente, mas se debruçou sobre ela como um enigma a ser destrinchado. “Eu tive que estudar não só as minhas falas, como as dos outros, porque, normalmente quando estou atuando, eu me coloco no lugar de escuta e reajo. E eu não posso reagir a menos que saiba exatamente o que o outro está falando”, explicou Santoro em entrevista em São Paulo.
Ele conta que o processo levou quatro semanas e não foi fácil: “O alfabeto parecia feito de letras alienígenas, então acabei fazendo um mapa fonético: eu escrevia como se fala, de um jeito que só eu entendia”. Depois, ele conta que teve a ajuda de uma professora para acertar o ritmo da fala (inesperadamente parecido com o português, segundo ele) e ainda preparou um repertório extra caso quisesse improvisar.
Quando se vê o tamanho do esforço empenhado pelo ator para fazer jus ao papel, fica fácil entender o motivo de sua contratação pelos diretores cubanos. “A sugestão veio da agente da atriz Maricel Álvarez, que interpreta Gladys”, conta Sebastián, em entrevista a VEJA. “No momento em que ouvimos o nome dele, pensamos: ‘É claro! Como não tínhamos pensado nisso antes?’, e embarcamos na missão de convencê-lo a aceitar”. O diretor conta que tinha consciência do quão difícil seria encontrar alguém capaz de aprender a falar foneticamente a língua russa, ou mesmo disposto a isso, e Santoro se revelou a escolha ideal.
Atores mirins
A língua, porém, não foi o único desafio. Com uma história construída em torno de crianças, é de se imaginar que gerenciar todo esse elenco infantil não seria tarefa fácil. “Elas não estão apenas interpretando crianças, mas crianças que estão gravemente doentes, e muitas delas não entendem a situação – felizmente, nenhuma delas passou por isso”, conta o diretor Rodrigo Barriuso. “Havia momentos em que uma criança entrava na sala de maquiagem e, ao se ver no espelho, começava a chorar e a se desesperar, porque tudo o que ela via era que ela estava doente. Quando isso acontecia, tínhamos que tirar a criança dali e ela já não poderia mais participar no filme.”
Para Santoro, o desafio foi bem-vindo. “É muito interessante como exercício, porque você tem que estar muito presente, porque a criança é muito espontânea. Mas, para mim, é um prazer!”. Confira a entrevista com o ator no vídeo abaixo:
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