Presidente e vice da Mancha Alviverde seguem foragidos um mês após morte de cruzeirense

Publicado em 27/11/2024, às 16h28
A emboscada, na qual um dos ônibus ficou carbonizado, chamou a atenção do poder público, que prometeu identificar e prender os culpados - Reprodução
A emboscada, na qual um dos ônibus ficou carbonizado, chamou a atenção do poder público, que prometeu identificar e prender os culpados - Reprodução

Por Paulo Eduardo Dias / Folhapress

O líder da torcida Mancha Alviverde, principal torcida organizada do Palmeiras, segue foragido um mês depois da emboscada a torcedores do Cruzeiro que resultou na morte do motoboy José Victor Miranda, 30.

Era manhã de domingo, 27 de outubro, quando dois ônibus com membros da Máfia Azul (organizada do clube mineiro) que seguiam de Curitiba (PR) para Belo Horizonte (MG) foram atacados por torcedores da Mancha na rodovia Fernão Dias.

A ação, na altura do pedágio de Mairiporã, na Grande São Paulo, foi um revide a uma briga ocorrida na mesma rodovia, mas em solo mineiro, dois anos antes.

Naquela ocasião os palmeirenses levaram a pior. Entre eles estava o presidente da Mancha, Jorge Luis Sampaio dos Santos, 44, que teve os documentos roubados e depois exibidos como um troféu em jogos do Cruzeiro. Ele é suspeito de ser um dos idealizadores do ataque do mês passado.

No dia 30, a Justiça determinou a prisão de Santos e de seu vice, Felipe Mattos Santos, o Fezinho, 31. Eles e outros três integrantes da Mancha que também são procurados pela polícia seguem foragidos desde então. Procurada nesta quinta (26), a defesa do presidente e do vice não se manifestou.

Isso apesar da Secretaria da Segurança Pública estadual ter alterado a delegacia que cuida do caso, deixando a investigação com uma unidade com mais recursos.

De início a apuração foi aberta pela Drade (Delegacia de Polícia de Repressão aos Delitos de Intolerância Esportiva), unidade que ocupa uma sala pequena em um imóvel com outros núcleos da Polícia Civil, na Barra Funda, zona oeste de São Paulo. Na sequência, o inquérito foi encaminhado para o DHPP (Departamento de Homicídios e de Proteção à Pessoa), com muito mais estrutura e policiais.

Até esta terça-feira (26) dois palmeirenses suspeitos de envolvimento no caso foram detidos. Um no dia 1° novembro pela equipe da Drade e outro que se entregou nessa terça (26) após ser convencido pelo advogado a se apresentar. Ambos foram identificados posteriormente, e não estavam na lista inicial que teve a prisão decretada.

A emboscada, na qual um dos ônibus ficou carbonizado, chamou a atenção do poder público, que prometeu identificar e prender os culpados.

O Ministério Público comparou a Mancha Alviverde ao crime organizado. "Há firmes evidências de que algumas torcidas organizadas atuam como verdadeiras facções criminosas, o que justifica a intervenção do Gaeco", disse nota publicada no site do órgão sob a assinatura do procurador-geral de Justiça Paulo Sérgio de Oliveira e Costa.

O Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado é o mesmo que atua contra o PCC (Primeiro Comando da Capital), por exemplo.

Outro a se manifestar foi o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que publicou um posicionamento na rede X (antigo Twitter). "Vamos investigar, identificar e punir severamente os responsáveis por esse crime", disse ele.

No meio da apuração do caso, houve uma identificação equivocada, que quase encarcerou um homem negro que não participou do ataque.

O operador de máquinas Henrique Moreira Lelis, 34, teve o nome e a foto divulgados como sendo um dos envolvidos na emboscada. Ele foi reconhecido na comparação de uma foto dele com a de um homem que estava na briga.

A Polícia Civil então pediu a prisão dele. Os policiais argumentaram que Lelis teria se envolvido em uma briga em 2011. Além disso, afirmaram que na ocasião ele estava junto a um torcedor também suspeito de estar no ataque de outubro. A Justiça aceitou o pedido e decretou a prisão temporária dele.

No dia 4 novembro o advogado Arlei da Costa, do escritório AC Criminal, procurou a Folha para contar que Lelis estava a mais de 400 km do local do crime, no Rio de Janeiro, cidade onde mora. A defesa culpou um erro no reconhecimento facial como fator para colocar o palmeirense entre os participantes da confusão. No dia seguinte a Justiça reconheceu o erro e revogou o pedido de prisão.

"Eu pretendo entrar com uma reparação contra o Estado, porque o que aconteceu comigo foi algo muito grave. Colocaram minha foto na mídia, colocaram meu nome na mídia nacional. E conforme foram passando os dias, eu fui cada vez ficando mais angustiado", disse Lelis para a reportagem.

"Eu me sinto vítima de racismo, sim. Porque para mim, eles pegaram a primeira pessoa negra que eles acharam na imagem, que tinha mais ou menos a mesma fisionomia que a minha, pegou o meu cadastro e colocou como eu estivesse no momento lá da briga. Não teve uma investigação sincera, uma investigação correta e bem aplicada". Lelis soube que era procurado após insistentes ligações de familiares preocupados.

Em nota, a Secretaria da Segurança Pública disse que a 3ª Delegacia de investigações de Homicídios Múltiplos, da Divisão de Homicídios do DHPP, prossegue com as investigações para esclarecer o caso e prender outros envolvidos.

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