O gigante carnívoro Tyrannosaurus rex acaba de ganhar um "primo" mais velho: o Tyrannosaurus mcraeensis, que habitou a Terra entre 5 milhões e 7 milhões de anos antes do que seu parente famoso.
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A descrição da nova espécie foi feita com base na análise de um crânio parcialmente completo, que estava guardado no Museu de História Natural e Ciência do Novo México, nos Estados Unidos, havia mais de 30 anos.
Os vestígios fossilizados foram inicialmente classificados como sendo de um T.rex, mas ao analisar novamente a amostra, um grupo de paleontólogos percebeu que havia algo de diferente. Ao estudarem o exemplar em detalhes, eles concluíram se tratar de uma nova espécie.
Segundo os cientistas, embora as dimensões sejam muito parecidas, o Tyrannosaurus mcraeensis tem diversas diferenças sutis na forma e na junção dos ossos do crânio.
Ainda que a cultura pop tenha transformado o Tyrannosaurus rex em um dos dinossauros mais famosos do mundo, o conhecimento sobre a evolução do animal ainda tem diversas lacunas.
Parente mais próximo já identificado do T.rex, a nova espécie poderia ajudar a compreender melhor o passado e a evolução dos tiranossauros.
"Acho que a grande surpresa [com a nova espécie] foi ver que esses tiranossauros gigantes cresceram muito antes no tempo do que nós pensávamos", disse à Folha Nick Longrich, pesquisador da Universidade Barth, no Reino Unido, e um dos autores do trabalho, publicado na revista Scientific Reports.
O paleontólogo explica que o T.rex era "um animal enorme, muito especializado e bastante diferente de tudo o que o que havia sido visto antes na América do Norte".
Devido à elevada complexidade da espécie, o fato de haver poucos detalhes sobre o caminho evolutivo desse gigante, que surgiu há cerca de 67 milhões de anos, ainda intriga os cientistas.
"Estava claro que nós estávamos perdendo uma grande parte da história deles", diz Longrich. "Ou melhor, pensávamos que estávamos perdendo, já que os ossos [que levaram à descoberta da nova espécie] já estavam em museu, esperando para serem identificados".
Nos últimos anos, estudos sobre o passado desses colossos têm gerado polêmica. Em 2022, um controverso artigo publicado na revista especializada Evolutionary Biology propôs dividir o Tyrannosaurus rex em três espécies distintas de tiranossauros: o T.rex (com modificações), o T.regina (rainha) e o T. imperator (imperador).
A proposta de separação, que seria baseada em diferenças nos ossos de suas pernas e dentes, gerou manifestações acaloradas de contrariedade na academia, inclusive questionando as capacidades de análise de taxonomia do trabalho e de seus autores.
Embora o artigo que descreve o T.mcraeensis seja bem mais robusto, alguns paleontólogos pedem mais estudos antes que o martelo seja batido em relação à nova espécie.
"Hesito em considerar o Tyrannosaurus mcraeensis distinto do Tyrannosaurus rex", disse Jared Voris, da Universidade de Calgary, no Canadá, em entrevista à revista New Scientist. O paleontólogo considera que muitas das características anatômicas que supostamente tornam a nova espécie única também podem ser encontradas em exemplares de T.rex.
Independentemente da questão da espécie, a data e a localização atribuídas ao exemplar estudado, diz Voris, devem trazer novas perspectivas ao estudo da evolução e dispersão geográfica dos bichos.
Há algumas hipóteses para o local de surgimento dos tiranossauros. Por isso, o local de descoberta do crânio pode dar pistas sobre essas origens. O material foi encontrado durante uma escavação na Formação Hall Lakem no Estado do Novo México, no Sul dos Estados Unidos.
"Parece implicar que os tiranossauros gigantes evoluem para o Sul, o que é curioso, porque é lá também onde vemos dinossauros gigantes com bico de pato, dinossauros gigantes com chifres e enormes saurópodes [herbívoros com pescoço longo]", diz Nick Longrich, coautor do artigo.
Segundo ele, há indicativos de uma certa divisão, com mais dinos de maior porte no Sul de Laramidia, um continente-ilha que dividia a região que hoje é a América do Norte.
"No Ártico, no Alasca, os dinossauros são relativamente pequenos na comparação. Portanto, parece haver padrões geográficos no gigantismo dos dinossauros: com os grandes no Sul e dinossauros menores no Norte", detalhou.
Apesar dos indícios existentes, o pesquisador diz que ainda são necessários mais estudos para confirmar essas evidências. "Precisamos olhar para isso muito mais de perto para termos certeza", completou.
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