Nos últimos meses, uma "canetinha" com agulha na ponta virou uma febre entre as pessoas que desejam emagrecer. Em postagens de redes sociais, celebridades e influenciadores digitais do Brasil e do mundo passaram a divulgar o Ozempic, remédio desenvolvido pela farmacêutica dinamarquesa Novo Nordisk.
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A princípio, a semaglutida — o nome científico da molécula — foi estudada e aprovada como um tratamento contra o diabetes. Mas logo os cientistas começaram a observar um "efeito colateral" muito interessante dela: a perda de peso.
Foi assim que o Ozempic começou a ter o chamado uso off-label (fora das recomendações de bula) alardeado por algumas pessoas como uma forma de eliminar os quilos extras.
Mais recentemente, surgiram as versões do medicamento específicas para o tratamento da obesidade — elas foram aprovadas no Brasil pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) em janeiro e devem chegar às farmácias do país a partir do segundo semestre deste ano.
Mas, afinal, para quem a semaglutida está realmente indicada? E quem mais se beneficia dessa e de outras terapias farmacológicas contra o excesso de peso?
Segundo médicos ouvidos pela BBC News Brasil, esse remédio simboliza o início de uma "era de ouro" no tratamento da obesidade — mas o uso indiscriminado dele para fins estéticos, sem orientação médica, preocupa.
A BBC News Brasil entrou em contato com a farmacêutica Novo Nordisk, responsável por liraglutida e semaglutida, que enviou uma nota de esclarecimentos sobre várias questões relacionadas ao uso desses medicamentos.
No texto, o laboratório diz não endossar ou apoiar "a promoção de informaçõe de caráter off-label de seus medicamentos, ou seja, em desacordo com a bula".
"O Ozempic, aprovado e comercializado no Brasil para o tratamento do diabetes tipo 2, não possui indicação aprovada pelas agências regulatórias nacionais e internacionais para o tratamento de obesidade", afirma.
"Com o intuito de evitar risco à saúde com a utilização de medicamentos ineficazes ou inapropriados, a Novo Nordisk recomenda que os pacientes adquiram os produtos em locais oficiais, atentando para as apresentações aprovadas pela Anvisa e o preço ofertado, regulado pelo Governo Federal", esclarece a nota.
Sobre os episódios de falta do medicamento, a Novo Nordisk diz que não é possível rastrear a finalidade de uso da semaglutida comprada nas farmácias, mas entende e lamenta "a preocupação e possíveis transtornos que essa indisponibilidade temporária poderá causar em pacientes com diabetes 2, seus familiares e cuidadores".
"Encaramos a situação de maneira extremamente séria e estamos trabalhando incansavelmente para superarmos esses desafios temporários", conclui o texto.
Um remédio, três ações - A confusão relacionada a essa medicação começa pelo nome. Como dito anteriormente, a alcunha científica dela é semaglutida, a qual usaremos como padrão ao longo desta reportagem.
Mas os nomes com que ela é vendida nas farmácias variam segundo o objetivo terapêutico e a dosagem. O tratamento já aprovado há algum tempo contra o diabetes tipo 2 é o Ozempic. Ele é injetável e tem 1 miligrama (mg).
Uma segunda opção contra o diabetes é o Rybelsus, que vem na forma de comprimidos de 3,7 ou 14 mg. Por fim, o medicamento específico contra a obesidade é chamado de Wegovy. Ele é injetável e traz 2,4 mg.
Ou seja: falamos de três produtos distintos, cuja semelhança é o fato de terem a semaglutida como princípio ativo. Mas como essa molécula é capaz de reduzir o peso de uma pessoa? A médica Simone Van de Sande Lee, diretora do Departamento de Obesidade da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), diz que ele produz três efeitos no organismo.
Isso porque a semaglutida "imita" a ação de um hormônio fabricado no intestino: o GLP-1. "O principal mecanismo de ação desse remédio, que pertence à classe dos análogos de GLP-1, acontece no sistema nervoso central. Ele viaja pela corrente sanguínea e chega às regiões do cérebro que controlam a sensação de fome e o gasto de energia", explica ela.
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