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Paciente com órgão infectado por HIV no RJ pede justiça e critica falta de acompanhamento

Folhapress | 14/10/24 - 09h56
A Polícia Federal vai investigar o caso, que envolve o Laboratório Patologia Clínica Doutor Saleme (PCS LAB Saleme) | Foto: Reprodução

Uma mulher que recebeu um rim infectado com HIV no Rio de Janeiro afirmou não ter nenhum tipo de acompanhamento, clínico ou psicológico, além de um adiantamento na data de consulta após a divulgação do caso. Ela deu entrevista ao Fantástico, da TV Globo. A mulher é um dos seis pacientes que estavam na fila de transplante da Secretaria Estadual de Saúde do Rio de Janeiro e receberam órgãos contaminados pelo vírus e, posteriormente, tiveram resultado positivo para a doença.

A paciente, que não quis se identificar, afirmou ainda que a consulta seguinte à detecção do HIV, marcada para 29 de outubro, só foi adiantada após a divulgação das notícias sobre a infecção.
O caso foi publicado pela BandNews FM e confirmado pela Folha de S.Paulo.

"É a minha vida, e daqui pra frente, minha vida mudou. Minha família está revoltada, porque a gente entra lá com a maior confiança de que vai dar tudo certo", afirmou a paciente ao Fantástico. O Ministério da Justiça e Segurança Pública disse que a Polícia Federal vai investigar o caso, que envolve o Laboratório Patologia Clínica Doutor Saleme (PCS LAB Saleme), que já está sob apuração da Polícia Civil, do Conselho Regional de Medicina do RJ e do Ministério Público.

A mulher afirmou que recebeu a notícia em 3 de outubro, e, em um posto de saúde, teve o problema confirmado. Mesmo com a consulta adiantada após a revelação da contaminação, ela disse que não tem tido nenhum tipo de acompanhamento do governo Cláudio Castro (PL).

Outro paciente, que recebeu uma córnea, não foi infectado, segundo o Fantástico. Ainda, informações de uma auditoria da Anvisa e a Vigilância Sanitária do estado apontaram 39 irregularidades na clínica.
Entre elas, a falta de uma licença para operar dentro do Instituto Estadual de Cardiologia Aloysio de Castro, além de exames sem identificação, material armazenado em geladeiras comuns e falta de limpeza em aparelhos de ar-condicionado.

A pasta de saúde do governo do Rio de Janeiro afirmou que o laboratório não presta mais serviços ao estado desde o início de outubro. O contrato, segundo o Fantástico, assinado em dezembro de 2023, era de R$ 11 milhões.

O Ministério da Saúde também determinou que a testagem de todos os doadores de órgãos no Rio de Janeiro voltasse a ser feita exclusivamente pelo Hemorio. Além de solicitar a retestagem do material de todos os doadores de órgãos feita pelo laboratório para identificar possíveis novos casos.

Como mostrou a Folha, o laboratório tem como um dos sócios Matheus Sales Teixeira Bandoli Vieira, primo do ex-secretário estadual de Saúde do Rio de Janeiro e deputado federal Doutor Luizinho, atual líder do PP (Progressistas) na Câmara dos Deputados. O parlamentar afirmou, em nota, o deputado afirmou que quando foi secretário "manteve a equipe do Programa Estadual de Transplantes da gestão anterior e jamais participou da escolha deste ou de qualquer laboratório." A contratação ocorreu, segundo o deputado, por concorrência realizada pela Fundação Saúde, que tem gestão administrativa independente.