Muito se fala da obesidade com o foco na pessoa que se encontra nessa condição. Essa visão culpabilizadora reforça o estigma da obesidade e dificulta a compreensão de um contexto que é muito mais amplo. Segundo Jonas Silveira, nutricionista e professor do Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Paraná (UFPR), os ambientes obesogênicos são locais que não oportunizam ou favorecem comportamentos fisicamente ativos e escolhas alimentares saudáveis. A consequência é a promoção do ganho de peso excessivo.
LEIA TAMBÉM
Segundo as principais evidências científicas, crianças com excesso de peso têm mais chances de se tornarem adultos obesos. E, como consequência disso, pode ocorrer o aparecimento de diversas doenças, como diabetes, problemas ortopédicos, distúrbios psicológicos, doenças cardiovasculares e hipertensão, sendo essa última o fator de risco principal para infarto e acidente vascular cerebral, popularmente conhecido como derrame.
A obesidade infantil é um problema de saúde e vai muito além de um número na balança: a avaliação da doença precisa considerar outros fatores, como acesso a alimentos saudáveis, acompanhamento do crescimento e desenvolvimento, entre outros. De acordo com Jonas, a forma como pais, mães e/ou cuidadores responsáveis interagem com as crianças poderá influenciar a relação que elas vão estabelecer com a alimentação.
Espaços que favorecem o consumo de alimentos inadequados com excesso de exposição e publicidade de alimentos ultraprocessados, restritivas para a criança se alimentar e oferecer alimentos como recompensas podem comprometer a habilidade da criança em responder ao controle de saciedade do organismo, contribuindo para o excesso de peso. Comentários sobre formas e tamanhos corporais podem convergir, mais para frente, em transtornos alimentares e de imagem corporal.
Ambientes obesogênicos e prevenção da obesidade infantil
A prevenção da obesidade infantil envolve a construção de ambientes saudáveis. É preciso garantir que as crianças sejam amamentadas, que as mulheres possam amamentar, que as famílias tenham condições de realizar práticas que sejam compatíveis com escolhas alimentares e comportamentais saudáveis voltadas para crianças, afirma o profissional.
Os ambientes obesogênicos abrangem a sociedade como um todo e estão presentes em todas fases da vida dos indivíduos. Falando especificamente da infância, é possível pensar nas influências que as famílias recebem para comprar alimentos. Se o acesso delas a alimentos saudáveis, tanto do ponto de vista físico quanto econômico, é facilitado. Se as mães têm condições de amamentar os bebês ao invés de oferecer fórmulas. Se após o aleitamento exclusivo é feita a introdução à alimentação complementar. De acordo com Jonas, a ausência do aleitamento já configura o ambiente obesogênico.
“É possível pensar nisso em diferentes momentos na vida da criança, desde campanhas que fragilizam a confiança da mulher para amamentar, a desinformação relacionada à promoção de ultraprocessados para introdução da alimentação da criança e depois a manutenção desses hábitos”, afirma o nutricionista. Tão importante quanto não culpabilizar a mulher sobre isso é entender em que contexto ela está inserida, se esse contexto favorece ou não a amamentação. Como, por exemplo, o local de trabalho dela e a garantia da licença maternidade. Se ele estimula a amamentação por meio de ações ou estruturas.
Do ponto de vista físico, podem ser citados os espaços urbanos, as creches e escolas e até o ambiente familiar. Se na cidade existe a disponibilidade de espaços que contribuem para o aleitamento materno, equipamentos de lazer, hortas e cozinhas comunitárias e feiras, por exemplo. Se a escola oportuniza, além das aulas regulares de Educação Física, outras estratégias que podem mobilizar a atividade física. A educação alimentar e nutricional também deve fazer parte da grade curricular, por meio de atividades voltadas para a promoção da alimentação adequada e saudável.
As cantinas escolares, que muitas vezes favorecem o consumo de ultraprocessados, podem começar a limitá-los e favorecer o acesso a alimentos adequados e saudáveis. E no ambiente familiar também é importante favorecer que a criança se movimente e se alimente bem. Jonas reforça que ela pode estar, no começo da vida, com o peso saudável. Mas, à medida que se expõe aos ambientes obesogênicos, a criança pode aumentar sua trajetória de ganho de peso.
O nutricionista reforça ainda que é importante identificar essas engrenagens e estruturas que operam na sociedade para tentar desconstruir os ambientes obesogênicos e reconstruí-los, de modo que eles oportunizem e estimulem escolhas saudáveis para as crianças e toda a população.
“Proteger a infância significa proteger todas as outras etapas do ciclo da vida. A partir do momento em que se começa a pensar em políticas públicas e ações que tentam convergir para cidades saudáveis, a gente acaba protegendo toda a sociedade”, finaliza.
Sobre o Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 anos
O Guia Alimentar para Crianças Menores de 2 anos é um instrumento para apoiar e incentivar práticas alimentares saudáveis no início da vida. Foi feito para crianças de até 2 anos, ele reúne um conjunto de informações e recomendações sobre alimentação que contribuem para a promoção da saúde em uma fase tão importante para a construção de uma vida saudável no futuro. Acesse agora para consultar todas as orientações e garantir mais saúde e qualidade de vida para os pequenos.
+Lidas