Para a surpresa de ninguém, num ano pandêmico em que aquilo que diferenciou filmes e séries muitas vezes foi só a duração, os votantes do Globo de Ouro também passaram 2020 assistindo à Netflix. É isso que levam a crer as 42 indicações ao prêmio para a plataforma de conteúdo criada por Reed Hastings, hoje principal entretenimento de milhões de pessoas.
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Curiosamente, contudo, suas séries mais vistas não foram lembradas, e outras, como "O Gambito da Rainha", não chegaram a acumular muitas indicações -duas, neste caso.
Na lista dos membros da Associação de Correspondentes Estrangeiros de Hollywood, que concede os prêmios no próximo dia 28, o gigante do streaming abocanhou 35% de todas as indicações sozinho -36% se considerarmos só TV, cuja lista é mais breve do que a dos prêmios Emmy.
Se a liderança é inequívoca no caso dos distribuidores, o mesmo não ocorre como as séries em si, nas quais há certa pulverização.
O drama histórico "The Crown", com sua quarta temporada na cola da rainha Elizabeth 2ª, foi a campeão de indicações, com seis. Pode, entretanto, levar no máximo quatro.
Além de melhor drama, categoria mais disputada, Olivia Colman (a rainha) e Emma Corrin (Diana) brigam pela estatueta de atriz dramática, e Helena Bonham Carter (princesa Margaret) e Gillian Anderson (Thatcher), pela de atriz coadjuvante. A chance é menor para Josh O'Connor, finalista entre os atores graças a seu Charles.
A maior concorrente é outra série veterana da Netflix, o drama criminal-familiar "Ozark" (a melhor série no ar segundo esta colunista), que pode ficar com os prêmios de drama, atriz (Laura Linney) e atriz coadjuvante (Julia Garner, arrebatadora). Jason Bateman também concorre a melhor ator, mas qualquer resultado diferente de Bob Odenkirk em "Better Call Saul" seria injusto (sim, mesmo Al Pacino, caricato na medonha "Hunters").
A competição na categoria é acirrada, porém. Inclui a incrível fantasia de terror racial "Lovecraft Country", cria de Jordan Peele para a HBO, além da divertida "The Mandalorian", spin-off da cinessaga "Star Wars" na recém-chegada Disney+, e "Ratched", viagem de terror de Ryan Murphy para a Netflix sobre uma enfermeira cruel. Sim, o terror está em alta e anda bem mais criativo que a comédia, talvez reflexo desses nossos tempos.
Sem sucessos inequívocos como "Fleabag" e "Maravilhosa Sra. Maisel", as estatuetas cômicas parecem já poder ser enviadas para o pessoal da canadense "Schitt's Creek", sobre o perene tema da família disfuncional obrigada a se readaptar, que sempre acerta quando o elenco é bom, como neste caso, e que levou uma bacia de troféus no Emmy. No Brasil, a comédia está na Amazon.
Das demais concorrentes, apenas "The Great", revisitação da história de Catarina da Rússia com Elle Fanning, pode fazer sombra a ela.
A pop "Emily em Paris" é bonitinha, e só, e "Ted Lasso", sobre um técnico de futebol vivido pelo ex-Saturday Night Live Jason Sudeikis na Apple TV, já foi longe demais ao chegar à lista. "The Flight Attendant", com Kaley Cuoco (a Penny the "Big Bang Theory"), cria expectativa, mas não causou estrondo -ainda não está disponível no Brasil.
Examinando atuações em comédias, parece difícil alguém tirar a taça da dupla de "Schitt's Creek", Catherine O'Hara e Eugene Levy, mas, vá lá, Cuoco é sempre um nome no páreo.
Neste ano, a categoria minissérie reuniu três dramas bastante pop - "Normal People", já adorada em sua versão livro; "O Gambito da Rainha", um sucesso de público; e "The Undoing", uma boa série cujo final foi execrado pela internet. Deve caber à mais hardcore "Nada Ortodoxa", no entanto, repetir suas conquistas do Emmy, com chance da indefectível Cate Blanchett ("Mrs. America") tirar o prêmio da protagonista Shira Haas.
E, para não faltar palpite polêmico, fica a torcida de melhor ator em minissérie para Hugh Grant, que com seu personagem dissimulado em "The Undoing" se mostrou, tardiamente, um grande intérprete.
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