Aprovado para o controle da diabetes tipo 2, o Ozempic ganhou espaço entre médicos, pacientes e nas redes sociais como um poderoso aliado na perda de peso. O uso para essa finalidade, conhecido como off label por não seguir as indicações na bula, segundo especialistas, causou alta procura pela medicação e é o provável motivo para seu desabastecimento.
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Por outro lado, a farmacêutica Novo Nordisk, responsável pela formulação, afirma que "não é possível rastrear a finalidade de uso do produto pelo paciente". Outro problema atrelado a chamada caneta emagrecedora é o uso sem acompanhamento médico por pessoas sem sobrepeso ou obesidade, o que traz riscos.
Veja abaixo as principais perguntas e respostas sobre o medicamento.
O USO OFF LABEL DO OZEMPIC É CORRETO?
Apesar de ser um fármaco indicado para o tratamento de diabetes tipo 2, é o seu uso para a perda de peso que tem ganhado atenção, inclusive nas redes sociais. Mais do que uma tendência, está comprovado por meio de estudos científicos que a semaglutida pode ajudar pacientes com obesidade. Portanto, o Ozempic pode ser empregado com esse fim de forma off label, ou seja, diferentemente do indicado na bula.
É PRECISO ACOMPANHAMENTO MÉDICO?
O Ozempic é vendido sem retenção da receita no Brasil, o que facilita o acesso àqueles que não possuem prescrição.
A endocrinologista Maria Edna de Melo, do Grupo de Obesidade e Síndrome Metabólica do Hospital das Clínicas da USP (Universidade de São Paulo), entretanto, alerta que é importante fazer acompanhamento para receber orientações sobre o uso do remédio e para promover mudanças de estilo de vida que garantam a permanência dos ganhos de emagrecimento.
PARA QUEM O MEDICAMENTO É INDICADO?
Segundo a bula, o Ozempic é indicado para pacientes de diabetes tipo 2. Médicos também recomendam o remédio para o tratamento da obesidade em pessoas com IMC (índice de massa corporal) acima de 30 ou sobrepeso (IMC acima de 27 associado a comorbidades). O fármaco não deve ser usado por crianças ou adolescentes com menos de 18 anos.
Por outro lado, Josemar Moura, endocrinologista e professor da UFMG (Universidade Federal de Minas Gerais), afirma que a substância não é para aqueles que desejam perder poucos quilos ou por questões estéticas. Ele ressalta que a caneta é um medicamento e, portanto, só é indicada para pacientes que precisam fazer controle do peso por força de saúde.
COMO FUNCIONA O MEDICAMENTO?
O Ozempic é um medicamento análogo do GLP-1, hormônio naturalmente presente no intestino humano responsável por diminuir os níveis de glicose no sangue.
O hormônio atua também no controle do peso, uma vez que tem como alvo locais do cérebro responsáveis pela saciedade. Liberado após refeições, o GLP-1 traz saciedade e, assim, seus análogos ajudam a reduzir a ingestão de calorias.
HÁ MEDICAMENTO À BASE DE SEMAGLUTIDA APROVADO PARA A OBESIDADE?
Sim. No início do ano a Anvisa aprovou o Wegovy (semaglutida 2,4 mg), também da Novo Nordisk, o primeiro medicamento injetável de uso semanal para sobrepeso e obesidade.
A aprovação se baseou em resultados de estudos clínicos que envolveram mais de 4.500 pessoas no mundo. O remédio causou redução média de 17% do peso corporal nos pacientes em cerca de 17 meses —1 a cada 3 participantes perderam 20%.
Ele deve entrar no mercado brasileiro a partir do segundo semestre e é indicado especificamente para a perda de peso, o que pode reduzir o uso off label da marca para diabetes.
A Saxenda (liraglutida) é outro injetável inicialmente projetado para o controle de diabetes tipo 2 aprovado para o tratamento da obesidade no Brasil.
HÁ COMPROVAÇÕES CIENTÍFICAS SOBRE PERDA DE PESO?
Estudos clínicos feitos pelo fabricante comprovaram que a semaglutida é capaz de promover a perda de até 15% do peso corporal quando combinada com intervenções no estilo de vida.
Outro estudo patrocinado pela farmacêutica avaliou a segurança e eficácia da semaglutida em doses de 1 mg (Ozempic) e 2,4 mg (Wegovy). A pesquisa, feita com 1.595 participantes obesos ou com sobrepeso e diabetes tipo 2, mostrou que o uso semanal de 1,0 mg causa redução média de peso corporal de 7%, enquanto a utilização da dose de 2,4% diminui em média 9,6%.
QUAIS AS DIFERENÇAS ENTRE O OZEMPIC E O WEGOVY?
Os remédios diferem na dose. O Ozempic é vendido em doses de até 1 mg, enquanto o Wegovy chega ao Brasil com 2,4 mg. Maria de Melo, entretanto, diz que nem todos os pacientes precisam fazer uso da dose mais alta, que, segundo estudos, pode causar mais efeitos colaterais.
