Uniformizados com camisas de cor púrpura, como metade da bandeira do Qatar, um grupo de torcedores da nação do Oriente Médio concentrado em um bloco atrás do gol defendido no primeiro tempo por Saad Al Sheeb distinguia-se dos demais fãs do país anfitrião no estádio Al Bayt.
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Eles foram os únicos que passaram boa parte da partida deste domingo (20) contra o Equador cantando e gritando. Os outros, a grande maioria formada por homens, acompanharam a abertura da Copa do Mundo sentados.
Depois do intervalo, a diferença entre eles ficou ainda mais evidente. Enquanto os uniformizados continuavam com a mesma atitude da etapa inicial, muitos dos presentes nos demais setores da arena nem voltaram para acompanhar o restante da partida.
Pior, no decorrer dos 45 minutos finais, muitos dos que tinham voltando começaram a ir embora. Antes do apito que encerrou o jogo, eram visíveis vários clarões no estádio.
Empolgados com a vitória, os equatorianos foram os últimos a deixar as arquibancadas do Al Bayt, que fica na cidade de Al Khor.
Além de incentivar a equipe do país e, em vários momentos, tentar reproduzir um clima de Copa Libertadores, os sul-americanos também reclamaram da falta de cerveja. "Queremos cerveja!", eles gritavam.
Na sexta-feira (18), a dois dias da abertura do Mundial, a Fifa anunciou que não seriam mais permitidos a venda e o consumo de bebidas alcoólicas nos estádios. A decisão foi tomada pelo Supremo Comitê da Entrega e Legado, que organiza o torneio.
Uma das principais patrocinadoras do Mundial é a Budweiser, que venderia cerveja dentro do perímetro das oito arenas, três horas antes e uma hora depois de cada jogo.
Desde o anúncio do Qatar como anfitrião da Copa de 2022, o tema bebida alcoólica era um problema. No país, negociar álcool não é crime, mas ser encontrado bêbado ou bebendo é, e o governo faz o possível para dificultar o consumo.
Muitos torcedores foram surpreendidos com a nova determinação assim que desembarcaram no país-sede do Mundial. Nas arquibancadas do Al Bayt, os equatorianos ecoaram a insatisfação.
É curioso, aliás, que a torcida estrangeira tenha se feito ouvir justamente num país duramente acusado por grupos de direitos humanos de não ter tratado com dignidade os imigrantes que trabalharam nas obras de infraestrutura para a nação sediar a Copa.
O clima no entorno do estádio também era diferente da festa com a qual os sul-americanos estão acostumados. Havia um certo silêncio entre os torcedores, que pouco demonstraram a empolgação que se poderia esperar de pessoas que vão assistir à abertura de uma Copa.
Do lado de fora, ouvia-se mais o barulho do trânsito em direção ao local. Formou-se um engarrafamento nos arredores, como temia o governo do Qatar. Muitos acabaram perdendo parte ou toda a festa de abertura, que começou cerca de uma hora e meia antes da partida.
O futebol não tem tradição entre os qatarianos. A grande maioria tem as corridas de camelos como o esporte preferido. Neste domingo, quando eles deixaram o estádio antes do fim do jogo, isso ficou ainda mais claro.
A população não se importou com o fato de o Qatar se tornar o primeiro anfitrião de uma Copa derrotado em sua estreia. Segundo a Fifa, isso nunca tinha acontecido nas 21 edições anteriores do torneio. Desde 1970, os donos da casa também não passavam em branco na estreia. A última vez aconteceu com o México, que empatou com a União Soviética por 0 a 0.
Tais estatísticas não parecem preocupar os qatarianos, que reproduziram no estádio aquilo que já se via nas ruas do país nos dias que antecederam a abertura do torneio. Sem tradição no futebol, muito menos em Copas, faltou mais festa no Qatar.
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