A troca de mensagens entre o delegado da Polícia Civil de Alagoas, Daniel Mayer, preso por fraude processual, revelação de sigilo funcional e abuso de autoridade no caso Kleber Malaquias, e o policial civil Eudson Oliveira de Matos, investigado pelo envolvimento na morte do empresário, está contida no relatório preparado pela Polícia Federal. O Ministério Público do Estado de Alagoas (MPAL) acredita que a conversa comprova a ação fraudulenta do delegado durante a investigação do crime.
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Os primeiros contatos registrados pela PF, num bate-papo no aplicativo de mensagens WhatsApp, mostram uma relação de proximidade entre o delegado e o policial civil. Matos se apresenta e avisa ao delegado que trocou de número de telefone, e em seguida, diz que está "às ordens" e pede o contato de outro delegado. Daniel responde com uma imagem de pernil assado que teria ganho do policial, e na sequência, envia uma mensagem de áudio: "Matos, meu amigo, beleza? Olha o pernilzão aí que foi assado. Show de bola, meu amigo". O investigado pelo crime contra Malaquias também recebe o contato do outro delegado e comenta: "Top de linha kkkk". Essas mensagens foram trocadas entre os dias 1 e 2 de julho deste ano.
Uma semana depois, os dois voltam a manter contato. Matos convida o delegado para almoçar, e o delegado aceita. No dia seguinte ao encontro, 10 de julho, o delegado envia duas imagens para o policial, de documentos que trazem um depoimento ligado ao caso Kleber Malaquias. Matos então responde se colocando à disposição para "conseguir pernil de carneiro". No dia 16 de julho, o delegado manda novas mensagens: "Amigo, tudo bem? Quando puder, dê um toque. TMJ (sigla de "estamos juntos")".
Confira:
A Polícia Federal ressaltou o fato de dois depoimentos terem sido colhidos pelo delegado sem conhecimento prévio ou posterior nem do Ministério Público quanto da Justiça, e muito menos da PF. O depoimento de uma pessoa foi dado no dia 29 de maio, e o da segunda, no dia 5 de junho. "O delegado não comunicou às instituições envolvidas acerca dos depoimentos até aquele momento — estranhamente — por ele colhidos, mas à “instituição” Eudson Oliveira de Matos, acusado de participar diretamente do crime de Kleber Malaquias, ele fez questão de, imediatamente, comunicar, conforme amplamente destacado nesta IPJ (Informação de Polícia Judiciária)".
No relatório, também foi pontuado que Matos já figurava como o possível suspeito do crime, e que era "impossível" o delegado, como presidente do inquérito que investiga o assassinato, não saber do envolvimento do policial no caso.
O TNH1 não conseguiu contato com o advogado do delegado, e deixa o espaço aberto para manifestação.
Justiça mantém prisão de delegado e autoriza quebra de sigilo
O delegado Daniel Mayer teve a prisão preventiva decretada pela juíza Eliana Augusta Acioly Machado de Oliveira da 3ª Vara Criminal de Rio Largo, após audiência de custódia na quarta-feira (18), mesmo dia da prisão. A magistrada também determinou a expedição dos mandados de busca e apreensão, visando a apreensão de anotações, papéis, documentos, celulares, computadores, equipamentos, mídias e outros objetos que interesse ao processo. O cumprimento dos mandados deve ser feito em três endereços indicados para busca de objeto de provas.
O Poder Judiciário também autorizou a quebra de sigilo telefônico no aparelho celular do delegado referente aos últimos cinco anos. As instituições bancárias também devem fornecer, a pedido da Justiça, as contas vinculadas aos números do delegado. Dados de latitude e longitude do acesso ao internet banking também devem ser passados.
Adiamento de julgamento
A Justiça de Alagoas determinou, nesta quarta-feira, 18, o adiamento do júri popular do caso Kleber Malaquias de Oliveira, morto em 2020 na cidade de Rio Largo. A decisão do judiciário acolheu pedido do Ministério Público do Estado de Alagoas (MPAL) horas após a prisão do delegado, que era responsável pelo inquérito.
Segundo o MPAL, o juiz Braga Neto aceitou o pedido e o julgamento, que seria nesta quinta-feira, 19, foi adiado para o dia 17 de fevereiro de 2025.
Relembre o caso 'Kleber Malaquias'
Segundo o processo, o crime aconteceu dentro de um bar, em Rio Largo, na tarde de 15 de julho, dia do aniversário da vítima. A execução teria sido arquitetada pelos envolvidos que atraíram Kleber até o Bar da Buchada para realizar o assassinato.
De acordo com o relatório, o policial militar José Mário, na época pré-candidato a vereador, marcou um encontro com Kleber para conversar sobre questões políticas. Na ocasião, Fredson José teria efetuado os disparos de arma de fogo que levaram a vítima à morte.
Consta nos autos que Kleber era alvo de constantes ameaças devido às denúncias que fazia contra políticos e autoridades.
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