O MEDICAMENTO SOZINHO AJUDA A EMAGRECER?
Melo ressalta que nenhum fármaco usado para perda de peso tem efeitos permanentes sem o incremento de hábitos saudáveis, como melhora da alimentação e prática de atividades físicas. Além disso, essas mudanças trazem outros benefícios para a saúde e contribuem para a longevidade.
HÁ REGANHO DE PESO APÓS O USO?
Sem mudanças do estilo de vida, sim. Estudos da Novo Nordisk mostram que os pacientes recuperam, em média, até dois terços dos quilos perdidos quando suspenderam a medicação.
QUAL O CUSTO?
Os preços do remédio no Brasil variam entre cerca de R$ 600 e R$ 1 mil, conforme a dose. Enquanto o Ozempic passa por desabastecimento temporário, o Wegovy deve chegar ao Brasil ainda este ano –e, segundo especialistas, a expectativa é que o preço seja superior à semaglutida de até 1,0 mg.
Segundo a farmacêutica, a expectativa é que o Ozempic seja reabastecido durante o segundo trimestre de 2023.
QUAIS OS EFEITOS COLATERAIS?
Segundo a bula, o Ozempic pode causar náusea, vômito, diarréia, desidratação, dores abdominais e prisão de ventre. O medicamento não causa diabetes em quem não tem a doença, mas pode causar hipoglicemia em usuários, com sinais como suor frio, palidez, dor de cabeça, aceleração dos batimentos cardíacos, sensação de sono ou fraqueza, nervosismo, ansiedade, dificuldade de concentração ou tremor.
É POSSÍVEL CONSEGUIR PELO PLANO DE SAÚDE?
Segundo a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar), o Ozempic é de uso domiciliar e, por isso, não tem fornecimento obrigatório. Além disso, os planos de saúde não são obrigados a custear remédios usados para finalidades diferentes daquelas prescritas na bula.
Uma alternativa para pacientes com diabetes tipo 2 ou obesidade é judicializar a questão. Como o Ozempic é usado no tratamento de doenças previstas no rol de procedimentos da ANS, especialistas afirmam que usuários usualmente conseguem fazer com que o plano arque com os custos. Nesses casos, entretanto, o paciente precisa de prescrição médica e deve comprovar que o medicamento é a melhor opção de tratamento.
POR QUANTO TEMPO POSSO TOMAR OZEMPIC?
O período de tratamento varia entre cada paciente, o que significa que seu uso pode ser indicado por meses ou anos.
No caso do tratamento para a obesidade, vista como um problema crônico de saúde, é possível que alguns pacientes precisem de medicamentos para controle do peso durante toda a vida.
PODE SER USADO DIARIAMENTE?
Segundo a bula, o Ozempic deve ser aplicado uma vez por semana na dose indicada pelo médico. Usuários das redes sociais, entretanto, têm popularizado o uso diário de microdoses.
Em reportagem da Folha, especialistas afirmam que a microdosagem só deve ser feita com acompanhamento médico para pacientes que sofrem muito com os efeitos colaterais ou que recuperem o apetite muito rápido. Nesse caso, a dose semanal é dividida em intervalos de três a quatro dias.
É POSSÍVEL ASSOCIAR OZEMPIC COM OUTROS MEDICAMENTOS?
O uso da semaglutida com outros medicamentos para o emagrecimento pode ser bem-vinda em alguns casos a fim de potencializar os resultados. Entretanto, a associações de medicamentos deve ser feita com acompanhamento médico.
Entre os medicamentos que são usualmente associados com o Ozempic estão a bupropriona, a naltrexona, o orlistate e o topiramato.
AS CANETAS EMAGRECEDORAS PODEM ENVELHECER PRECOCEMENTE O ROSTO?
Um efeito colateral que tem chamado a atenção nas redes sociais é o chamado "rosto de Ozempic" (do inglês "Ozempic face) – flacidez e envelhecimento precoce do rosto após o uso do medicamento. Em nota, a Novo Nordisk informa que as alterações de pele não são eventos adversos da medicação, como ficou demonstrado nos estudos clínicos que realizou com mais de 25 mil participantes.
Melo afirma que é a perda rápida de peso que leva à mudança na aparência da face e de todo o corpo. A endocrinologista acrescenta que o excesso de pele é um problema também para quem emagrece em pouco tempo por outros meios, seja por bariátrica ou adoção de hábitos saudáveis.
HÁ BENEFÍCIOS CARDIOVASCULARES?
O Ozempic não é um medicamento para tratamento cardiovascular. A perda de peso que ele promove, entretanto, pode trazer benefícios para a saúde cardíaca. Além disso, o emagrecimento controla os níveis de açúcar no sangue, aumenta o colesterol bom (HDL), reduz o ruim (LDL), atenua processos inflamatórios e ajuda no controle da pressão arterial.
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