Publicitária, blogueira e escritora, a mineira Cris Guerra é também a mãe orgulhosa de Francisco, um saudável menino de oito anos de idade. Mas sua história de vida é cheia de altos e baixos.
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Após sofrer dois abortos espontâneos, ela finalmente engravidou — mas viu o pai da criança morrer subitamente após um ataque cardíaco ainda durante a gestação, e teve que se adaptar a um novo estilo de vida para dar conta de criar o pequeno por conta própria.
Depois de ter se separado de seu primeiro marido — do qual havia engravidado duas vezes, mas sem conseguir dar à luz — Cris se apaixonou por um colega de trabalho.
Frustrada pelos abortos, ela conta que já havia desistido de ter filhos e estava tomando pílulas anticoncepcionais quando começou a namorar o futuro pai de seu filho.
No entanto, depois de um ano juntos, ambos resolveram dar um tempo na relação. Mas o distanciamento não durou muito tempo, e, semanas depois de voltarem a se encontrar, Cris descobriu que estava grávida.
— Eu já tinha tirado isso da cabeça, achava que ser mãe não era pra mim. Mas quando eu mergulhei em um relacionamento em um momento de sofrimento, questionando a relação, eu desfoquei disso. Quando descobri que estava grávida, fiquei muito feliz, com uma sensação de “nossa, será que vai ser agora?”
Mesmo com a alegria de saber que esperava um filho, Cris conta que também tinha medo de perder mais um bebê. Por conta disso, quando estava nos primeiros meses de gestação, ela chegou a proibir seu companheiro de anunciar a novidade e dividir a alegria de ser pai com os amigos.
— Tive muito medo no começo. Me lembro que, na minha festa de 36 anos, eu estava com três meses de gravidez e os convidados ainda não sabiam. De tanto medo de perder mais um bebê, eu nem dançava. Só mexia o corpo.
Passados os três primeiros meses de gravidez, Cris finalmente se deu conta de que realmente seria mãe. Mas ela não sabia que a vida ainda reservava mais uma surpresa para a publicitária mineira.
— Um dia, com seis ou sete meses de grávida, eu mandei um e-mail de bom-dia e ele não me respondeu. O companheiro de Cris e pai de Francisco morreu, aos 38 anos, vítima de uma parada cardíaca súbita, deixando Cris sozinha para encarar as últimas semanas de gravidez.
— Eu estava tão focada no menino que não podia pensar que podia perder o pai dele. Mas o que eu podia fazer? Nada.
Ainda abalada pela morte do namorado, Cris resolveu abrir um blog na internet e escrever sobre o pai do seu filho — que ele nunca teria a oportunidade de conhecer. Foi assim que, em 2007, ela começou a alimentar o “Para Francisco”.
— Eu colocava o Francisco para dormir às 23h e já ia escrever no blog. Me conectei às lembranças do pai dele enquanto ainda estavam frescas. Eu falava de amor, de morte e de perda. Acho que foi isso que fez as pessoas se identificarem com as histórias.
O peso da rotina de trabalhadora assalariada era um dos fatores que mais incomodavam a publicitária, que, apesar de contar com a ajuda de amigos, parentes e de uma babá para cuidar de Francisco, ainda tinha “um sentimento de muita solidão”.
— Eu tinha pessoas do meu lado mas existia uma dor muito grande, as coisas não estavam sendo como a gente tinha planejado. Eu e meu companheiro esperávamos muito por esse momento. Acho que a solidão, junto do sentimento de não poder dividir as alegrias do crescimento do filho com meu companheiro, me deixava triste. E essa frustração nunca vai passar, a gente tem que aprender a conviver com ela.
Quando Francisco estava com três anos de idade, Cris largou seu emprego fixo e passou a trabalhar como autônoma — o que permitiu que ela passasse mais tempo com seu filho. Assim, ela conta que conseguiu organizar seus horários para estar presente com ele em momentos importantes, como no Dia das Mães.
Com o sucesso do blog Para Francisco, que virou livro em 2008 e teve seus direitos comprados por uma produtora de filmes em 2009, Cris passou a dar palestras sobre sua história de vida.
Apesar de viajar com frequência, Cris acredita que a distância do filho não foi um grande problema para Francisco, e que o menino se tornou “um cara bem humorado”.
— A gente tem uma cumplicidade muito grande. Somos uma família de 2. Tem uma amizade entre nós que é muito legal. A gente construiu uma forma de contar com humor a nossa história.
— Eu sinto que o Francisco não é um garoto incompleto. Claro que a falta do pai vai fazer falta em alguns aspectos, não dá para compensar isso.
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