O endividamento do poder público, muitas vezes para gastos de qualidade duvidosa, afeta diretamente o futuro da novas gerações.
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Mas, infelizmente, é uma tendência de governos no mundo inteiro, como analisa no texto abaixo o economista e engenheiro de software Daniel Schnaider:
“À medida que avançamos na história da humanidade, uma questão crucial emerge: qual legado estamos deixando para as futuras gerações? A resposta, infelizmente, é frequentemente desanimadora, especialmente quando se considera o crescente vício de governos em acumular dívidas e realizar gastos de má qualidade.
Governos ao redor do mundo têm se tornado cada vez mais dependentes de débitos que buscam financiar suas atividades. Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), a dívida pública global atingiu um recorde de aproximadamente 97% do PIB mundial em 2020. Este endividamento, especialmente em tempos de crises, como a pandemia de COVID-19, cria uma carga para as futuras gerações, pois eleva a necessidade de impostos e compromete uma parcela significativa do orçamento para o pagamento de despesas.
A qualidade dos gastos públicos é um aspecto crítico, frequentemente negligenciado. Investimentos em infraestrutura, educação e saúde são essenciais; no entanto, muitas vezes, os recursos são mal aplicados, afetando o retorno desses investimentos para a sociedade. Um estudo da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) aponta que a eficiência dos gastos públicos pode variar significativamente entre os países, afetando diretamente o desenvolvimento social e econômico.
Esta situação complica a luta pela erradicação da pobreza. Muitas dívidas governamentais, de forma direta ou indireta, vem tratar o tema da miséria, algo delicado em países democráticos, já que este é um eleitorado importante. A forma que o sistema incentiva abordar esta questão é basicamente por endividamento, ou seja, tentar diminuir o sofrimento hoje e transferir o problema para futuras gerações que terão que lidar com o pagamento da dívida.
Em contraste com o setor público, o setor privado é compelido pela concorrência a inovar e otimizar constantemente. As empresas que não se adaptam ou gerenciam mal seus recursos são naturalmente eliminadas pelo mercado. Este mecanismo de ‘correção’ é, em geral, ausente no setor público, conforme apontado por Elinor Ostrom, economista laureada com o Prêmio Nobel. Quando algo funciona mal no governo, se diz que é necessário mais orçamento e assim sucessivamente.
Os políticos tendem a se concentrar em projetos de curto prazo para obter créditos imediatos, negligenciando projetos de longo alcance que não renderão resultados no presente ou reconhecimento dentro de seus mandatos. Como Keynes observou, ‘No longo prazo, todos nós estaremos mortos’, refletindo a tendência humana de priorizar benefícios imediatos sobre ganhos futuros.
A curto prazo, projetos de importância estratégica nacional, na prática, herdam problemas criados no passado, e no lugar de desenvolver um futuro melhor, os governos gastam sua energia apagando incêndios criados por lideranças anteriores. A visão abrangente, entende que é mais fácil evitar a criação do problema no início, do que passar décadas tentando resolvê-lo. O vício social por combustíveis fósseis é um exemplo. Uma vez que as gerações atuais irão viver mais de 100 anos, não é conveniente a elas ignorar o longo prazo, pois é onde terão que viver a maior parte de sua vida.
Em regimes democráticos, falta frequentemente um mecanismo de estado que incentive o planejamento, a execução e o compromisso olhando para um futuro próspero. A OCDE destaca a importância de políticas que transcendam ciclos eleitorais com foco em resultados sustentáveis e de longo alcance.
Nossa responsabilidade com as próximas gerações é de legar um mundo não apenas ambientalmente sustentável, mas também economicamente viável. Isso requer uma reavaliação crítica do endividamento governamental e da qualidade dos gastos públicos. Incorporar mecanismos de inovação e correção, inspirados pelo setor privado, pode ser um caminho para governos mais responsáveis e eficientes.
A capacidade de superar o ‘curto-prazismo’ na política e adotar uma visão de longo prazo é fundamental para garantir um legado sustentável e próspero para as futuras gerações. Isso envolve não apenas uma gestão fiscal prudente, mas também um comprometimento renovado com o planejamento estratégico e políticas que valorizem o impacto futuro.
Para assegurar que as decisões tomadas hoje sejam benéficas e responsáveis no contexto das necessidades posteriores, é imperativo que haja um esforço concertado para criar estruturas e incentivos que promovam uma governança voltada para o futuro. Isso inclui políticas fiscais que não apenas respondam às crises imediatas, mas também sejam sustentáveis a longo prazo.
Assim, podemos construir um futuro mais promissor, onde as decisões de hoje não sejam um fardo para as próximas gerações mas uma fundação para o seu sucesso. Somente por meio de uma abordagem ponderada, que equilibre as necessidades do presente com as do futuro, poderemos cumprir nossa obrigação com as gerações que ainda virão.
Afinal, como disse o famoso economista Milton Friedman, ‘Um dos grandes erros é julgar políticas e programas pelos seus propósitos em vez de seus resultados’. Portanto, que os resultados de nossas ações hoje sejam um testemunho do nosso compromisso e responsabilidade com o amanhã.”
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