O atentado à escola Raul Brasil, que deixou dez mortos e onze feridos nessa quarta-feira (13) na cidade de Suzano, região metropolitana de São Paulo, provocou um debate entre educadores e pais de alunos sobre a saúde mental de crianças e adolescentes.
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A grande aflição da sociedade é entender o que levou dois ex-alunos, um deles com a mesma faixa etária da maioria das vítimas, a planejar e matar inocentes dentro do ambiente em que eles conviveram por anos.
A explicação pode estar em um grupo de fatores como a necessidade de serem aceitos, ganharem notoriedade em fóruns secretos dos quais fariam parte, históricos de bullying e a falta de atenção dos responsáveis. Tudo isso aliado a uma vulnerabilidade genética.
A deep web, área da internet que exige métodos específicos para ser acessada e que é capaz de proporcionar certo grau de anonimato aos usuários, teria sido a principal fonte de informação para pelo menos um dos atiradores, Guilherme Taucci Monteiro.
Ele teria participado de fóruns onde outros anônimos não só apoiavam atos terroristas como também incentivavam seus participantes a sonharem com uma ‘morte gloriosa’. Prints de conversas do grupo, músicas compartilhadas e outros indícios foram divulgados depois da tragédia.
Guilherme, que segundo vizinhos e colegas de escola era “problemático e muito quieto”, tinha amigos virtuais nesses fóruns. A obsessão por games violentos e armas também foi lembrada por quem conhecia o adolescente.
O professor de Psiconeurobiologia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), Gérson Alves da Silva Junior, explica que jovens costumam buscar grupos com os mesmos interesses ou históricos de vida para se relacionar. “Provavelmente os outros integrantes desses fóruns tenham a mesma opinião que Guilherme”, disse durante entrevista ao TNH1.
A explicação física do comportamento dos atiradores, segundo o professor, pode estar no funcionamento deficiente de uma área pré-motora do cérebro, onde são criados os neurônios espelho. “Esse estímulo deve vir nos primeiros anos da criança e age diretamente na sensibilidade dela em relação aos outros”, observou Gérson Alves.
“Sem a empatia, a tendência é que durante o crescimento a criança ‘coisifique’ quem está ao seu redor. Nenhuma dor que não seja a sua ou problema social passa a afetá-la”, acrescentou.
Jogos violentos são perigosos, de fato?
Não só os jogos, como também imagens violentas e amigos agressivos podem estimular uma criança que não recebeu a atenção devida durante sua criação a se tornar um adolescente problemático, é o que afirma o professor. “Não estou com isso aconselhando as pessoas a proibirem jogos, mas é preciso estimular a afetuosidade e a sensibilidade de seus filhos”, esclarece.
“Lembrando que os pais não são os únicos responsáveis pela formação das crianças: a internet tornou-se uma segunda janela, onde elas também recebem informações cada vez mais cedo”, alerta.
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