Ainda continua repercutindo a manifestação de domingo passado, 25, em São Paulo, convocada por Jair Bolsonaro.
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Um questionamento é sobre a situação de inelegibilidade imposta ao ex-presidente pelo Poder Judiciário e que, para alguns analistas, tende a se agravar com declarações proferidas pelo próprio Bolsonaro e por outros oradores no ato público.
Para o jornalista J. R. Guzzo, em artigo desta quarta-feira, 28, em “O Estado de São Paulo”, o impedimento legal que afasta Bolsonaro da disputa política é uma “anomalia”:
“O verdadeiro perigo representado hoje por Bolsonaro é servir de justificativa, ou de desculpa, para se trocar a solução democrática e custosa pela solução ditatorial e fácil. Para o PT e a esquerda radical, isso não é problema nenhum. Nunca, nem uma vez, aceitaram uma derrota eleitoral. Repetem, há quase 40 anos, exatamente a mesma coisa: ‘fora Collor’, ‘fora FHC’, ‘fora Temer’. Agora estão no ‘fora Bolsonaro’. Como ele está proibido pelo TSE de disputar eleições até 2030, o próximo ‘fora’ vai ser para quem aparecer na sua frente, seja lá quem for.
Mas para os brasileiros que defendem a democracia como a melhor forma de se viver em sociedade, e não querem submeter-se à política da gritaria, admitir que Bolsonaro seja ilegalmente eliminado da vida pública brasileira é aceitar um copo de veneno. Não é uma exceção para se salvar o bem comum. É um incentivo ao mal comum.
Não pode haver democracia se um grupo de burocratas que nunca recebeu um voto na vida decreta, alegando a lei eleitoral e truques judiciários, quem está autorizado a participar da disputa política. Não faz sentido, em nenhuma democracia séria, que o único político do país capaz de levar mais de meio milhão de pessoas para a rua seja um perigo – e que não possa ser uma opção para quando os cidadãos escolhem seus governantes.
A anomalia fica especialmente grosseira quando se considera que o presidente da República, o principal inimigo e acusador de Bolsonaro, não consegue reunir público nem para uma mísera ‘live’; sair à rua, então, está fora de qualquer cogitação há anos. Lula e o seu sistema dizem que estão fazendo o melhor governo que o Brasil já teve – e Bolsonaro, segundo garantem, foi e será sempre o pior governante do mundo. Qual o problema, então? É só fazer uma eleição; o povo mandaria o ex-presidente para o espaço e tudo estaria resolvido.
Mas a livre competição política está abolida no Brasil de hoje. Não querem derrotar Bolsonaro no voto. Querem se livrar do problema jogando o concorrente na cadeia – com acusações patentemente ineptas e que seriam recebidas com uma gargalhada em qualquer tribunal do mundo democrático. É um erro. Bolsonaro não vai desaparecer da realidade nacional com atos administrativos do ministro Alexandre de Moraes, e muito menos com os desejos do governo.”
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