Um novo estudo da consultoria de recrutamento Michael Page quantificou uma realidade já percebida por muita gente: embora o mercado de trabalho brasileiro esteja naufragando, algumas carreiras ligadas à gestão da crise vão de vento em popa — inclusive sob o ponto de vista da remuneração.
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Entre agosto de 2015 e agosto de 2016, o levantamento detectou um crescimento de até 30% na oferta de emprego para 11 especialistas em gerenciamento de situações críticas. Os salários médios para cada posição vão de 10 a 50 mil reais mensais.
Segundo Henrique Bessa, diretor da Michael Page, a valorização dos “experts em recessão” é um reflexo inevitável do cenário financeiro na maioria das empresas.
“Cada departamento enfrenta a sua crise, seja o financeiro para negociar dívidas, seja o RH na hora de demitir algum funcionário”, diz. “Quem tem perfil para gerenciar essas situações difíceis é muito bem avaliado no mercado”.
Nesta galeria, você verá quem são e quanto ganham os 11 profissionais mais cobiçados no atual momento econômico do país, segundo o levantamento da Michael Page, em áreas como finanças, logística, vendas e segurança.
Média salarial: 17 mil reais
Aumento de demanda 2015-2016: 25%
Qualificações mais comuns: graduação em economia, administração, engenharia, contabilidade, entre outras
Nível de senioridade: pelo menos 10 anos de experiência
Por que é cobiçado na crise? Com o preço das commodities em baixa e o dólar em alta, grande parte das empresas têm tido dificuldade para obter linhas de crédito em bancos brasileiros e estrangeiros. Nesse cenário, o gerente de tesouraria estruturada pode ajudar a melhorar o relacionamento da companhia com instituições financeiras, além de renegociar dívidas e estender prazos com fornecedores.
Quais são as competências mais importantes? Além de conhecimento técnico em finanças corporativas, deve ter criatividade para propor novas estruturas de capital, boa comunicação e jogo de cintura para negociar sob pressão.
Média salarial: 20 mil reais
Aumento de demanda 2015-2016: 30%
Qualificações mais comuns: graduação em contabilidade ou direito (muitos profissionais têm mais de um diploma universitário)
Nível de senioridade: pelo menos 10 anos de experiência
Por que é cobiçado na crise? Segundo Bessa, o profissional que controla e gerencia operações de impostos indiretos, como o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços), pode gerar economias e impedir que a empresa seja autuada por não recolher corretamente os tributos devidos ao governo.
Quais competências precisa ter? É obrigatório ter base sobre questões legais e jurídicas ligadas ao mundo tributário, além de conhecimentos sólidos em contabilidade e planejamento de impostos. Profissionais detalhistas e organizados, que se sentem à vontade sob pressão, são os mais requisitados.
Média salarial: 25 mil - 50 mil reais
Aumento de demanda 2015-2016: 12%
Qualificações mais comuns: graduação em economia, administração, TI, saúde etc. A formação varia muito e costuma refletir o setor de atuação da empresa.
Nível de senioridade: de 5 a 20 anos de experiência, dependendo do mercado
Por que é cobiçado na crise? As empresas têm urgência de fazer novos negócios e as mais tradicionais buscam incorporar um espírito inovador e ousado neste momento, diz Bessa. Por isso, o profissional capaz de ajudar uma companhia a conquistar novos clientes , por meio de um discurso profundo e especializado — e não com o mero “papo de vendedor” — é cada vez mais disputado.
Quais competências precisa ter? Muitas empresas têm substituído executivos com longas trajetórias nessa área por pessoas mais jovens, talentosas e “imediatistas”. Habilidades de comunicação e persuasão são essenciais para vender produtos e serviços ainda desconhecidos no mercado.
Média salarial: 40 mil - 50 mil reais
Aumento de demanda 2015-2016: 25%
Qualificações mais comuns: diplomas clássicos do mercado financeiro (economia, administração etc) e direito
Nível de senioridade: pelo menos 10 anos de experiência
Por que é cobiçado na crise? De acordo com Bessa, este especialista é necessário para “arrumar a casa” em empresas que entraram em recuperação judicial ou enfrentam outros percalços financeiros. “Ele ajuda a vender ativos, decidir quais setores serão perpetuados e quais serão abandonados”, explica o diretor da Michael Page. “É uma figura essencial para dar credibilidade ao processo de reestruturação de um negócio”.
Quais competências precisa ter? É preciso ter larga experiência com reestruturação financeira, além de destreza na negociação com credores. Conhecimento em alternativas de financiamento, domínio de finanças corporativas avançadas e bom networking completam o perfil mais desejado pelas empresas.
Média salarial: 18 mil - 26 mil reais
Aumento de demanda 2015-2016: 27%
Qualificações mais comuns: diploma técnico na área de segurança ou graduação em engenharia, direito ou administração
Nível de senioridade: de 7 a 8 anos de experiência
Por que é cobiçado na crise? Segundo Bessa, a segurança corporativa costumava ser vista como uma área que só trazia custos, mas essa percepção se alterou com a crise. Este profissional é extremamente estratégico para o negócio porque seu desempenho tem impacto direto para o caixa das empresas: ele é responsável pela segurança física dos altos executivos das companhias, além de gerir toda a operação e promover a segurança dos centros de distribuição.
