Pedras de vesícula de boi: o que são, para que servem e por que 1 kg pode custar R$ 1 milhão

Publicado em 20/09/2024, às 22h40
Foto: Reprodução
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Por O Tempo

O cálculo biliar bovino, também conhecido como "pedra de vesícula bovina”, se tornou alvo de criminosos depois de descoberto o seu alto valor agregado. Nesta semana, dois irmãos - um homem de 50 anos e uma mulher, de 48 - foram condenados no Uruguai por tráfico desse produto para a Ásia. O réu contou que comprava de matadouros o cálculo e pagava em dinheiro entre 198.000 e 200.000 dólares o quilo (aproximadamente R$ 1 milhão a R$ 1,08 milhão, na cotação atual). Para se ter ideia, o quilo do ouro é negociado atualmente a 83.000 dólares (R$ 449,7 mil).

O que são as pedras de boi?

São formações sólidas que se acumulam na vesícula biliar de bovinos. Esses cálculos, assim como os encontrados em humanos, são formados a partir de substâncias como o colesterol, a bilirrubina e o cálcio. Eles variam em tamanho, formato e cor, podendo ser pequenos e redondos ou grandes e irregulares. 

“A formação dessas pedras é feita por causa do acúmulo de sais na vesícula do bovino. Isso é por causa da alimentação deles. A suplementação de cálcio na dieta ou ingestão de capim com alto teor de cálcio pode contribuir para a formação desses cálculos biliares. Então, é basicamente a nutrição,” explica a professora de medicina veterinária da Estácio BH Natália de Castro Alves. 

Por que são valiosas e para que são usadas? 

O que torna esses cálculos valiosos é o uso deles na medicina tradicional, especialmente na chinesa. Acredita-se que a pedra do boi tenha propriedades medicinais, sendo utilizada no tratamento de doenças hepáticas, febres e distúrbios digestivos. Além disso, alguns componentes dos cálculos biliares são utilizados na produção de medicamentos ocidentais. Devido à demanda, eles são comercializados a preços elevados.

O preço do grama varia de acordo com a coloração do cálculo: a pedra de boi amarela pode valer R$ 1 mil; já a pedra de boi preta pode variar entre R$ 150 e R$ 300. 

Alvo de criminosos 

Em setembro de 2023, ladrões renderam funcionários de uma empresa de exportação de pedra de boi em Barretos (SP) e levaram uma quantia do produto avaliada em R$ 2 milhões. Também no ano passado, em dezembro, a Polícia Civil de Barretos (SP) apreendeu quase um quilo de cálculo biliar bovino em uma casa na zona rural da cidade.

O caso do Uruguai 

A Justiça uruguaia condenou à prisão nesta semana dois irmãos pelo tráfico do Uruguai para Hong Kong de cálculos biliares bovinos, mais valorizados do que o ouro na indústria farmacêutica, informaram fontes policiais e judiciais.

Um homem de 50 anos foi condenado a 2 anos e 1 mês de prisão por contrabando e lavagem de dinheiro, enquanto sua irmã, de 48 anos, foi condenada a 18 meses de prisão por assistência na lavagem de dinheiro, que cumprirá em regime de condicional, segundo a sentença judicial de 16 de setembro e informações da Interpol.

Segundo a acusação, datada de maio, o homem admitiu que desde 2020 havia adquirido de forma ilícita cálculos biliares bovinos de matadouros localizados em cinco departamentos do Uruguai: Canelones, Montevidéu (sul), Durazno (centro), Salto e Paysandú (noroeste).

Ele contou que ia aos frigoríficos com seu pai, já falecido, onde eram atendidos pelos donos ou por encarregados. Ali, recebiam o produto, que pesavam em uma balança de precisão e pagavam em dinheiro entre 198.000 e 200.000 dólares o quilo (aproximadamente R$ 1 milhão a R$ 1,08 milhão, na cotação atual). A título de comparação, o quilo do ouro é negociado atualmente a 83.000 dólares (R$ 449,7 mil).

Segundo a acusação, em seguida os cálculos eram enviados por encomenda por meio da empresa internacional DHL, de acordo com a qual as compradoras eram duas empresas de Hong Kong, identificadas com as iniciais H. H. L. e H. T. B. T. C., que pagavam mediante transferência para contas bancárias no Uruguai. O lucro com o negócio era de aproximadamente 8.000 dólares (R$ 43.000) por quilo, segundo dados da investigação.

Os documentos judiciais mostram que o uruguaio condenado recebeu nos últimos anos mais de 3,2 milhões de dólares (R$ 17,3 milhões) em transferências bancárias das duas empresas de Hong Kong. Outros 188.000 dólares (R$ 1,01 milhão) entraram na conta da sua irmã. Os dois tiveram confiscados um veículo e um imóvel em Montevidéu, avaliados em aproximadamente 2,5 milhões de dólares (R$ 13,5 milhões). 

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