Pilotos se empolgam com novos carros, mas pneus sofrem com excesso de peso

Publicado em 30/03/2022, às 21h33
Divulgação /F1
Divulgação /F1

Por Julianne Cerasoli / Folhapress

Após duas corridas, alguns padrões já começam a ficar claros nesta nova fase da Fórmula 1, com carros projetados para gerarem menos turbulência e ajudarem nas disputas por posição. Os pilotos são unânimes em concordar que houve uma clara evolução e agora é mais fácil seguir um rival de perto. Mas também há ressalvas em relação aos pneus, bastante exigidos com carros que estão mais de 50 kg mais pesados que no ano passado.

"Essa corrida teve disputas por todo o canto", se empolgou Esteban Ocon, sexto colocado após passar Lando Norris na última volta do GP da Arábia Saudita no último domingo (27). "As novas regras certamente geraram disputas mais acirradas. Não dá mais para abrir uma vantagem nas curvas rápidas porque o outro carro consegue fazer a curva colado em você. O DRS é mais poderoso. A diferença é grande em comparação com o ano passado, acho que o show está melhor com estes carros."

Mesmo andando mais no fim do grid com uma McLaren que não começou bem o ano, Daniel Ricciardo não apenas concorda como vê esse como o grande ponto do positivo de seu 2022 até aqui. "Certamente podemos seguir uns aos outros mais de perto e isso torna as batalhas mais divertidas e empolgantes. Saber que dá para brigar roda a roda é algo que a gente esperava que acontecesse com esses carros e, até aqui, isso está acontecendo".

As disputas acontecem em todos os lados do grid, inclusive na ponta, com Charles Leclerc e Max Verstappen tendo duelos que duraram algumas voltas nas duas primeiras etapas. "Eu gosto de disputas assim!", disse Leclerc mesmo após chegar em segundo na Arábia Saudita. "As batalhas são muito justas e estou me divertindo muito. Até mesmo no final da corrida pude fazer várias voltas de classificação em sequência e isso é muito legal", completou Verstappen.

PNEUS SEGUEM SENDO UM FATOR LIMITANTE PARA AS ULTRAPASSAGENS - As reações às novas regras foram mais positivas após a corrida de Jeddah do que foram depois da primeira corrida do ano no Bahrein, e o motivo é simples: embora os carros permitam seguir o rival mais de perto, os pneus já se mostraram um fator limitante. E nem dá para jogar toda a responsabilidade na Pirelli, fornecedora única da F1.

"Não acho que nós mesmos atingimos as metas que tínhamos com o carro", lembrou o chefe da Williams, Jost Capito, referindo-se ao peso mínimo. "A maioria dos carros está acima do peso e os pneus foram desenvolvidos para o peso mínimo. Então não dá para colocar a culpa nos pneus."

Os números exatos não são divulgados, mas sabe-se que há equipes com mais de 20kg acima do peso mínimo, que já aumentou em 46kg em relação ao ano passado com as novas regras. Isso influencia a tendência ao superaquecimento que muitos pilotos sentiram na primeira etapa no Bahrein. A pista da Arábia Saudita já não é tão dura com os pneus, então foi a primeira vez que os pilotos tiveram uma noção melhor da diferença das novas regras.

Como citou Verstappen, especialmente com o composto duro no final, foi possível disputar posições sem toda a preocupação do passado com os pneus, até porque, se o carro gera menos turbulência, o piloto que vem atrás segue o rival de perto sem escorregar, o que ajuda a borracha. Tanto, que nas voltas finais era visível que Verstappen e Leclerc tiravam tudo de seu equipamento.

O Bahrein sempre foi uma pista muito dura com os pneus, então o que se viu em Jeddah certamente não será um caso isolado.

Essa facilidade de seguir o rival por perto e manter uma disputa por várias voltas pode até influenciar na maneira como as equipes administram as próprias batalhas internas, como lembrou Otmar Szafnauer, chefe da Alpine.

Quando viu seus pilotos Fernando Alonso e Esteban Ocon lutarem por posição no GP da Arábia Saudita, inicialmente a reação da equipe foi deixá-los competir. Mas depois eles perceberam que a batalha duraria por toda a prova se eles não intervissem, fazendo com que ambos desgastassem seus pneus e, possivelmente, perdessem terreno para os rivais. Foi quando o time instruiu Ocon a não atacar mais Alonso e esperar para a fase final da prova. O espanhol acabou abandonando, mas mesmo assim o francês terminou a corrida roda a roda com Norris.

O inglês lembrou que não dá para saber bem o que esperar da próxima corrida na Austrália, dia 10 de abril. "Mudaram o traçado e o asfalto também, é como se fosse uma pista nova". Porém, como as mudanças deixaram o circuito mais rápido, é de se esperar outra corrida movimentada.

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