Evaristo de Miranda, no portal "Diário do Poder":
"Foram séculos até o Ocidente criar e adotar o calendário atual. No início do cristianismo, havia três calendários: judaico, romano e litúrgico. Nenhum satisfatório.
O calendário judaico era essencialmente lunar. Os nomes dos meses são de origem assiro-babilônica, assimilados no exílio na Babilônia, no século IV a.C.. São necessários ajustes complexos para encaixar-se no ano solar e para a Páscoa acontecer sempre na primavera. Os anos são contados desde a 'criação do mundo', 5.784 anos atrás. Um planeta bem rejuvenescido.
O calendário romano ou juliano era solar e herdado dos sacerdotes egípcios. Eles estabeleceram um ano de 365 dias, por volta do ano 2800 a.C. Os anos eram contados a partir da fundação de Roma, o ano 753 a.C. A data de início de cada ano era fixa, no primeiro dia de março. Passou por evoluções. Ainda é utilizado pelos cristãos ortodoxos, como calendário religioso.
Nos primeiros séculos, a referência principal do calendário litúrgico cristão era a Páscoa, data da morte de Jesus. Com as divergências entre o calendário judaico e o romano, havia várias datas para o início do ano e a Páscoa.
No século V, o Papa João I decidiu dar fim às 'querelas pascais'. Para ajustar o calendário litúrgico, o lunar judaico e o solar romano, ele designou o monge Dionísio, um erudito, canonista, tradutor, astrônomo e matemático.
No ano 525, ele sugeriu ao Papa a revisão completa da divisão do tempo e sua contagem não mais na morte, mas no nascimento de Cristo. E tomou essa data como início da Era Cristã: 25 de dezembro do ano 753 do calendário romano. Encerrou a Era dos Césares. O conceito do Ano do Senhor, Anno Domini (A.D.) está em vigor até hoje. Agora, A.D. 2025.
Só por esse deslocamento de data, Jesus já teria nascido um ano antes do ano 1 da Era Cristã. Não havia ano zero no cálculo. O ano 1 a.C. foi sucedido pelo ano 1 d.C.. O primeiro século da Era Cristã teve 99 anos. Esse e outros fatores levaram Dionísio a um pequeno erro. Jesus nasceu entre os anos 3 e 6, antes da Era Cristã. O Papa Bento XVI mostrou esse erro na obra 'A Infância de Jesus'.
Sob o calendário juliano, com imprecisões e deriva temporal, os equinócios se distanciaram da data real em 10 dias no século XVI. Por determinação do papa Gregório XIII, matemáticos e astrônomos jesuítas das universidades de Salamanca e Coimbra trabalharam nas bases de um novo calendário. Em 24 de fevereiro de 1582, pela bula Inter gravissimas, o papa lançou o Calendário Gregoriano, adotado em Portugal, Espanha e Estados Pontifícios. Logo nos países protestantes e, hoje, no planeta.
Existe um discurso Woke, politicamente correto, associado à cultura do cancelamento e da censura, onipresente na Internet, sobre o calendário e a marcação do tempo. Ele busca eliminar as referências a Cristo no calendário. Anacrônicos, esses canceladores e censores ideológicos apontam as datas estabelecidas pela Igreja ao longo de séculos como arbitrárias.
As datas do atual calendário foram arbitradas, e não arbitrárias, com os melhores critérios em seu contexto histórico. Inúmeras questões necessitam de arbítrio. Não há livre arbítrio no calendário. Nem há receita bíblica para calcular o tempo. Ele foi arbitrado várias vezes, com recurso aos melhores cientistas de cada época, por uma das maiores autoridades temporais, a Igreja. O Tempo Ocidental se impôs aos do Oriente e alhures.
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