Operação Oceano e os 'pescadores de lixo': a dura realidade de quem vê o peixe se perder em meio à poluição

Publicado em 23/04/2024, às 11h07
Reprodução/TV Pajuçara
Reprodução/TV Pajuçara

Por Ana Carla Vieira

A pesca artesanal representa 60% do mercado de frutos do mar no Brasil. Hoje, estima-se que 630 mil brasileiros exerçam essa atividade. São pescadores que têm, em comum, um desafio: pescar junto com a poluição que vem do mar. 

Adilson "Mago" pesca a cerca de 200 metros mar adentro, na Praia da Avenida, em Maceió, e faz o relato do que consegue puxar na rede. "Aqui sai curimã, sai serra, sai cavala... quando não tá chovendo a água é limpinha. Mas quando chove, você vê o que é lixo. Pedaço de pau, pedaço de geladeira, pneu...", relata o pescador.  


Imagens: Vasni Soares/TV Pajuçara

No Nordeste, a jangada é a principal embarcação usada pelos pescadores artesanais. Ela é sustentável, a maioria não usa motor e não leva a poluição do combustível para o mar. O "Mago", por exemplo, usa a força dos braços para remar na jangada dele. Mas tanto esforço de uns se depara com a falta de consciência de outros. "Eu tirei aqui lixo, plástico, pedaço de chinelo, prato, bacia, colchão, pedaço de microondas, pedaço de geladeira, de tudo vem. Tem hora que a gente gasta mais dinheiro na rede do que tudo, porque ela rasga, tem vez que engancha e não vem. A gente tem que mergulhar pra ir buscar, quando chega lá é um pedaço de fogão, é um tubo de televisão...", desabafa o pescador.

E teve um certo dia que o lixo não apareceu só na rede. "Eu já peguei um peixe, que quando fui tratar em casa e abri a barriga dele, tinha um canudo dentro", relata Adilson. 


Imagens: Vasni Soares/TV Pajuçara

Entre preparar a rede, levar ao mar e depois puxar são duas horas de trabalho. Um esforço braçal, debaixo do sol, que precisa contar com a "concorrência" das garças. Uma a uma, elas vão se aproximando sorrateiramente. Quando a rede chega, lá vão elas, garantir o alimento do dia. Mas quando o cardápio não está tão bom, e a rede vem cheia de lixo, elas mesmas parecem se decepcionar com o que estão vendo. Uma tristeza que não é só delas. "Depois que cata o lixo todinho, não dá 10 kg de peixe. Tem vezes que a gente nem leva, porque não vale a pena. A gente prefere doar para o povo daqui", conta Mago. 

Depois de duas horas de empenho, o que foi pescado no dia rendeu R$ 90,00, para dividir por oito pessoas.  

No segundo dia de pesca acompanhado pela equipe de reportagem da TV Pajuçara, quando os pescadores puxaram a rede não dava para ver peixe, havia praticamente apenas lixo. Um dia de trabalho que termina de forma frustante. "Eu já estava para vender minha rede. Estou com vontade é de desistir da pesca", lamenta o pescador. 


Imagens: Vasni Soares/TV Pajuçara

Assista ao segundo episódio da série "Operação Oceano": 

A série “Operação Oceano”, produzida pelo Pajuçara Social, do Pajuçara Sistema de Comunicação (PSCOM), mostra como o oceano - que presenteou Maceió com lugares deslumbrantes como as piscinas naturais da Pajuçara -, fomenta o turismo e, consequentemente, a economia. Jangadeiros e comerciantes vivem do mar, tirando sustento da família, e dedicando suas vidas às águas do atlântico. A série conta com reportagens de Ivan Lemos, imagens de Vasni Soares, produção de Adriana Leite, edição de Bruno Góes e edição de imagens de Luciano Aureliano.

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