Quais competências precisa ter? Visão sistêmica, conhecimento profundo do funcionamento operacional da empresa e “faro” para identificar fontes de prejuízo financeiro são importantes. “Também precisa ter bastante calma e autoconfiança, porque vai mexer em verdadeiras ‘máfias’ e pode até sofrer ameaças”, explica o diretor da Michael Page.
Média salarial: 15 mil reais
Aumento de demanda 2015-2016: 15%
Qualificações mais comuns: quase todas as formações, com destaque para publicidade, marketing e administração
Nível de senioridade: de 3 a 10 anos de experiência
Por que é cobiçado na crise? A área ganha relevância num cenário de queda no volume de vendas e baixos investimentos, no qual empresas se preocupam em manter a base instalada de ativos com o menor custo possível. A missão deste profissional será gerir contratos de manutenção de equipamentos, vendas e instalação de peças sobressalentes, além de garantir o suporte técnico ao cliente.
Quais competências precisa ter? Além de visão de negócios e tino comercial, diz Bessa, esta pessoa deve ter flexibilidade para negociar e capacidade de enxergar as situações pelos olhos dos clientes.
Média salarial: 15 mil - 20 mil reais
Aumento de demanda 2015-2016: 23%
Qualificações mais comuns: graduação em administração, engenharia, economia, entre outras
Nível de senioridade: pelo menos 5 anos de experiência
Por que é cobiçado na crise? Em tempos difíceis para a economia, as equipes de vendas precisam ser mais eficientes do que nunca. O gerente de planejamento comercial é responsável por analisar indicadores de performance, organizar recursos e delinear estratégias de relacionamento com o consumidor.
Quais competências precisa ter? Perfil analítico, com boa base em finanças, é o mais requisitado. Também é importante que tenha habilidades de liderança e pensamento estratégico. “Quanto mais maduro, mais será disputado pelas empresas”, afirma Bessa.
Média salarial: 15 mil reais
Aumento de demanda 2015-2016: 20%
Qualificações mais comuns: graduação em engenharia, administração, economia e TI
Nível de senioridade: de 7 a 8 anos de experiência
Por que é cobiçado na crise? O PMO ajuda a redesenhar processos internos para gerar ganhos de eficiência diante da crise. A partir de um olhar estratégico e metodológico sobre a operação, ele pode executar projetos de melhoria contínua e adequação de recursos.
Quais competências precisa ter? Uma das habilidades mais importantes é o relacionamento. “Ele precisará fazer uma gestão indireta das pessoas, porque vai administrar projetos que as envolvem, mas não é o dono do negócio”, explica Bessa. Organização, jogo de cintura e capacidade de motivar os demais também são características fundamentais.
Média salarial: 13 mil reais
Aumento de demanda 2015-2016: 25%
Qualificações mais comuns: curso técnico ou graduação em engenharia e administração
Nível de senioridade: pelo menos 5 anos de experiência
Por que é cobiçado na crise? A procura por gerentes de compras aumentou muito na crise, porque o profissional pode ajudar as empresas a ter ganhos significativos, de 15% a 50%, em suas cadeias de abastecimento. Sua atuação se dá principalmente com base em renegociação de contratos e desenvolvimento de novos fornecedores.
Quais competências precisa ter? Pessoas proativas, dinâmicas e com experiência específica no mercado em questão são as mais procuradas. Também é importante ter aptidão para trabalhar com números.
Média salarial: 10 mil - 12 mil reais
Aumento de demanda 2015-2016: 30%
Qualificações mais comuns: graduação em economia, administração, saúde etc. A formação varia muito e costuma refletir a especialização da seguradora.
Nível de senioridade: de 3 a 15 anos de experiência
Por que é cobiçado na crise? Diante da recessão, o mercado das seguradoras busca diversificar sua carteira, para garantir sua rentabilidade. O despertar para áreas segmentadas é fruto dessa tendência, e ocorre principalmente por causa da dificuldade em vender produtos mais “convencionais”, como seguro para automóveis.
Quais competências precisa ter? De acordo com Bessa, este profissional precisa obrigatoriamente ter experiência específica na vertente em que vai atuar. “Como seu sucesso depende muito de ‘sola de sapato’, também precisa ter um nível alto de energia e foco nos resultados”, completa o especialista. “Ser capaz de competir de forma ética, com foco nas próprias qualidades e não nos defeitos da concorrência, também é fundamental”.
Média salarial: 15 mil - 25 mil reais
Aumento de demanda 2015-2016: 18%
Qualificações mais comuns: curso técnico ou graduação em engenharia e administração
Nível de senioridade: de 3 a 5 anos de experiência
Por que é cobiçado na crise? A evolução dos sinistros tem chamado a atenção de muitas empresas sobre a importância do gerenciamento de riscos. Um profissional de seguros capaz de identificar potenciais ameaças operacionais, administrativos ou financeiras numa companhia pode evitar grandes prejuízos para o cliente de uma seguradora.
Quais competências precisa ter? É essencial ter experiência “do outro lado do balcão”, isto é, já ter trabalhado no segmento de atuação dos clientes da seguradora. “Se ele conhece a realidade, as lacunas e os riscos do outro lado, desempenhará um trabalho muito mais preciso e eficiente”, diz Bessa. Também é importante ter visão de negócios, ser bem informado e dominar técnicas de negociação.
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