As estreitas relações do presidente Lula (PT) com governantes que chefiam regimes ditatoriais é uma das suas marcas registradas no contexto internacional.
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Outra característica é a ajuda financeira, com recursos públicos do Brasil, que os governos petistas, no passado e no presente, concedem a esses gestores amigos de Lula.
Cuba e Venezuela são dois exemplos de países que não cultuam a democracia, mas beneficiados com essa “generosidade” do governo brasileiro, como explica Catarina Rochamonte:
“Não parece de bom tom começar a tratar de um assunto tão grave, que envolve tanto sofrimento do povo venezuelano com um trocadilho bobo; mas não me veio outra forma de escrever sobre esses personagens, que se me afiguram hoje como duas caricaturas do mal.
Não escrevo isso com o objetivo gratuito de ofender, de demonizar um indivíduo, mas de descrever um tipo.
Lula admira ditadores, apoia ditadores, é amigos de ditadores, mas fez carreira no Brasil com a fantasia de democrata. Sabendo intuitivamente que a sociedade brasileira, traumatizada com o regime militar, não permitiria tão cedo um novo regime violento e opressor, dessa vez, de esquerda, Lula se contentou em apoiar moral e financeiramente os regimes violentos e opressores ideológica e espacialmente mais próximos.
Foi escondendo a verdadeira face por trás da máscara que mais agradava a uma nação recém democratizada, pouco disposta a novas aventuras autoritárias que Lula triunfou na política. Agora, no seu terceiro mandato, beirando os oitenta anos, ele não tem muito a perder sendo ele mesmo. É por isso que, muitas vezes, tem improvisado no discurso, deixando a máscara cair.
Lula III quer ser ele mesmo, quer expressar sua essência, quer falar disparates, quer romper com Israel, mandar dinheiro pro Hamas via UNRWA, peitar os Estados Unidos, estender tapete vermelho pra Vladimir Putin, justificar Daniel Ortega, ajudar Nicolás Maduro a se perpetuar no poder. Ele quer liderar o Sul global, via Brics, ao lado das maiores autocracias do globo e confrontar as nações livres do Ocidente. É uma política externa assustadora. Assustadoramente imbecil. Mas, ainda assim, assustadora.
Talvez por isso parte da imprensa brasileira se apresse logo em repor a máscara de Lula cada vez que ele a deixa cair. Freud explica. É uma reação de recusa e negação, para não ter que carregar a culpa de ver novamente no poder uma pessoa que desmente em tudo a persona democrática que a própria imprensa ajudou a criar. A mídia não está pronta o Lula real. Sente-se mais à vontade com o Lula paz e amor, o Lula pacifista, o Lula humanista, o Lula da ‘democracia inabalada’.
O fato, porém, é que Lula é cúmplice e, de certa forma, corresponsável pela tragédia humanitária que atinge os venezuelanos. Vem de longa data a sua história de interferência na política da Venezuela, sempre ao lado do autoritarismo do regime chavista.
Esse assunto – a crise humanitária causada pela ditadura na Venezuela e a cumplicidade criminosa do Brasil com essa desgraça – é um tema que me sensibiliza muito. Foi a repressão do regime de Nicolás Maduro aos estudantes que me fez sair um pouco da reclusão acadêmica e passar a atuar no meio jornalístico, escrevendo artigos de opinião.
Na época, eu fazia doutorado. Estava escrevendo uma tese de filosofia na área de metafísca. Ou seja, não estava, de modo algum, focada em questões políticas. Até que eu vi a foto de Kluiver Roa morto, com o tiro na cabeça.
Kluiver Roa era um adolescente de 14 anos. Ele foi baleado pela Guarda Nacional Bolivariana durante protestos contra Maduro, em 2015. Não foi o único. Vários estudantes foram presos, torturados e assassinados, como mostra, em formato de filme, a produção Símon, que já pode ser assistida na Netflix.
A ex-promotora geral da Venezuela, Luisa Ortega Díaz, que está obviamente exilada, denunciou, em 2018, que o Governo venezuelano praticou mais de 8.700 execuções extrajudiciais desde 2015. As execuções, as invasões de domicílio, as prisões arbitrárias, as torturas e as perseguições contra a dissidência política nunca pararam.
Em 21 de fevereiro de 2024, Nicolás Maduro fez uma postagem lembrando os 176 anos de publicação do Manifesto Comunista e escreveu que o legado de Marx e Engels “faz parte da cultura política daqueles que lutam para acabar com a exploração dos mais fracos pelos mais fortes e consolidar uma sociedade mais humana.”
Segundo matéria do jornal O Globo, a agenda do último encontro entre Lula e Maduro se concentrou na retomada da cooperação entre os dois países: “Lula está com Maduro e não abre”, diz o jornal, acrescentando que o presidente do Brasil “vem conversando com outros governos para criar um ´clima amigável´ em relação à eleição” e que irá, inclusive, tratar do assunto com o presidente da França Emmanuel Macron, que tem visita agendada ao Brasil no final de março….
Dois dias antes do dia internacional da mulher, Lula fez uma referência grosseira e cínica a uma das mulheres mais fortes e corajosas da política atual, cujo nome ele se recusa a citar.
Dizendo-se feliz com a definição da data para eleições presidenciais na Venezuela (dia do aniversário de Hugo Chaves), Lula sugeriu que Maria Corina Machado, líder da oposição, não deveria ficar ‘chorando’ por não poder concorrer ao pleito, mas sim escolher um substituto, como ele mesmo fizera em 2018.
A comparação tem camadas de cinismo que convém remover. O primeiro ponto é que Lula estava preso por corrupção e não por perseguição política. Estava preso porque o Brasil se desviou momentaneamente da sua arraigada complacência com a impunidade e se atreveu a mostrar que nem grandes empresários nem políticos poderosos podiam corromper à vontade sem ter que prestar contas à lei…”
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