PF descobre importação de armas de guerra para o tráfico do RJ; entregas eram feitas pelos Correios e transportadoras

Publicado em 24/03/2025, às 10h47
PF descobre importação de armas de guerra para o tráfico do RJ; entregas eram feitas pelos Correios e transportadoras - Foto: Reprodução/TV Globo
PF descobre importação de armas de guerra para o tráfico do RJ; entregas eram feitas pelos Correios e transportadoras - Foto: Reprodução/TV Globo

por Letícia Pascoalino

Publicado em 24/03/2025, às 10h47

O traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, conhecido como Peixão, um dos chefes do Terceiro Comando Puro (TCP), montou um esquema próprio de importação de armamento pesado para abastecer as favelas sob seu controle, na Zona Norte do Rio de Janeiro (RJ).

Segundo a investigação, as compras incluíam drones, fuzis e até granadas, enviados ao Brasil por empresas de transporte e até pelos Correios.

Áudios obtidos pela Polícia Federal mostram Peixão negociando a compra de drones e equipamentos anti-drone com fornecedores internacionais.

"A partir de agora, a gente já não vai parar mais não, né? Toda semana a gente vai estar comprando alguma coisa. Eu vou me programar pra semana que vem fazer uma compra de 100 mil”, diz Peixão.

Segundo os investigadores, Peixão se diz dono de um pedaço do Complexo de Israel, onde vivem cerca de 140 mil pessoas.

As investigações apontam que o traficante era assessorado por Everson Vieira Francesquet, apelidado de “Deus” nas conversas com fornecedores. Everson atuava como armeiro da facção e coordenava as importações. Ele foi preso após tentar retirar um fuzil anti-drone identificado como “brinquedo eletrônico” em uma encomenda dos Correios para Nova Iguaçu.

No celular de Everson, a PF encontrou mensagens com vendedores da China e do Paraguai. Os produtos eram comprados em dólar e enviados com códigos de rastreamento.

Recibos da empresa DHL mostram entregas de Hong Kong para a casa de Everson. Em uma das mensagens, ele afirmou que compraria cinco equipamentos anti-drone de uma vez.

"Veja a melhor forma de envio, dessa vez vou comprar 5 de uma vez. Tenho muitos clientes que querem isso", diz Peixão.
Peixão também usava transportadoras locais para receber armamentos. "Eu consigo a transportadora que traz, já. Já tenho contato com a transportadora que vai trazer, até se for um fuzil. Não tem problema”, diz Peixão em áudio.

O esquema envolvia laranjas que movimentavam grandes quantias via Pix. Comprovantes mostram pagamentos de R$ 30 mil e R$ 32 mil usados na compra de armas.

A PF afirma que a facção comprava fuzis do Paraguai por valores que variavam entre R$ 7,5 mil e R$ 15 mil. A operação revelou ainda que Everson foi preso novamente neste mês, ao se apresentar à Justiça. Ele responde por tráfico internacional de armas e participação em organização criminosa. A PF quer sua transferência para um presídio federal.

Em entrevista ao Fantástico, a PF defendeu maior integração entre órgãos de segurança para combater a entrada de armas no país.

“A integração tem um papel fundamental nisso. Os problemas são muito grandes e complexos e exigem coordenação e união de esforço. Desde que assumiu aqui, não só agora, já busca isso, tanto com Receita Federal, IBAMA, em todas as nossas vertentes de trabalho, a gente vem buscando Polícia Civil, Polícia Militar, Secretaria de Segurança”, disse o superintendente Fábio Galvão.
Peixão segue foragido. A Polícia Civil já fez operações para tentar prendê-lo, incluindo a destruição de um resort do tráfico construído dentro de uma favela, com academia, piscina e lago artificial. Agora, ele também é indiciado por importação ilegal de armas e equipamentos de guerra.

Em nota, os Correios informaram que mantêm atuação rigorosa no combate ao envio de objetos ilícitos e colaboram com órgãos de segurança. A DHL Express afirmou que não compactua com atividades criminosas e acompanha o caso. O AliExpress declara que repudia qualquer atividade criminosa e está disponível para colaborar com as autoridades responsáveis.

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