Brasil

Morre o ex-ministro Delfim Netto, aos 96 anos, em São Paulo

UOL | 12/08/24 - 08h24
Antônio Delfim Netto foi também parlamentar | Foto: Reprodução

Morreu na madrugada de hoje (12) o ex-ministro da Fazenda, da Agricultura e do Planejamento Antônio Delfim Netto, aos 96 anos. Ele estava internado desde o último dia 5 no Hospital Israelita Albert Einstein, em São Paulo. A assessoria de Delfim não informou a causa da morte. Em nota, diz que ele morreu "em decorrências de complicações no seu quadro de saúde". Delfim Netto deixa filha e neto. Não haverá velório aberto, e seu enterro será restrito à família.

Delfim ficou marcado também por ter sido um dos signatários do Ato Institucional Nº 5 (AI-5), de dezembro de 1968, que endureceu o regime militar e permitiu a perseguição a rivais políticos do governo. Após o fim do regime ditatorial no Brasil, Delfim foi deputado federal por São Paulo por 20 anos.

Também manteve relação próxima com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, embora tenha sido filiado ao Partido Progressista (PP) e ao Movimento Democrático Brasileiro (MDB) —à época, PMDB. Na década de 1970, foi embaixador do Brasil na França por três anos.

Ditadura militar - A ascensão política de Delfim ocorreu após assumir, em 1966, a Secretaria da Fazenda em São Paulo, durante a gestão do governador Laudo Natel. Então, em 1967, deixou o cargo para tornar-se ministro da Fazenda no mandato do general Artur da Costa e Silva.

Como ministro da Fazenda, foi o nome do "milagre econômico", em que a facilidade de empréstimos impulsionou o consumo e a produção de bens duráveis em território nacional, especialmente eletrodomésticos e automóveis. As medidas fizeram a economia brasileira crescer cerca de 11% ao ano, mas o período também ficou marcado pelo aumento da concentração de renda no Brasil.

Delfim é o autor da célebre frase de que é preciso "fazer o bolo crescer, para depois dividi-lo", defendendo que primeiro era necessário impulsionar o PIB para depois dividir a riqueza entre a população. Esta última etapa não aconteceu.

Permaneceu como ministro da Fazenda durante o mandato de Emílio Médici, e deixou o cargo na gestão de Ernesto Geisel para ser embaixador do Brasil na França, entre 1974 e 1978.

Quando retornou ao Brasil, o período de grande crescimento econômico e inflação baixa já tinha perdido o fôlego, e ele assumiu o Ministério da Agricultura por cinco meses, seguido do Ministério da Secretaria do Planejamento da Presidência do Brasil em condições econômicas menos favoráveis. Nessa última passagem, contribuiu para a negociação da dívida externa elevada com os credores estrangeiros e com o Fundo Monetário Internacional (FMI), com quem conseguiu empréstimo de US$ 6,5 bilhões.

Após o período militar, Delfim se tornou deputado federal por São Paulo, cargo que exerceu por 20 anos, entre 1987 e 2007. Aproximou-se de Lula no segundo mandato do petista na Presidência da República. Em 2007, Delfim foi nomeado por Lula como membro do CDESS (Conselho de Desenvolvimento Econômico Social Sustentável), o "Conselhão".

Professor e acadêmico - A vida pública de Delfim começou em 1959, quando passou a integrar a equipe de planejamento do governo do estado de São Paulo, à época comandado por Carlos Alberto de Carvalho Pinto. Mas antes de se tornar um dos principais ministros da Ditadura Militar, ingressou na Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas da Universidade de São Paulo (USP) em 1948, e logo depois de formado tornou-se professor assistente na mesma instituição.

Também foi Professor Emérito da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade de São Paulo (FEA-USP). Tornou-se professor catedrático da USP em 1963 - cargo mais alto em uma carreira docente universitária -, e foi o primeiro ex-aluno da faculdade após a regulamentação da profissão de economista a conquistar o cargo.

Como contribuição acadêmica, desenvolveu pesquisas voltadas ao planejamento governamental e teoria do desenvolvimento econômico. Segundo a USP, Delfim defendia ideias da teoria neoclássica e era keynesianista no plano macroeconômico.

Investigações e Lava Jato - O economista foi acusado por procuradores da República de receber propina durante a construção da usina hidrelétrica de Belo Monte, no Pará, depois de ter seu nome citado em delação premiada durante a Operação Lava Jato.

Como parte das investigações na Operação Buona Fortuna, Delfim teve R$ 4,4 milhões bloqueados pelo Ministério Público Federal em 2018, para devolver parte da propina total de R$ 15 milhões que teria sido destinada a Delfim nas obras da usina de Belo Monte, no Pará.

Delfim afirma que os milhões recebidos durante a construção da usina foram em consultoria para a criação do consórcio que venceu o leilão da usina.