Como um transtorno de humor que afeta milhões de pessoas no mundo, a depressão já foi estudada nos seus mais variados aspectos; seja quanto a causas, sintomas e impactos, ou sob os enfoques psíquico, social e profissional. Mas um estudo recente inovou ao traçar um comparativo entre o comportamento de consumo das pessoas acometidas pela doença no Brasil e na Alemanha e verificar que há categorias de consumo diretamente relacionadas à depressão, independentemente do país analisado.
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“Nessa relação, o Brasil possui maior índice de depressão, já os alemães consomem mais hedonisticamente (para buscar o prazer imediato)”, afirma Daniela Gomes Alcoforado, autora da dissertação “Depressão e Hábitos de Consumo: um Estudo Cross-Cultural entre Brasil e Alemanha”, defendida no Programa de Pós-Graduação em Administração da UFPE (Propad).
No estudo, orientado pelo professor Francisco Vicente Sales Melo, a autora aplicou questionários em 1.627 indivíduos, sendo 868 do Brasil e 759 da Alemanha, e constatou que mulheres, desempregados, bissexuais, além de indivíduos não-religiosos, endividados e de menor escolaridade possuíram maior tendência depressiva, tanto em um como no outro país.
Para analisar a relação entre o transtorno depressivo e os hábitos de consumo, Daniela adotou o método de Pesquisa Transformativa do Consumidor (PTC), na qual se busca contribuir para o bem-estar e qualidade de vida daqueles cuja doença afeta o consumo e vice-versa, ou seja, quando o consumo interfere na doença. “Não podemos perder de vista que, apesar de possuir um distúrbio psíquico, um indivíduo depressivo continua desenvolvendo atividades no trabalho e participa de situações que envolvem o consumo cotidianamente”, destaca.
Tipos de consumo
A prática de fazer compras em busca de prazer imediato, segundo a autora, foi utilizada pelos depressivos, sobretudo na Alemanha, como forma de escape à rotina diária e para esquecer problemas pessoais. Esse tipo de consumo se materializa, por exemplo, na aquisição de cigarros, medicamentos, drogas ilícitas, jogos eletrônicos e comidas não saudáveis.
Em paralelo, aponta a pesquisa, “esses pacientes engajam-se menos em modalidades de entretenimento ou sociabilidade e praticam menos atividades físicas”. E, justamente por ter identificado que indivíduos com algum nível de depressão possuem especificidades comportamentais que os diferem de um consumidor sem depressão é que o trabalho elenca as práticas de consumo cotidianas desses pacientes. A ideia de Daniela foi propor políticas públicas que promovam mudanças de hábitos para afetar positivamente o bem-estar deste perfil de consumidor.
Dados
A taxa total de depressão encontrada foi de 26,1%, em uma amostra composta majoritariamente por jovens entre 25 e 30 anos e estudantes. A depressão foi mais explicada por atitudes negativas, como pessimismo, sensação de fracasso, ódio próprio, autoacusações, desejos autopunitivos, tristeza e sentimento de culpa, algo que já era esperado pela autora.
A pesquisadora constatou que os brasileiros são mais depressivos e endividados que os alemães - “sendo o endividamento associado às políticas de crédito ofertadas pelas empresas e pelo Estado, enquanto que na Alemanha se prioriza o pagamento em espécie”, avalia. E, como explicação, Daniela atribui a maior incidência de depressão no Brasil ao fato de o país ter maior parcela da população desempregada e com menor escolaridade em relação à Alemanha.
Para a pesquisadora, as conclusões do estudo indicam que o conhecimento dos hábitos de consumo dos indivíduos com depressão pode tanto ter um papel de identificação, quanto de atuação. Como exemplo ela avalia que “ao serem descobertas modalidades de esporte menos praticadas pelos depressivos, saber-se-á que elas talvez não sejam muito indicadas para essas pessoas”. Além disso, pontua Daniela, “um indivíduo solitário, envolvido em jogos eletrônicos, até durante a noite, jogando principalmente jogos de ficção, RPG ou simuladores de vida pode possuir algum indício do transtorno e, nesse contexto, algumas recomendações práticas podem ser dadas aos diversos stakeholders envolvidos na temática da depressão”.
Iniciativas que podem reduzir índices da doença
A autora da dissertação “Depressão e Hábitos de Consumo: um Estudo Cross-Cultural entre Brasil e Alemanha”, Daniela Gomes Alcoforado, recomenda algumas práticas que podem ser adotadas tanto por órgãos públicos, quanto por organizações não governamentais ou privadas e famílias que possuam membros com algum diagnóstico de depressão:
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