Contextualizando

Opinião: “Ser contra a política bolsonarista não significa, porém, que Lula e o PT sejam democratas”

Em 11 de Março de 2024 às 20:23
A teoria pregada nos discursos da campanha eleitoral não correspondem, necessariamente, com a prática política quando do exercício do poder.
É o que estaria acontecendo com o presidente Lula (PT) no desempenho do seu terceiro mandato na Presidência a República.
É o que manifesta Denis Lerrer Rosenfield, Professor de Filosofia na Universidade Federal do Rio Grande do Sul, no texto abaixo:

“Talvez, para alguns, sejam bons tempos aqueles quando, nas eleições passadas, acreditaram na convicção e na sinceridade de Lula e do PT de representarem uma ampla frente democrática. O contexto era apropriado, considerando a atitude antidemocrática do ex-presidente, procurando de todas as maneiras se manter no poder, mesmo por meio de um golpe de Estado. Contudo, a posição lulopetista de contraste com Bolsonaro significa apenas que estava extraindo um dividendo eleitoral, visto que boa parte da população brasileira, aí incluindo liberais e conservadores, estava farta dos arroubos e da falta de solidariedade bolsonarista, particularmente presente durante a pandemia. Ser contra a política bolsonarista não significa, porém, que Lula e o PT sejam democratas.

Quais são, enfim, as suas credenciais? A política externa lulista dá uma boa amostra do que petistas pensam e buscam fazer, apesar de suas tentativas internas esbarrarem na opinião pública e em nossas próprias instituições.

Tomemos o caso da Venezuela. Já são antigas as convicções de Lula de que esse país tem fortes instituições democráticas, considerando, sobretudo, como afirmou agora, que lá ocorrem eleições. Ora, desde quando a mera ocorrência de eleições significa que haja democracia e liberdade? Países comunistas realizavam e realizam eleições também, claro que com a aprovação de uma significativa maioria, sempre próxima de 100%. Se não fosse brincadeira, diriam os mais afoitos, poder-se-ia dizer que foram eleitos por mais de 100% dos votos, tal o entusiasmo dos eleitores, embevecidos com violentas ditaduras.

Eleições sem condições de exercício da liberdade são lixo, salvo para os acólitos que procuram justificar a violência e a repressão socialista ou comunista, conforme se queira denominar.

O ditador Nicolás Maduro elimina qualquer tipo de oposição, não permitindo a candidatura de pessoas que lhe possam enfrentar. Seus tribunais impossibilitam que verdadeiras lideranças possam disputar as eleições, pois são verdadeiramente isto: sua propriedade, somente verbalizando e satisfazendo sua vontade de poder e os anseios de sua dominação. Eleições sem candidaturas opositoras genuínas são apenas uma piada de mau gosto. E qual foi a manifestação de Lula? O silêncio, e isso da parte de quem se compraz em viver tagarelando pelo mundo como se fosse um humanistaHumanista unicamente para seus amigos, sobretudo os antiocidentais e autoritários.

Como se já não fosse suficiente, nos últimos anos, toda a opinião pública livre foi sufocada, seja nos jornais, seja nos meios de comunicação, seja na mídia digital. Não há liberdade de expressão naquele país. Ainda há poucos dias, a Deutsche Welle foi proibida de trabalhar, sob o pretexto de ser ‘nazista’. Não pode ser sério! Uma empresa pública alemã, da maior seriedade, simplesmente não pode reportar o que está acontecendo na Venezuela. Deveria, na opinião de autoritários como Maduro, consortes e assimilados em outros movimentos e partidos de esquerda, ser mera serviçal do regime. E isso em relação à Alemanha, de passado nazista, mas que soube se reinventar, assumir responsabilidades históricas, adotando inteiramente a democracia e as liberdades. É uma afronta!

Note-se, ainda, que se trata de mero subterfúgio de uma esquerda autoritária, acostumada – conforme ocorre igualmente em nosso país – a considerar qualquer voz divergente como “fascista” ou “nazista”. O procedimento é semelhante ao de Vladimir Putin, ao tentar justificar sua invasão da Ucrânia e sua guerra por uma ‘Grande Rússia’ e ao considerar como “nazistas” os ucranianos que não querem a ele se curvar. O que fez a diplomacia lulista? Não condenou a violência russa, contentando-se com preconizar uma suposta negociação entre as partes, equiparando o invasor e o invadido, o agressor e o agredido. Para os ‘amigos’, sempre a ponderação e a complacência.

Convicções democráticas não são de nenhum valor se a sua simpatia for dirigida aos autoritários. Maduro deu-se ao desplante de expulsar do país o Alto Comissariado dos Direitos Humanos da ONU, por divulgar relatório segundo o qual a ditadura daquele país faz uso sistemático da tortura, da violência sexual e da repressão sistemática e arbitrária. O regime já está, inclusive, no banco dos réus do Tribunal Penal Internacional. O que faz a diplomacia lulista, que tanto se gaba de defender os ‘direitos humanos’? Será o direito de os ditadores mais cruéis exercerem livremente a sua dominação?

E, como se não fosse suficiente, partiu para uma cruzada antissemita tornando-se uma espécie de porta-voz do Hamas. Aliás, a própria organização terrorista se disse honrada com o seu apoio! Será que o almejado por ele seja a dominação islâmica por toda aquela região, com o aniquilamento de Israel, conforme preconizado pelos terroristas em sua carta fundacional, com a derrubada dos regimes moderados árabes e a própria inviabilização de uma Autoridade Palestina democrática?

Qual democracia, então?”

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