Museu Nacional inaugura exposição sobre Antártida, a primeira após incêndio

Publicado em 16/01/2019, às 19h26
Imagem Museu Nacional inaugura exposição sobre Antártida, a primeira após incêndio

Por Júlia Barbon/Folhapress

O Museu Nacional inaugurou nesta quarta (16) sua primeira exposição após o incêndio que destruiu parte de seu acervo. Gratuita, ela tratará sobre a Antártida e ficará no Palacete da Casa da Moeda, no centro do Rio de Janeiro, prédio que foi a primeira sede do museu em 1818.

Das 160 peças em exibição, oito foram resgatadas sob os escombros do edifício nos últimos meses. Entre elas estão fragmentos de troncos de árvores fossilizados que ficaram cobertos por pedaços de metal, já que estavam dentro de um armário que derreteu com as chamas.

A exposição "Quando Nem Tudo Era Gelo - Novas Descobertas no Continente Antártico" estava planejada para acontecer em outubro do ano passado, em uma das salas do Museu Nacional. Em setembro, porém, a tragédia mudou os planos da equipe.

"Lembro de ter encontrado uma colega e ela ter me abraçado e dito: 'Vamos manter a exposição, ela tem que acontecer'", conta a curadora e paleontóloga Juliana Sayão, que liderou equipes de pesquisadores na Antártida durante três anos.

Logo em seguida, veio o convite da Casa de Moeda. Segundo Sayão, 99% do acervo a ser mostrado estava dentro do prédio e ainda não foi encontrado, por isso a equipe precisou repensar a exibição com itens que estavam em outros lugares -em um prédio anexo do museu, por exemplo.

Para o diretor do museu, Alexander Kellner, a realização da exposição pouco mais de quatro meses após o incêndio significa que a instituição "está viva". "O museu continua vivo, continua desempenhando a sua função, graças a um trabalho de equipe."

A mostra tem três eixos: como é a Antártida hoje, como é o dia a dia dos pesquisadores brasileiros ali e como era a Antártida de 90 milhões de anos atrás -um continente completamente diferente do atual, quente, tropical e com uma vasta fauna.

São exibidas as descobertas mais recentes de expedições realizadas de 2015 a 2018 por paleontólogos do museu no âmbito do projeto Paleoantar, que faz pesquisas de campo desde 2007 e é vinculado ao Programa Antártico Brasileiro.

Há a recriação de um iceberg, as ferramentas usadas pelos pesquisadores, um crânio da terceira menor baleia do mundo (a baleia minke antártica), fósseis de conchas, animais e plantas e um fragmento da asa de um pterossauro, uma das mais importantes descobertas na região que mostrou que eles também viveram ali.

A exposição vai durar quatro meses, até o dia 17 de maio. Segundo o diretor do Museu Nacional, a intenção é buscar patrocínios para levá-la a outros locais.

O RESGATE DO MUSEU

Mais de 1.500 itens foram achados sob os escombros do prédio até dezembro, incluindo peças das coleções, equipamentos, objetos pessoais e fragmentos arquitetônicos. Ainda não há, no entanto, um número oficial e a lista exata do que foi encontrado.

O acervo do museu tinha no total mais de 20 milhões de peças, incluindo o que não foi atingido pelo incêndio. As coleções de invertebrados, vertebrados e de botânica, por exemplo, estavam armazenadas em prédios anexos.

Entre os itens achados já identificados estão minerais e peças de arqueologia e etnologia (que estuda povos e culturas), como as bonecas Karajá, cerâmicas feitas por mulheres indígenas no início do século 20 e consideradas patrimônio imaterial brasileiro.

Em outubro, foram encontrados o crânio e uma parte do fêmur de Luzia -o esqueleto humano mais antigo descoberto na América. Esses materiais foram recolhidos durante o processo de remoção de entulhos e estabilização da estrutura do museu, que se iniciou há mais de três meses e deve terminar em março.

Eles estão sendo armazenados em contêineres instalados ao lado do Museu Nacional, que têm um sistema de exaustão e garantem que as peças fiquem estáveis, evitando que a temperatura suba demais, apesar de não terem ar condicionado.

Outros contêineres também são usados como laboratório, para conservar, organizar e documentar o material encontrado. Toda peça ganha um número e a sua identificação, e depois vai sendo detalhada com as análises.

O trabalho de resgate vem sendo feito por uma equipe com dez pesquisadores coordenadores, 47 servidores e colaboradores. Eles tentam recuperar parte das coleções de antropologia, etnografia, paleontologia, geologia, entomologia, aracnologia e malacologia que estavam no interior do palácio.

As obras emergenciais ainda estão em andamento, incluindo etapas como escoramento das lajes, retirada das estruturas metálicas, cobertura provisória e remoção de escombros com a ajuda dos pesquisadores.

No total, o Museu Nacional tem em caixa neste ano aproximadamente R$ 85 milhões. Desse valor, R$ 15 milhões foram disponibilizados pelo Ministério da Educação para essas obras emergenciais e para a elaboração de um novo projeto museológico.

Outros R$ 56 milhões vêm do Orçamento da União para 2019, aprovado pelo Congresso Nacional em dezembro. Essa quantia deve ser usada para reconstruir a infraestrutura básica do edifício, com paredes e teto definitivo.

Mais R$ 10 milhões do Ministério da Ciência e Tecnologia também serão aplicados na reconstrução do prédio e na compra de equipamentos para laboratórios da instituição. E R$ 2,5 milhões para retomar pesquisas interrompidas virão da Capes, órgão vinculado ao MEC para expansão da pós-graduação no país.

O restante é proveniente de doações do governo da Alemanha, da empresa Vale e de campanhas pelo museu. Neste ano, segundo Kellner, serão três as prioridades: a recuperação do palácio, em seguida o resgate e recomposição do acervo e, por último, o fomento à pesquisa.

Desde o mês passado, os visitantes que não conseguiram ir ao Museu Nacional antes do incêndio podem circular virtualmente por suas principais salas e coleções em uma visita online guiada com imagens capturadas pela plataforma Google Street View antes da tragédia.

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