A segurança pública no Equador se deteriora a passos largos Após quatro carros-bomba serem detonados, na quarta-feira, 29, duas pontes foram atacadas e novas explosões foram ouvidas em Quito. Fora da capital, o sistema prisional está à beira do colapso. Detentos fizeram 57 guardas e policiais reféns em rebeliões em seis penitenciárias - 44 haviam sido libertados nesta sexta-feira, 1º.
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O presidente, Guillermo Lasso, aponta o dedo para o narcotráfico, mas parece sem forças para retomar o controle das cadeias. Gangues equatorianas, que operam em aliança com organizações mexicanas e colombianas, desafiam o poder do Estado - dentro e fora das prisões.
A onda de violência recente é vista como uma tentativa de intimidar as autoridades e impedir intervenções para desarmar e isolar presos perigosos. Na quarta-feira, centenas de soldados e policiais realizaram uma operação de busca por armas, munições e explosivos em uma prisão na cidade de Latacunga, a 100 quilômetros de Quito. Foi a senha para que os criminosos começassem uma megarrebelião.
Carros-bomba
Horas depois, dois carros-bomba explodiram diante de prédios da agência responsável pelo sistema prisional do Equador, em Quito, e outros dois na Província de El Oro, perto da fronteira com o Peru - ninguém ficou ferido.
Ontem, uma explosão danificou a ponte que liga as cidades de Machala e El Guabo, em El Oro. A passagem foi fechada. A outra ponte atacada foi na Província de Napo, entre Archidona e Tena. Pabel Muñoz, prefeito da capital, disse que três granadas foram detonadas na madrugada em Quito.
O analista de segurança colombiano Hugo Acero explicou que os responsáveis pelos ataques operam segundo o manual dos narcotraficantes. "Uma cartilha velha, que faz referência à época de Pablo Escobar. Ações que buscam intimidar, criar terror, mostrar poder e exigir que não se toque nas estruturas criminais", disse. De acordo com Acero, a onda de ataques provoca pressão social sobre o governo justamente no momento em que se realizam as transferências de criminosos para outras prisões.
Massacres
Não é de hoje que as prisões equatorianas se tornaram centros de operações de gangues e palco de massacres que deixaram mais de 430 presos mortos desde 2021. Em julho, diante dos confrontos, Lasso decretou estado de exceção em todo o sistema penitenciário por 60 dias, o que permite a presença militar nas cadeias. "As medidas que tomamos, especialmente no sistema prisional, criaram reações violentas de organizações criminosas que procuram intimidar o Estado", afirmou Lasso.
Situado entre Colômbia e Peru, os maiores produtores de cocaína do mundo, era só uma questão de tempo para o Equador ser atropelado pela violência das máfias. Nos últimos anos, cartéis mexicanos e colombianos começaram a operar com mais liberdade no país, fazendo a taxa de homicídios chegar ao recorde de 26 assassinatos por 100 mil habitantes em 2022 - o dobro do ano anterior e superior às taxas de Colômbia, México e Brasil.
Segundo turno
Um desses assassinatos foi o do candidato presidencial Fernando Villavicencio, em 9 de agosto, em Quito. Ele prometia endurecer a repressão ao crime organizado. Morreu com um tiro na cabeça a duas semanas do primeiro turno. Seis suspeitos foram presos. Na quarta-feira, eles estavam entre os detentos transferidos, o que poder ser, segundo o governo, um dos desencadeadores da onda de atentados.
O futuro do Equador agora já não passa mais por Lasso, mas está nas mãos dos dois candidatos que disputam o segundo turno, dia 15 de outubro: Luisa González, aliada do ex-presidente Rafael Correa, que saiu das urnas em primeiro, com 33,6% dos votos; e o empresário Daniel Noboa, que teve 23,5%. (COM AGÊNCIAS INTERNACIONAIS)
As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
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