A PF (Polícia Federal) concluiu na última sexta-feira (1º) o inquérito sobre os assassinatos do indigenista Bruno Pereira e do jornalista Dom Phillips. Em relatório final, a polícia confirmou que os crimes ocorreram em razão da atividade de fiscalização realizada por Pereira na região da Terra Indígena Vale do Javari, no Amazonas, na fronteira com Colômbia e Peru.
Em dois anos de investigação, nove pessoas foram indiciadas. O inquérito resultou no indiciamento do suspeito considerado como mandante dos crimes: Ruben Dario da Silva Villar, conhecido como Colômbia. Ele está preso.
Cabe ao MPF (Ministério Público Federal) decidir se denuncia ou não o homem apontado como mandante dos crimes.
Segundo a PF, o suposto mandante forneceu cartuchos para as execuções, patrocinou as atividades da organização criminosa voltada à pesca ilegal no Vale do Javari e teve atuação na coordenação da ocultação dos corpos das vítimas.
O inquérito apontou ainda, conforme nota divulgada pela PF, a atuação do crime organizado na região de Atalaia do Norte (AM), porta de entrada para o Vale do Javari. Essa atuação está ligada a pesca e caça ilegais.
"A ação do grupo criminoso gerou impactos socioambientais, causou ameaças aos servidores de proteção ambiental e às populações indígenas", disse a PF.
O MPF no Amazonas denunciou como executores do crime Amarildo Oliveira, o Pelado; seu irmão Oseney de Oliveira, o Dos Santos; e Jefferson da Silva Lima, o Pelado da Dinha.
Amarildo e Jefferson serão levados a júri popular. Por falta de provas, o TRF (Tribunal Regional Federal) da 1ª Região determinou a exclusão de Oseney do julgamento popular.
Bruno e Dom foram assassinados no começo da manhã de 5 de junho de 2022. Os corpos só foram encontrados dez dias depois, em uma das margens do rio Itaquaí, no Vale do Javari, nas proximidades da comunidade onde moravam dois dos três denunciados.
O MPF argumentou que Amarildo e Jefferson confessaram os crimes. A participação de Oseney, por sua vez, foi comprovada por depoimentos de testemunhas, segundo o MPF.
O órgão afirmou ainda que já havia registro de desentendimentos entre Bruno e Amarildo por pesca ilegal no território indígena.
"O que motivou os assassinatos foi o fato de Bruno ter pedido para Dom fotografar o barco dos acusados, o que é classificado pelo MPF como motivo fútil e pode agravar a pena", disse a Procuradoria.
As investigações da PF prosseguiram após a denúncia. Os policiais buscaram desvendar o "nível de ódio", nas palavras dos investigadores, que levou pescadores da região do Vale do Javari a executarem as duas vítimas.
Outros pescadores, alguns deles familiares de Amarildo, foram indiciados pela PF, especialmente pela participação na ocultação dos corpos das duas vítimas. Eles também já foram denunciados pelo MPF.