Um aumento médio de 80% no preço do quilo das carnes chegou ao consumidor de Fortaleza. Clientes e funcionários de supermercados e frigoríficos consultados pelo O POVO na tarde de ontem já observavam a mudança. Em cortes nobres pesquisados, como o filé mignon, o aumento registrado em alguns estabelecimentos alcançou os 100%. A principal causa é a maior demanda no mercado externo, em especial a China. Supermercados e restaurantes devem repassar saldo total da alta aos consumidores nos próximos dias.
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O analista de mercado das Centrais de Abastecimento do Ceará (Ceasa-CE), Odálio Girão, explica que o impacto maior recaiu sobre a carne bovina, que desde o início do ano já ficou 20% mais cara. Somente nas últimas semanas, a alta foi de 8%. Outras carnes, como a de frango e suína, tiveram acúmulo entre 7% e 11% desde o início do ano, respectivamente.
Ele explica que o Ceará não é um produtor de carne bovina que atenda à demanda do mercado local, já que há maior dedicação ao setor leiteiro. A proteína animal consumida no Estado vem de frigoríficos de Goiás, Tocantins e Pará.
"(A carne) Está chegando em quantidade menor. E como essa carne é cobiçada pelos países da Ásia, principalmente a China, aumenta o período de exportação, diminui a oferta no mercado nacional no período em que cresce o consumo entre os brasileiros por causa do período de fim de ano", analisa.
Engel Rocha é diretor de Patrimônio da Associação Cearense de Supermercados (Acesu) e afirma que alguns comércios vêm segurando os aumentos, até mesmo reduzindo a margem de lucro.
"Infelizmente, é insuportável trabalhar com a redução de margem, até porque supermercados já trabalham com uma margem bem reduzida. O aumento deve ser sentido até a próxima semana e já existe movimento dos consumidores na procura por frango e peixe", destaca. Segundo ele, o valor das aves de festa, como perus e chesters, chegarão ao mercado com valor agressivo.
Dorivan Rocha, presidente do Sindicato de Restaurantes,Bares, Barracas de praia, Buffets e Similares do Ceará (Sindirest), ressalta que os restaurantes já receberam reajuste de até 30% no valor da proteína animal no mercado. Ele justifica que isso será repassado ao consumidor pelo momento em que o setor atravessa.
Hoje os chineses respondem por metade da produção mundial de carne suína, além do consumo de 54 milhões de toneladas. Porém, desde agosto, o país enfrenta uma epidemia de peste suína africana, que dizimou 40% do plantel de quase 700 milhões de cabeças em um ano.
O economista e membro do Conselho Regional de Economia do Ceará (Corecon-CE), Vicente Férrer, diz que, por uma lógica de oportunidade de mercado, os frigoríficos brasileiros estão atendendo o mercado chinês, o que acaba desabastecendo o nacional. "É muito mais interessante exportar porque o negócio é feito em dólar - que está sendo cotado a valores recordes -, o que faz desse o momento das empresas faturarem", ressalta.
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