O Programa de Apoio aos Animais chega aos quatro anos com resultados expressivos e contribuições para as políticas públicas de enfrentamento ao abandono em áreas urbanas no Brasil. Esta é a avaliação do médico-veterinário e professor da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Pierre Barnabé Escodro. Coordenador técnico do programa desenvolvido em parceria com a Fundação Universitária de Desenvolvimento de Extensão e Pesquisa (Fundepes) e a Braskem, Pierre explicou como as ações voltadas para o cuidado dos pets das famílias realocadas das áreas de desocupação, em Maceió, viraram exemplo para o país.
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Qual o balanço que o senhor faz desses quatro anos de programa?
Pierre: O que vivemos em Maceió tornou-se um marco histórico para políticas públicas que tratam de abandono de animais em áreas urbanas, causa animal e saúde única. Construímos exemplos que viraram referências nacionais. Participamos de ações no Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima (MMA), que desencadearam o Programa Nacional de Manejo Populacional Ético de Cães e Gatos, contribuindo não só nas políticas de castração, mas de toda parte educacional e sanitária envolvida.
O Programa alcançou reconhecimento por seu impacto social?
Pierre: Sim, inclusive internacional, com apresentações no Uruguai e Argentina. Temos números expressivos, com mais de oito mil atendimentos, cinco mil castrações, o canal de adoções e todo o trabalho de conscientização da sociedade para prevenir o abandono. Isso chama atenção da comunidade internacional pelo ineditismo. Hoje, nosso exemplo de CED (método de controle populacional de cães e gatos por meio da captura, esterilização e devolução) já alcançou mais de quatro mil animais e isso significa dizer que temos um dos maiores programas de apoio a animais da América Latina. Por isso o Ministério do Meio Ambiente nos colocou como responsáveis pela pauta do CED no Brasil e estamos com um programa de capacitação de médicos veterinários para que repliquem o método em outras regiões do país. Entre outras ações, damos apoio à polícia, quando chegam denúncias de maus-tratos através do telefone 181, com protocolo padronizado e uma equipe técnica que atua nos cuidados pós-resgate.
Com a maior parte dos moradores das áreas de risco que possui animal de estimação realocada, como vai seguir o Programa?
Pierre: Estamos em um período de transição trabalhando no resgate dos animais errantes antes do momento das demolições nas áreas desocupadas. Precisamos manter equipes de apoio técnico para essa fase, cuidar dos animais que já foram recolhidos e promover cada vez mais a adoção responsável. Também seguimos promovendo educação ambiental em escolas públicas como forma de combater o abandono.
Além do trabalho de conscientização, como o programa atua para evitar o abandono de animais nas áreas desocupadas?
Pierre: Contamos com o apoio da Delegacia de Crimes Ambientais e Proteção Animal, para onde encaminhamos as denúncias de maus-tratos e abandono, inclusive com as imagens das câmeras de segurança que funcionam 24 horas na região, mas a educação ainda é a nossa maior aliada.
Quando ensinamos a população sobre a gravidade do crime, o próprio cidadão se encarrega de fiscalizar e, muitas vezes, coibir novos abandonos. Além disso, não podemos deixar de citar o apoio da Comissão de Bem Estar Animal da OAB, Ministério Público do Estado de Alagoas, Superintendência de Proteção dos Animais da Secretaria de Estado da Cidadania e da Pessoa com Deficiência (Secdef), Centro de Controle de Zoonoses de Maceió e Batalhão da Polícia Ambiental.
A estrutura de acolhimento dos animais em Viçosa acaba de ganhar novos canis e um espaço recreativo. Como esse espaço impacta a vida dos animais acolhidos?
Pierre: As colônias foram realocadas juntas, ou seja, os animais que antes viviam juntos nas ruas também serão mantidos juntos no programa para evitar estranhamento excessivo. O espaço usado para acolher os animais que já estão lá e os errantes é amplo, com cerca de 20 mil m². Nesse espaço fizemos uma área livre para que os cães possam brincar livres e protegemos ambientes com redes para os gatos poderem circular tranquilamente.
Além dos brinquedos antiestresse disponibilizados para os felinos, algo mais pode ser feito para a saúde desses animais que ainda não foram adotados?
Pierre: Grande parte dos animais que temos hospedados são felinos, portanto, são mais suscetíveis a doenças relacionadas ao estresse. Para eles, fizemos circuitos estimulantes com arranhadores, passarelas e nichos com brinquedos. Além disso, sempre estamos realizando estudos e em contato com especialistas para capacitar a equipe de cuidados e trazer qualidade de vida a todos os animais hospedados conosco.
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