Polícia prende 12 por ataques que deixaram cidades do Ceará sem internet

Publicado em 12/03/2025, às 18h39
Josué Seixas/FolhaPress
Josué Seixas/FolhaPress

Por Redação

Dezessete pessoas foram presas nesta quarta-feira (12) em operação da Polícia Civil que tem como alvo facção criminosa responsável por uma série de ataques contra empresas provedoras de internet que deixou cidades do Ceará, incluindo Fortaleza, sem o serviço desde o fim de fevereiro.


Pela manhã, foram cumpridos 12 mandados de prisão. Outras cinco pessoas foram presas em flagrante, em Fortaleza, por suspeita de funcionamento clandestino de empresas de internet e por receptação.


Os criminosos, segundo a polícia, ameaçavam as empresas e seus funcionários e exigiam parte do valor arrecadado com a mensalidade paga pelos clientes para que o sinal de internet continuasse a ser fornecido nas localidades.


Quem não aceitava, tinha o patrimônio e a infraestrutura de distribuição destruídos, de acordo com a investigação. A polícia ainda aponta que a facção queria tomar o controle das operações nas regiões, vendendo um serviço próprio.


Além dos 12 presos, todos da mesma facção, a operação cumpriu 37 mandados de busca e apreensão nas cidades de Fortaleza, Caucaia, São Gonçalo do Amarante e Horizonte, sendo 14 em sedes de provedores de internet —alguns clandestinos, sem autorização ou cadastro para funcionamento.


Em entrevista à imprensa na manhã desta quarta, o delegado da Polícia Civil Márcio Gutiérrez falou sobre a prisão de dois homens, considerados chefes do grupo responsável pelos crimes.


O primeiro alvo, um homem de 21 anos, foi preso em São Gonçalo do Amarante. Com ele, duas pistolas, dez munições de calibre .40, celulares e eletrônicos foram apreendidos, segundo a polícia.


O segundo alvo foi um homem de 30 anos, que tem na ficha criminal crimes de integrar organização criminosa, tráfico de drogas, associação criminosa, associação para o tráfico, posse ilegal de arma de fogo e receptação. Ele já estava preso na cidade de Sobral por ser suspeito de envolvimento em um homicídio em Fortaleza.


Os outros presos têm idades entre 21 e 43 anos e já são investigados por crimes de tráfico de drogas, homicídios e roubos.


Segundo a polícia, não há confirmação de alguma empresa totalmente controlada pelos criminosos, mas a investigação identificou que algumas podem ter cedido à pressão dos criminosos, atuando em conjunto no fornecimento do sinal de internet.


Alisson Gomes, delegado titular da Draco (Delegacia de Repressão às Ações Criminosas Organizadas), afirmou que as prisões foram feitas de forma estratégica para começar a desmantelar o esquema e que o suspeito considerado articulador dos ataques e extorsões já havia sido preso no fim de semana, por conta de um mandado de prisão por homicídio.
O grupo especial de investigação foi criado no último sábado (8) pelo governador Elmano de Freitas (PT), com a participação da Coin (Coordenaria de Inteligência) e da Ciopaer (Coordenadoria Integrada de Operações Aéreas).


Nesse dia, a cidade de Caridade ficou sem sinal de internet após um ataque dos criminosos destruir cabos e quebrar caixas de transmissão. Estima-se que 90% da cidade tenha sido afetada. O município de Caucaia foi alvo de ataque semelhante nesta semana.
De acordo com o secretário da Segurança Pública e Defesa Social do Ceará, Roberto Sá, essa é "só uma das primeiras ações tomadas" em relação aos ataques que vêm acontecendo no estado.


EMPRESA FECHA LOJAS E SUSPENDE SERVIÇO


Após os danos causados pelos ataques, provedores de internet têm fechado lojas e suspendido o serviço nas áreas afetadas.


A A4 Telecom informou, por meio de nota, que após ataques o serviço está indisponível na região de Sítios Novos, e as lojas nas regiões de Pecém e Sítios Novos não estão em funcionamento. A rede da operadora também foi alvo dos criminosos em Caucaia.
"Por medidas de segurança, suspendemos todas as operações em ambas áreas", disse.
Já a Brisanet, teve dois carros incendiados em Jacarecanga, na periferia de Fortaleza, no dia 22 de fevereiro.


Questionada, a empresa confirmou que teve ocorrências de danos à sua infraestrutura em algumas localidades na Região Metropolitana de Fortaleza, o que afetou serviços prestados aos clientes. O atendimento presencial está ocorrendo conforme viabilidade operacional de cada localidade, com apoio das forças de segurança.


"A Brisanet está adotando protocolos de segurança para garantir a integridade física e emocional dos colaboradores e proteger seus ativos. Por questões estratégicas, a empresa não divulga detalhes operacionais, incluindo imagens de ocorrências", informou.

A Xconnect Telecom afirmou que, devido aos ataques em Pecém e Sítios Novos, além da destruição de uma loja no local, os serviços estão inoperantes na região e não têm previsão para retorno.


A empresa relatou ter sofrido três ataques: no dia 22 de fevereiro, cortaram os cabos; no dia 24, arrancaram as caixas dos postes em Sítios Novos; no dia 9 de março, houve a quebra da loja.

Conforme o relato, os criminosos tentaram contato por meio do canal de atendimento. Mensagens obtidas pela Folha de S.Paulo mostram que uma pessoa pediu para falar com o dono ou gerente da loja e que pediria para um amigo levar um celular e haveria a chamada.


"Vocês estão ganhando dinheiro dentro da nossa área, então ou vai fechar com nós ou nós vai tirar tudo o que é de internet aí na região. Mas, veja pelo lado bom: se fechar com nós, a única internet que vai ter é a que fechar com nós", diz a mensagem.


A Uniproce Brasil, entidade que representa os provedores de internet no Brasil, disse que "acompanha com grande preocupação os desafios enfrentados por algumas empresas do setor no estado do Ceará". Nosso compromisso sempre foi com a livre iniciativa, o desenvolvimento tecnológico e a garantia de conectividade para a população cearense.

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