O que são os ambientes obesogênicos frequentados pelas crianças?

Publicado em 10/11/2023, às 15h35
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Por Ministério da Saúde

Muito se fala da obesidade com o foco na pessoa que se encontra nessa condição. Essa visão culpabilizadora reforça o estigma da obesidade e dificulta a compreensão de um contexto que é muito mais amplo. Segundo Jonas Silveira, nutricionista e professor do Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Paraná (UFPR), os ambientes obesogênicos são locais que não  oportunizam ou favorecem comportamentos fisicamente ativos e escolhas alimentares saudáveis. A consequência é a promoção do ganho de peso excessivo. 

Segundo as principais evidências científicas, crianças com excesso de peso têm mais chances de se tornarem adultos obesos. E, como consequência disso, pode ocorrer o aparecimento de diversas doenças, como diabetes, problemas ortopédicos, distúrbios psicológicos, doenças cardiovasculares e hipertensão, sendo essa última o fator de risco principal para infarto e acidente vascular cerebral, popularmente conhecido como derrame.

A obesidade infantil é um problema de saúde e vai muito além de um número na balança: a avaliação da doença precisa considerar outros fatores, como acesso a alimentos saudáveis, acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, entre outros. De acordo com Jonas, a forma como pais, mães e/ou cuidadores responsáveis interagem com as crianças poderá influenciar a relação que elas vão estabelecer com a alimentação. 

Espaços que favorecem o consumo de alimentos inadequados com excesso de exposição e publicidade de alimentos ultraprocessados, restritivas para a criança se alimentar e oferecer alimentos como recompensas podem comprometer a habilidade da criança em responder ao controle de saciedade do organismo, contribuindo para o excesso de peso.  Comentários sobre formas e tamanhos corporais podem convergir, mais para frente, em transtornos alimentares e de imagem corporal. 

Ambientes obesogênicos e prevenção da obesidade infantil

A prevenção da obesidade infantil envolve a construção de ambientes saudáveis. É preciso garantir que as crianças sejam amamentadas, que as mulheres possam amamentar, que as famílias tenham condições de realizar práticas que sejam compatíveis com escolhas alimentares e comportamentais saudáveis voltadas para crianças, afirma o profissional. 

Os ambientes obesogênicos abrangem a sociedade como um todo e estão presentes em todas fases da vida dos indivíduos. Falando especificamente da infância, é possível pensar nas influências que as famílias recebem para comprar alimentos. Se o acesso delas a alimentos saudáveis, tanto do ponto de vista físico quanto econômico, é facilitado. Se as mães têm condições de amamentar os bebês ao invés de oferecer fórmulas. Se após o aleitamento exclusivo é feita a introdução à alimentação complementar. De acordo com Jonas, a ausência do aleitamento já configura o ambiente obesogênico.

“É possível pensar nisso em diferentes momentos na vida da criança, desde campanhas que fragilizam a confiança da mulher para amamentar, a desinformação relacionada à promoção de ultraprocessados para introdução da alimentação da criança e depois a manutenção desses hábitos”, afirma o nutricionista. Tão importante quanto não culpabilizar a mulher sobre isso é entender em que contexto ela está inserida, se esse contexto favorece ou não a amamentação. Como, por exemplo, o local de trabalho dela e a garantia da licença maternidade. Se ele estimula a amamentação por meio de ações ou estruturas.

Do ponto de vista físico, podem ser citados os espaços urbanos, as creches e escolas e até o ambiente familiar. Se na cidade existe a disponibilidade de espaços que contribuem para o aleitamento materno, equipamentos de lazer, hortas e cozinhas comunitárias e feiras, por exemplo. Se a escola oportuniza, além das aulas regulares de Educação Física, outras estratégias que podem mobilizar a atividade física. A educação alimentar e nutricional também deve fazer parte da grade curricular, por meio de atividades voltadas para a promoção da alimentação adequada e saudável.   

As cantinas escolares, que muitas vezes favorecem o consumo de ultraprocessados, podem começar a limitá-los e favorecer o acesso a alimentos adequados e saudáveis. E no ambiente familiar também é importante favorecer que a criança se movimente e se alimente bem. Jonas reforça que ela pode estar, no começo da vida, com o peso saudável. Mas, à medida que se expõe aos ambientes obesogênicos, a criança pode aumentar sua trajetória de ganho de peso. 

O nutricionista reforça ainda que é importante identificar essas engrenagens e estruturas que operam na sociedade para tentar desconstruir os ambientes obesogênicos e reconstruí-los, de modo que eles oportunizem e estimulem escolhas saudáveis para as crianças e toda a população. 

“Proteger a infância significa proteger todas as outras etapas do ciclo da vida. A partir do momento em que se começa a pensar em políticas públicas e ações que tentam convergir para cidades saudáveis, a gente acaba protegendo toda a sociedade”, finaliza.  

Sobre o Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 anos

O Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 anos é um instrumento para apoiar e incentivar práticas alimentares saudáveis no início da vida. Foi feito para crianças de até 2 anos, ele reúne um conjunto de informações e recomendações sobre alimentação que contribuem para a promoção da saúde em uma fase tão importante para a construção de uma vida saudável no futuro. Acesse agora para consultar todas as orientações e garantir mais saúde e qualidade de vida para os pequenos. 

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