Por que os jogadores da Croácia estão sendo acusados de apologia ao fascismo

Publicado em 16/07/2018, às 06h24

Por Redação

Surpresa da Copa da Rússia ao chegar pela primeira vez a uma final do mundial, a seleção da Croácia se viu envolvida em polêmica após a exposição do nacionalismo de seus jogadores. Parte disso tem raízes na tumultuada história croata, marcada por opressão, guerras e conflitos.

Em vídeo divulgado pelo jogador Lovren após a vitória sobre a Argentina, ainda na primeira fase da competição, os croatas aparecem cantando no vestiário a música Bojna Cavoglave, da banda Thompson, que faz apologia ao fascismo.

A canção se inicia com a frase "Za dom spremni", que em português significa "Pela pátria, preparados", lema e saudação tradicional do grupo fascista Ustase, que controlou a Croácia durante a Segunda Guerra Mundial. Os nazistas cederam o governo croata a essa milícia local em 1941, quando ocuparam a antiga Iugoslávia.

O segundo episódio controverso ocorreu logo depois da vitória da Croácia sobre a Rússia, nas quartas de final da Copa. Em vídeo que circulou nas redes, o zagueiro Domagoj Vida e o auxiliar técnico Ognjen Vukojevic aparecem gritando "Glória à Ucrânia".

O lema remete à revolução que em 2014 resultou na queda do então presidente da Ucrânia Viktor Yanukovich, aliado da Rússia. A crise desencadeou um conflito e, como resposta, os russos ocuparam e anexaram a península da Crimeia.

Os gritos de "Glória à Ucrânia" também são entoados por grupos contrários à Rússia que, não raro, flertam com o nacionalismo xenófobo.

A versão oficial da seleção da Croácia é de que o jogador e o auxiliar faziam uma homenagem a um clube onde já jogaram, o Dínamo de Kiev. Ambos se desculparam, mas Vukojevic foi multado e afastado da Copa. Vida, uma das estrelas da seleção croata, foi advertido pela Fifa.

Em outro vídeo ainda sob investigação, Vida aparece dizendo "Belgrado em chamas!" após os gritos de "Glória à Ucrânia". Belgrado é a capital da antiga Iugoslávia e, hoje, capital da Sérvia. Inimigos históricos da Croácia, os sérvios são antigos aliados da Rússia, com quem possuem laços étnicos e religiosos.

A milícia Ustase, que controlou a Croácia com o apoio de Adolf Hitler na Segunda Guerra, promoveu um genocídio de sérvios. Foi também um conflito sangrento com os sérvios, com massacres de ambos os lados, o resultado do processo de independência da Croácia da antiga Iugoslávia, a partir de 1991. Esse histórico de guerra nos Bálcãs explica parte do incômodo causado pela euforia nacionalista dos croatas.

O futebol croata já foi marcado por outros episódios de cunho fascista e até nazista. Em 2013, a saudação Ustase foi feita pelo jogador Josip Simunic quando a Croácia se classificou para a Copa do Mundo de 2014. Ele foi punido e não pode participar do mundial no Brasil.

Em 2015, a Croácia sofreu sanções por uma suástica marcada no gramado do estádio onde havia sido disputada uma partida contra a Itália.

Nesta Copa da Rússia, a seleção croata chega à final com a fama de jogar com garra. Segundo o jornal Folha de S.Paulo, o próprio técnico Zlatko Dalic atribui a dedicação em campo ao nacionalismo da equipe, que seria responsável pela união do grupo. "É o nosso combustível".

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