A Polícia Civil deflagrou no final da madrugada desta sexta-feira a Operação Karatê S/A, contra a lavagem de dinheiro do tráfico da Cidade de Deus, na Zona Oeste do Rio. Há relatos de intensos confrontos na região. Os agentes saíram para cumprir seis mandados de prisão, 25 busca e apreensão e duas determinações de sequestro de imóveis, no valor de R$ 3 milhões, expedidos pela 1ª Vara Criminal Especializada da Capital.
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O alvo principal é Ederson José Gonçalves Leite, o Sam, chefe do tráfico da Cidade de Deus e integrante da cúpula da maior facção criminosa do estado. Sam estava em liberdade condicional desde março. O criminoso estava preso desde 2001 e chegou a ficar em presídio federal. Mas, deixou a cadeia pela porta da frente beneficiado por uma decisão judicial.
Nesta quinta, duas mulheres já haviam sido presas: Dilma Lins da Silva Fonte Lopes, encontrada em uma casa de luxo na região da Taquara, e Ivone João Pedro. As duas já foram casadas com Sam e, de acordo com as investigações, eram laranjas do traficante.
Por conta da operação, a Clínica da Família Lourival Francisco de Oliveira e o Centro Municipal de Saúde Hamilton Land não estão funcionando desde a manhã de sexta-feira.
De acordo com o delegado Gustavo Rodrigues Ribeiro, titular da Delegacia de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro (DCC-LD), “essa investigação começou há dois anos e meio, em 2019, a partir de informações do Coaf por movimentações atípicas de pessoas relacionadas ao tráfico de drogas da Cidade de Deus”. Além disso, os investigadores descobriram que os bandidos passaram a ganhar dinheiro com o monopólio do gato de TV a cabo em todos os bairros de Jacarepaguá, Araruama e Angra dos Reis.
— O Coaf deu uma determinada quantidade financeira movimentada e alvos. Através da quebra de sigilo, chegamos até as ex-mulheres do Sam, no próprio Sam e no seu sobrinho, o Weverton Rodrigo Gonçalves de França, o RD ou Cocão — conta Ribeiro, que completa: — Eles tinham três núcleos específicos: um núcleo era o de aquisição de imóveis e carros com dinheiro em espécie, na mala de dinheiro. Eles não tinham renda para comprar, por exemplo, uma casa com entrada de R$ 350 mil em dinheiro e parcelas de 10 vezes de R$ 20 mil. Eles compravam essas casas em condomínios fechados. O segundo núcleo era o que cometia os crimes na região de Jacarepaguá e Barra da Tijuca, além de expandir o gato de TV a cabo e o terceiro núcleo era a lavagem de dinheiro feita por pessoas próximas do Sam — relata.
Segundo a Civil, os criminosos expulsaram empresários que forneciam internet na Cidade de Deus e instalaram as empresas: Plano IP, GoIP Fibras e Starlinks . Todas elas, de acordo com as investigações, eram usadas para a lavagem de dinheiro do tráfico de drogas. Após se expandirem na Cidade de Deus, eles foram para todos os sub-bairros de Jacarepaguá e diversas favelas da facção criminosa. Além de Araruama, na Região dos Lagos, e Angra dos Reis, na Costa Verde fluminense.
— Essas empresas começaram umbilicalmente, após eles expulsarem empresários daquela região para que eles pudessem monopolizar o gato de TV a cabo. Como eles ganharam muito dinheiro, ampliaram o negócio para o asfalto. Passaram a fornecer o serviço para outros bairros e comunidades dessa facção. Crescendo mais ainda, eles passaram a fornecer outros provedores em Angra dos Reis e em Araruama — explica o delegado do caso. Essas empresas atuam há pelo menos três anos e seriam de laranjas do tráfico.
Além de lavarem o dinheiro com internet, os bandidos também abriram um açougue, que em três anos teria movimentado mais de meio milhão de reais.
— Existe um açougue que movimentou R$ 500 mil em três anos. Esse CNPJ só foi criado para movimentar notas fiscais — pontuou o delegado.
Por ser um local de difícil acesso, segundo a polícia, Sam autoriza que criminosos da região do Karatê fomentem e lucrem com os crimes que acontecem na região de Jacarepaguá e Barra da Tijuca.
— Essa localidade do Karatê autoriza e lucra roubos na região. Criminosos do Lins e do Borel fazem de lá bases para roubos. Essa ação de hoje vida desarticular a base financeira e dar um recado que não vamos permitir esse tipo de crime — diz o delegado Gustavo Ribeiro.
O EXTRA tenta contato com as empresas Plano IP, GoIP Fibras e Starlinks.